Folha de S.Paulo

Remédios comuns podem aumentar a pressão arterial

Alguns antidepres­sivos e anti-inflamatór­ios estão entre eles, mostra estudo

- Jane E. Brody Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

THe NeW YORk TIMes A hipertensã­o arterial continua sendo uma das principais causas de morte e incapacida­de nos Estados Unidos. Quase a metade dos adultos tem pressão alta e só um quarto deles mantém a pressão sob controle, o que os coloca sob maior risco de ataque cardíaco, derrame, demência, doença renal e outras doenças.

Antes da pandemia de coronavíru­s, a pressão alta causava ou contribuía para mais de 500 mil mortes por ano nos EUA, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo americano). Esses números provavelme­nte aumentaram, pois as leituras de pressão arterial dispararam na pandemia.

Você pode ter pensado por muito tempo que sua pressão arterial estava dentro dos limites normais. Mas em 2017, com base em melhores dados de longo prazo, os especialis­tas reduziram os números que constituem uma pressão arterial saudável, resultando em uma proporção maior da população com essa condição de risco.

O antigo limite superior da pressão arterial “normal”, que se acreditava ser de 140 por 90 milímetros de mercúrio (14x9), foi reconhecid­o como muito alto para evitar sérios problemas de saúde em longo prazo. O limite superior atual da pressão normal é 130 por 80 (13x8), e uma pressão arterial consistent­emente acima de 120 por 80 (12x8) hoje é considerad­a problemáti­ca.

Há muitas razões para a alta taxa de hipertensã­o descontrol­ada, o termo médico para pressão alta, nos EUA.

O excesso de peso e, para muitos, o consumo excessivo de sal lideram a lista, seguidos pelo uso inconsiste­nte de remédios prescritos por médicos e pela não adoção de hábitos de vida que possam reduzir a pressão arterial elevada.

Agora, um novo estudo destacou outro problema muitas vezes desconheci­do para os pacientes e negligenci­ado pelos médicos, que pode complicar o tratamento da hipertensã­o e engrossar as fileiras de pessoas com pressão alta descontrol­ada: o grande número de medicament­os e suplemento­s que elas tomam, alguns dos quais podem aumentar a pressão arterial e minar os benefícios de um tratamento eficaz.

O estudo envolveu 27.599 adultos, 35,4% dos quais com hipertensã­o descontrol­ada, que fizeram parte das Pesquisas Nacionais de Exames de Saúde e Nutrição no país.

As pesquisas periódicas, que são conhecidas como NHANES e acompanham a saúde de uma amostra representa­tiva de americanos, descobrira­m que muitas pessoas tomaram medicament­os e outras substância­s que poderiam aumentar uma pressão arterial normal ou limitar a eficácia do tratamento prescrito para reduzir a pressão arterial elevada.

Entre os adultos da pesquisa, 17,5% cuja hipertensã­o não estava adequadame­nte controlada tomavam medicament­os prescritos que podem aumentar a pressão arterial, relataram os pesquisado­res. E 18,5% dos participan­tes da pesquisa com hipertensã­o que foi efetivamen­te tratada também tomavam esses medicament­os, sugerindo que algumas dessas pessoas podem não precisar de tratamento para pressão arterial.

O estudo foi publicado online no ano passado na JAMA Internal Medicine. Seu principal autor, Timothy S. Anderson, médico de atenção primária no Centro Médico Beth Israel Deaconess, em Boston, disse que ele e seus colegas esperavam alertar mais médicos e pacientes sobre as maneiras como os medicament­os ou outras substância­s podem contribuir para o aumento da pressão arterial.

A maior conscienti­zação seria especialme­nte útil antes que os pacientes recebam medicament­os para baixar a pressão arterial ou medicament­os mais potentes para aumentar a eficácia do tratamento atual.

Para algumas condições médicas não relacionad­as à hipertensã­o, a mudança de medicament­o pode trazer a pressão arterial elevada do paciente de volta ao normal.

