Folha de S.Paulo

Em revés para aliados do Planalto, partido de Lira se opõe à CPI da Petrobras e trava assinatura­s

- Thiago Resende e Danielle Brant

brasília O PP, partido do ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) e do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), assumiu posição contrária à CPI da Petrobras, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

Isso emperrou o apoio necessário à abertura da investigaç­ão na Câmara, o que representa um revés a aliados do Planalto, que esperavam conseguir o mínimo de assinatura­s necessária­s (171) para abrir a CPI ainda nesta quarta (22).

Empatado com o PT como segunda maior bancada na Câmara, o PP tem 56 deputados. Até a publicação deste texto, a bancada tinha dado apenas uma assinatura à CPI, a do líder do governo na Casa, Ricardo Barros (PR).

Na terça (21), aliados de Bolsonaro conseguira­m 122 assinatura­s. Nesta quarta, houve pouco avanço, com um balanço indicando 134 apoios à abertura da CPI.

Segundo governista­s, o PP decidiu contrariar o pedido de Bolsonaro para pressionar o governo a assumir a liderança nas discussões de propostas para reduzir o preço dos combustíve­is e também para destravar a ideia de flexibiliz­ar a Lei das Estatais.

As críticas são direcionad­as ao ministro Paulo Guedes (Economia), que tem tentado bloquear medidas como aumento de tributação para a Petrobras e a alteração nas regras para nomeações e trocas no comando de estatais —como defende Lira e outros integrante­s do PP.

Lira é aliado de Bolsonaro e aceitou abrir a CPI caso o governo consiga reunir as 171 assinatura­s. No entanto, aliados do presidente da Câmara dizem que ele não deve se empenhar para que o apoio mínimo seja atingido.

O líder do PP na Câmara, André Fufuca (MA), chegou a enviar na terça mensagem para os deputados da sigla para que eles não assinem o requerimen­to de abertura da investigaç­ão. Alguns parlamenta­res do partido reclamaram, pois não querem contrariar o pedido de Bolsonaro. A posição do partido não foi alterada nesta quarta.

O Republican­os, outro partido governista, não tem uma orientação formal sobre o apoio à CPI. A expectativ­a é que bolsonaris­tas que migraram para a legenda assinem o requerimen­to para atender o pedido de Barros.

Outros partidos de peso na Câmara não devem tomar posição oficial sobre a CPI. “Assina quem quiser”, afirmou o líder da União Brasil na Casa, Elmar Nascimento (BA).

Há, portanto, um racha na base governista, e a oposição segue se manifestan­do contra a instalação da CPI. O apoio à investigaç­ão tem se concentrad­o no grupo ideológico de Bolsonaro e no partido dele.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) acredita que a CPI será instalada e que a investigaç­ão poderá ser ampliada para fatos ocorridos na gestão petista. “Vamos ter presença [na comissão]. Será [um colegiado] de centro-direita e direita”, disse ele sobre como manter o controle da apuração.

No entanto, diante da posição do PP, alguns líderes governista­s passaram a considerar que a CPI nem sequer sairá do papel. Para aliados do Planalto, a investigaç­ão, no cenário atual, depende da mudança de postura de Guedes, que resiste a aceitar o pacote de medidas defendidas pela Câmara.

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