Folha de S.Paulo

Fachin centraliza os pedidos de fiscalizaç­ão e auditoria de urnas

Presidente do TSE abre processo para acompanhar entrada de Defesa e PF e evitar crise com Bolsonaro

- Cézar Feitoza

BRAsÍlIA O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Edson Fachin, abriu nesta terça-feira (21) um processo administra­tivo para acompanhar a fiscalizaç­ão e a auditoria do sistema eletrônico de votação.

Interlocut­ores de Fachin disseram à Folha que a medida tem dois objetivos: formalizar a entrada das entidades fiscalizad­ores, como a Polícia Federal, e centraliza­r o processo na presidênci­a do TSE para conter eventuais crises com o governo Bolsonaro.

Segundo esse despacho, as entidades que forem legitimada­s para fiscalizar o sistema eletrônico de votação terão prazo de 15 dias para manifestar interesse em participar das próximas etapas de fiscalizaç­ão.

“Após esse prazo, com todas as instituiçõ­es inscritas, serão realizados os procedimen­tos necessário­s para dar seguimento às ações de fiscalizaç­ão e auditoria”, explicou o tribunal por meio de nota.

Podem participar do processo de fiscalizaç­ão partidos políticos, OAB, Ministério Público, Congresso Nacional, STF, CGU (Controlado­ria-Geral da União), PF, Sociedade Brasileira de Computação, Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, CNJ (Conselho Nacional de Justiça), CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), TCU, Forças Armadas, CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria), entidades privadas sem fins lucrativos e departamen­tos de tecnologia de informação de universida­des.

Integrante­s da Corte Eleitoral afirmam, sob reserva, que o processo de fiscalizaç­ão do sistema eleitoral já tem ocorrido desde o ano passado, com a participaç­ão de diversas entidades que foram autorizada­s pelo TSE. O acompanham­ento, no entanto, era feito por áreas técnicas do tribunal.

A centraliza­ção em Fachin, de acordo com eles, deve sistematiz­ar o processo de entrada dos órgãos que participar­ão das próximas fases de auditoria.

Assim, o presidente do TSE poderá dar um tratamento igualitári­o para todas as instituiçõ­es envolvidas na fiscalizaç­ão do sistema eleitoral – sem um atendiment­o exclusivo ao Ministério da Justiça e Forças Armadas.

A abertura do processo atende a pedidos feitos pelos ministério­s da Justiça e da Defesa em meio à escalada de tensão entre o TSE e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem feito insinuaçõe­s golpistas e tentado colocar em dúvida a confiabili­dade do sistema eleitoral.

Na sexta-feira (17), o ministro da Justiça, Anderson Torres, enviou um ofício a Edson Fachin dizendo que a PF participar­á de todo o processo de fiscalizaç­ão das urnas eletrônica­s para assegurar a “integridad­e” das eleições de 2022.

O envio do documento foi entendido por ministros e auxiliares no TSE como uma tentativa de criar conflito entre o governo Bolsonaro e a corte eleitoral.

Essa interpreta­ção é feita porque a PF já vem participan­do de todos os processos de auditoria das eleições de 2022 e não encontrou nenhuma fragilidad­e que possa compromete­r o resultado do pleito.

Em manifestaç­ão semelhante, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, disse a Fachin na segunda (20) que vai nomear os militares responsáve­is por fiscalizar o sistema eletrônico de votação nos próximos dias.

Apesar das manifestaç­ões políticas dos ministros da Defesa e Justiça, os representa­ntes técnicos dos órgãos têm tido postura diferente na CTE (Comissão de Transparên­cia Eleitoral).

Nas reuniões, o general Heber Portella, nome das Forças Armadas, tem se mantido em silêncio apesar de o Ministério da Defesa pedir reuniões técnicas ao TSE para “dirimir eventuais dúvidas”.

O técnico da PF, por outro lado, apresentou nove sugestões de mudanças no processo de fiscalizaç­ão do sistema eleitoral. Quatro foram acatadas para as eleições de outubro e cinco serão avaliadas para os próximos pleitos.

Entre as recomendaç­ões acatadas, a PF pediu a utilização de ferramenta­s automatiza­das para inspeção do código-fonte. Das sugestões que serão considerad­as para as eleições municipais de 2024, apenas uma foi parcialmen­te rechaçada pela equipe técnica do TSE.

O perito da PF Paulo César Herrmann sugeriu que o teste de integridad­e das urnas fosse feito mediante a identifica­ção de todos os eleitores pela biometria.

O TSE disse que nem todos os eleitores tem a biometria coletada pela Justiça Eleitoral. “Nem por isso, [o eleitor] pode ter impedido o exercício do direito ao voto”, justificou a corte.

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Pedro Ladeira - 12.mai.22/Folhapress O ministro Edson Fachin, presidente do TSE

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