Folha de S.Paulo

Médicos apontam aumento nos casos de câncer uterino

Doença afeta mais as mulheres negras; sintomas incluem sangrament­o

- Roni Caryn Rabin Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

tHE nEW yORK tImES Linda Collins estava na menopausa fazia quase uma década quando começou a sangrar novamente. O sangrament­o era leve —manchas ocasionais, na verdade—, e ela quase não pensou muito nisso.

Quando finalmente foi fazer um exame geral, seu médico se recusou a deixá-la sair até que ela passasse por uma biópsia. Em poucos dias, Collins descobriu que tinha câncer no útero, de uma forma especialme­nte agressiva.

“Eu não sentia dor, nenhum outro sintoma”, disse Collins, 64, uma aposentada que vive em Nova York.

O câncer do útero, chamado de câncer de endométrio, está aumentando tão rapidament­e que, segundo estimativa­s, até 2040 deverá substituir o câncer colorretal como terceiro tipo de câncer mais comum entre as mulheres e a quarta principal causa de mortes por câncer em mulheres.

A taxa de mortalidad­e vem aumentando quase 2% ao ano em geral, com picos ainda mais acentuados entre mulheres asiáticas, hispânicas e negras, de acordo com um estudo recente publicado na revista JAMA Oncology. Apesar do aumento, não há muita atenção para a doença.

As taxas gerais de sobrevida são altas quando o câncer uterino é detectado precocemen­te, mas poucas mulheres estão cientes de que uma mudança no sangrament­o menstrual, antes ou após a menopausa, é um dos principais sinais de alerta, juntamente com dor pélvica ao urinar ou nas relações sexuais.

Acreditava-se que o câncer uterino fosse menos comum entre as mulheres negras. Estudos mais recentes confirmara­m que não apenas é mais provável que atinja mulheres negras, como também mais provável que seja mortal.

Duas vezes mais mulheres negras morrem de câncer uterino que mulheres brancas, segundo um relatório divulgado em março por um grupo de especialis­tas convocado pelo Colégio Americano de Obstetras e Ginecologi­stas.

A diferença é uma das maiores disparidad­es raciais observadas em qualquer câncer, segundo o relatório. As mulheres negras também são mais propensas a desenvolve­r uma forma de câncer uterino chamada de não endometrio­ide, que é mais agressiva.

O câncer uterino é detectado com maior frequência em mulheres jovens em idade fértil, bem como em mulheres que não têm nenhum dos fatores de risco conhecidos, como obesidade, infertilid­ade e nunca ter engravidad­o, diz Shannon Westin, oncologist­a ginecológi­ca do Centro de Câncer MD Anderson da Universida­de do Texas.

Quando começou a cuidar de mulheres com câncer uterino, diz ela, havia cerca de 39 mil novos casos por ano. Agorasão mais de 65 mil—e ela exerce a profissão há 15 anos.

Carol Brown, oncologist­a ginecológi­ca no Centro de Câncer Memorial Sloan Kettering, em Nova York, chama o aumento de casos de epidemia.

“Aestatísti­caimp ressio nanteéqu eh ojeonúm erode mulheres que perderão avida por câncer de endométrio nos Estados Unido sé quase o mesmo das que morrerão de câncer de ovário, oqueé inacreditá­vel para nós na profissão nos últimos 30 anos.”

O estudo da JAMA Oncology analisou as tendências raciais no câncer uterino enquanto corrigia as taxas de histerecto­mia. Isso é importante porque as mulheres negras têm uma taxa mais alta de histerecto­mias, disse Megan Clarke, a principal autora.

“Ao fazer a correção das taxas de histerecto­mia, estamos mais confiantes —o aumento é real”, disse Clarke.

As mulheres negras representa­ram pouco menos de 10% dos 208.587 casos de câncer uterino diagnostic­ados nos EUA entre 2000 e 2017, mas constituía­m quase 18% das 16.797 mortes pela doença durante esse período.

A taxa de mortalidad­e por câncer uterino em mulheres negras é de 31,4 por 100 mil mulheres com 40 anos ou mais, em comparação com 15,2 por 100 mil para mulheres brancas na mesma faixa etária. Entre mulheres asiático-americanas, a taxa foi de 9 por 100 mile para hispano americanas ,12,3 por 100 mil.

Isso torna o câncer uterino uma exceção, já que houve progresso na redução da diferença racial nas taxas de mortalidad­e da maioria dos cânceres nas últimas duas décadas.

Outro relatório do Instituto Nacional do Câncer, publicado na JAMA Oncology em maio, revelou que, em geral, as taxas de mortalidad­e por câncer diminuíram constantem­ente entre os americanos negros entre 1999 e 2019, embora continuem sendo mais altas que as de outros grupos raciais e étnicos.

As razões para o aumento dos casos de câncer uterino não são bem compreendi­das. Aforma mais comum, o câncer endometrio­ide, está ass oc ia daà exposição ao estrogênio, queémaiorq­u ando a obesidade está presente, e as taxas de obesidade têm aumentado nos EUA.

Mas o câncer não-endometrio­ide também aumentou em prevalênci­a e não está relacionad­o ao excesso de peso. O estudo de Clarke descobriu que as mulheres negras são mais propensa sate ressa forma agressiva de câncer uterino. Elas são menos propensas a ser diagnostic­adas no início da doença, e suas taxas de sobrevivên­cia são piores, não importa quando são diagnostic­adas e qual subtipo de câncer elas têm.

“Em cada estágio do diagnóstic­o há resultados diferentes”, diz Karen Knudsen, CEO da Sociedade Americana do Câncer. “Elas estão tendo acesso à mesma qualidade de tratamento?” A doutora pediu mais pesquisas sobre os fatores que impulsiona­m as tendências.

O painel de especialis­tas convocado pelo Colégio Americano de Obstetras e Ginecologi­stas encontrou disparidad­es raciais e étnicas no atendiment­o às mulheres negras e hispânicas com câncer uterino. Elas eram menos propensas que as mulheres brancas asesubm eter emà histerecto­mia, menos propensas ater seus gânglios linfáticos biopsiados para ver se o câncer havia se espalhado e menos propensas a receber quimiotera­pia, mesmo para um câncer mais ameaçador.

Kemi Doll, oncologist­a ginecológi­ca da Escola de Medicina da Universida­de de Washington em Seattle, vem pesquisand­o há anos por que tantas mulheres negras morrem de câncer de endométrio.

Ela descobriu que as ultrassono­grafias quem edema espessura da pare deuterina são menos precisas quando as pacientes têm o tipo não endometrio­ide de câncer uterino, mais letal equeém ais comum entre as mulheres negras.

Os exames são menos eficazes quando as mulheres têm miomas uterinos, que obscurecem a visão do aparelho de imagem. Isso pode explicar por que as mulheres negras, muitas das quais sofrem de miomas uterinos, são mais frequentem­ente diagnostic­adas mais tarde no processo da doença, disse Doll.

“A estatístic­a impression­ante é que hoje o número de mulheres que perderão avida por câncer de endométrio nos Estados Unidos é quase o mesmo das que morrerão de câncer de ovário Carol Brown médica

 ?? Michelle V. Agins - 22.mai.22/The New York Times ?? Linda Collins foi diagnostic­ada com um tipo de câncer uterino especialme­nte agressivo
Michelle V. Agins - 22.mai.22/The New York Times Linda Collins foi diagnostic­ada com um tipo de câncer uterino especialme­nte agressivo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil