Globo ainda não parece ter um sucessor para William Bonner
Mesmo após William Bonner desmentir, por meio de nota enviada a esta colunista, as especulações sobre uma possível saída da bancada do Jornal Nacional ou da própria Globo, o assunto não cessou. Já estaria ele a preparar sua saída da cadeira que ocupou ao longo de 26 anos?
“Não sei quem inventa esses boatos de que eu pretenderia sair da Globo, mas a intenção é óbvia —ganhar dinheiro ao levar pessoas a clicar no link enganoso”, justificou o âncora do Jornal Nacional.
Segundo Bonner, seus “planos profissionais estão todos concentrados no Jornal Nacional e em projetos do jornalismo da Globo”. “Me sinto com energia e disposição para seguir por muito tempo no desempenho de um trabalho que considero de enorme relevância para o nosso país.”
A reação desmente também que ele estaria cansado, e por isso planejando reduzir o ritmo que exerce hoje, como âncora e editor-chefe do noticiário de maior alcance do país.
Como bem diz o jornalista, uma indústria de cliques se desperta ao menor sinal de movimentação sua. A motivação vem, evidentemente, da força de sua imagem e do fato de ele não contar ainda com um sucessor que inspire a confiança que o público deposita nele, ao mesmo tempo em que tantos profissionais estão deixando a Globo.
Quando se levanta a questão sobre uma possível saída de Bonner do JN em curto ou médio prazo, a dúvida é quem, afinal, ocupará esse posto.
A figura mais apta para ancorar aquele cenário é alguém que já está ali —Renata Vasconcellos, ainda que não tenha o perfil de editora-chefe, função acumulada por ele, seria a persona mais próxima de comandar a nave, sem gerar grandes impactos na percepção de anunciantes e público.
Quando Bonner passou a ocupar a cadeira de apresentador doJN em 1996, ao lado de Lillian Witte Fibe, em substituição a Cid Moreira e Sérgio Chapelin, Bonner também foi posto à prova por plateia e anunciantes. À época, a saída de Cid Moreira da bancada, iniciativa sustentada pelo então diretor de jornalismo Evandro Carlos de Andrade, foi um choque. O locutor estava ali fazia 27 anos, desde a estreia do noticiário, mesma temporada que Bonner completará em 2023.
A ideia era trocar locutores por jornalistas na apresentação, passando a contar com profissionais que tivessem pleno domínio sobre o conteúdo. Faltava a Moreira e Chapelin a expertise de conduzir entrevistas ou conversas ao vivo, longe do teleprompter.
Hoje, diante da chance de Bonner sair, no entanto, apesar do largo rodízio já experimentado no JN, a sucessão não aponta claramente para um substituto à altura, capaz de conjugar o carisma e a segurança que ele soma na apresentação, sem falar na credibilidade da voz do âncora.
Mas, supondo que a Globo já traçasse desde já a saída dele, como se especulou, seria improvável pensar em anunciar tal decisão em pleno ano de eleições. Não seria esta uma boa hora para antecipar o assunto sobre uma troca de âncora do JN, uma das figuras mais estáveis deste país no imaginário, e por isso tão temida pelos aspirantes ao poder em cada sabatina por ele encabeçada naquela bancada.
Nem a Globo teria intenção de prever neste momento a suposta despedida dele, especulada para o fim de 2023, nem Bonner se mostra exausto pela missão, como ele já disse.
Tem razão, o marido de Natasha Dantas, em se incomodar por ver seu nome como isca para os caça-cliques de vários sites na internet, mas conspira a favor dessa bolsa de apostas também o cenário de transformações no quadro de estrelas da Globo — ainda que os jornalistas procurem fugir dessa classificação, própria do entretenimento, é assim que o público os vê.