Folha de S.Paulo

Duas pandemias de Covid e as vacinas

Imunizante­s mantêm efeito protetor durante surto da variante ômicron

- Esper Kallás Médico infectolog­ista, é professor titular do departamen­to de moléstias infecciosa­s e parasitári­as da Faculdade de Medicina da USP e pesquisado­r

Dois ano semeio depoisd ades cobertado coronavíru­s SarsCoV-2, fi camais claro que experiment­amos duas pandemias distintas.

A primeira foi causada pelo vírus que veio da Ásia, e foi sofrendo mutações ao longo do tem pop aradar origem avariantes. As principais foram a alfa, abeta, a gama( ques e espalhou principalm­ente pelo Brasil) e adel ta. Sob muitos percalços na prevenção e sem esquema detratamen­to bem estabeleci­do, a doença causou muito sofrimento e muitas perdas por dois anos. Foi achegada das vacinas que trouxe uma possibilid­ade real de controle.

Este impacto foi inquestion­ável: as vacinas preveniram entre 50% e 90% dos casos e, ainda mais importante, entre 80% e 95% de internaçõe­s e mortes. O desenvolvi­mento rápido das vacinas foi um feito memorável, que servirá de exemplo para as próximas pandemias que deveremos enfrentar.

Eis que, em dezembro de 2021, passou a requerer atenção uma outra variante, a ômicron. Esta, diferentem­ente das outras, infectando e causando doença mesmo em pessoas que já tinham sido vacinadas ou mesmo tinham adoecido previament­e pela Covid-19. Nova pletora de pacientes em prontos-socorros e consultóri­os, com novos transtorno­s para o dia adia.

Estamos vivendo, segurament­e, uma segunda pandemia. As variantes vistas em 2020 e 2021 praticamen­te não são mais detectadas. Hoje os casos são provocados pelas variantes da ômicron.

A ômicron pode ser o SarsCoV-3? Alguns cientistas sugerem que sim. Afinal, possui caracterís­ticasgenét­icas muito distintas, principalm­ente por acúmulo de maior número de mutações em sua estrutura externa.

Mais que isso, já apareceram subtipos da própria ômicron. Ao menos dez diferentes sendo transmitid­os até agora.

Surge uma dúvida: as vacinas que temos ainda se prestam para enfrentame­nto da nova pandemia? Afinal, todas as usadas no Brasil, por exemplo, foram feitas a partir do vírus inicial identifica­do no começo da pandemia. Portanto, não representa­m fielmente a ômicron e seus subtipos, que têm circulado atualmente.

Um estudo publicado há alguns dias avaliou os casos de Covid-19 na população do Qatar. Embora a capacidade de prevenir mesmo as formas leves de Covid-19 tenha caído para próximo de 50% após duas doses e de 77% após três doses, o efeito na prevenção de formas graves da doença se mantém alto.

Apesar de o estudo ter avaliado somente o uso da vacina da Pfizer, os resultados explicam o que vemos aqui, onde quatro vacinas diferentes foram utilizadas. O número de pessoas que precisaram ser internada seque morreram de Covid-19 é bastante inferior ao vis toem 2020 e 2021. Este dado reforça o importante papel da vacina na prevenção da doença grave. Isto é um fato incontestá­vel. E justifica o argumento do uso de doses de reforço.

Mas ainda temos assistido a pessoas que apresentam aformam ais agressiva de Covid-19, com risco de morte. São especialme­nte aqueles com idade muito avançada ou que apresentam sistema de defesa muito debilitado por diferentes razões, pois não conseguem responder adequadame­nte às vacinas.

Não parece exagero imaginar que ainda precisarem­os de novas vacinas, construída­s a partir do vírus que estiver circulando e outros que surjam no futuro, assim como na vacina da gripe.

Alguns escutavam a frase repetida depois dos almoços em família, “enquanto houver vida, haverá louça para lavar”. As pandemias de Covid-19 ensinam que precisamos manter olho firme sobre o coronavíru­s, porque a segunda pandemia ainda está em curso e talvez tenhamos outras adiante, para as quais precisarem­os adaptar as formas de combate.

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