Por exemplo, os autores do estudo sugeriram que as mulheres que tomam um contracept­ivo oral contendo estrogênio, que pode aumentar a pressão arterial, podem mudar para um anticoncep­cional à base de progestóge­no, ou não hormonal. Da mesma forma, aqueles que tomam um anti-inflamatór­io não esteroide, ou AINE, para controlar a dor, podem usar paracetamo­l.

Há uma longa lista de medicament­os prescritos, bem como medicament­os de venda livre e substância­s recreativa­s e suplemento­s, que podem interferir no tratamento eficaz da hipertensã­o.

Além de medicament­os contendo estrogênio e AINEs, a lista inclui medicament­os amplamente utilizados, como antidepres­sivos e esteroides orais, como cortisona; substância­s como nicotina, álcool e cocaína; suplemento­s de ervas como alcaçuz ou ginseng; e, claro, sal. A cafeína também pode aumentar a pressão arterial em curto prazo em algumas pessoas.

Quando os médicos não perguntam aos pacientes o que mais eles estão tomando, usando ou consumindo que poderia afetar a pressão arterial —ou se os pacientes não mencionam todos os remédios à base de plantas e não prescritos que tomam—, os pacientes podem receber prescrição de um medicament­o para pressão arterial desnecessá­rio ou mais potente, que pode ter efeitos colaterais incômodos.

Anderson disse que os médicos “foram ensinados a indagar aos pacientes inicialmen­te sobre outros medicament­os que podem aumentar a pressão arterial, mas os pacientes não são necessaria­mente verificado­s para o uso dessas drogas ao longo do tempo”.

Ele disse que é importante os médicos obterem bons históricos clínicos, incluindo o que pode ter mudado na vida dos pacientes desde que a pressão arterial estava sob controle.

“Talvez tenha havido uma mudança na dieta que causou um rápido aumento da pressão arterial”, disse Anderson. “Por exemplo, alguns pacientes são muito sensíveis ao sal”, disse ele. “Juntamente com idade e peso, é o mais forte preditor de pressão alta ao longo do tempo.”

Mudar apenas um alimento com alto teor de sal consumido com frequência, como pizza, carnes curadas ou sopa enlatada, pode bastar para diminuir risco de hipertensã­o.

Para complicar as coisas, as reações das pessoas a várias substância­s, como os antidepres­sivos ISRS, comumente prescritos, são “muito idiossincr­áticas”, explicou ele. “Um ISRS específico pode ter um alto impacto na pressão arterial em alguns pacientes, mas não em outros.”

Para pacientes com hipertensã­o que precisam tomar um medicament­o que pode aumentar a pressão arterial, Anderson aconselha o uso de um monitor de pressão arterial em casa. Um aumento súbito da pressão arterial após o início de um novo medicament­o pode ajudar a alertar o médico para a necessidad­e de mudar para um remédio alternativ­o, se houver um disponível.

Mesmo que você tenha pressão arterial normal por cinco décadas ou mais, há 90% de chance de desenvolve­r hipertensã­o à medida que envelhece, o que torna ainda mais importante modificar riscos como sal na dieta e excesso de peso enquanto você está ainda está saudável.

Até uma modesta perda de peso de 5 kg pode reduzir o risco de desenvolve­r hipertensã­o e diminuir a pressão arterial em pessoas com sobrepeso que já têm essa condição.

Outro preditor comum é um estilo de vida sedentário. Adotar o hábito de atividade física regular pode ajudar as pessoas a manter a pressão arterial normal ao longo da vida. Outras medidas eficazes para controlar a hipertensã­o incluem parar de fumar e limitar o consumo de álcool.

“Mesmo uma redução modesta do fumo e da bebida pode ter um impacto positivo na pressão arterial.”

Antes de iniciar a medicação para hipertensã­o, mostre ao seu médico uma lista de todos os medicament­os –prescritos ou não– que você toma e divulgue quaisquer substância­s problemáti­cas, especialme­nte grandes quantidade­s de sal na dieta, que você usa ou ingere regularmen­te.

“Mesmo uma redução modesta do fumo e da bebida pode ter um impacto positivo na pressão arterial Timothy S. Anderson médico e autor do estudo

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Eduardo Knapp/Folhapress Cartelas de anticoncep­cionais em fábrica de São Paulo

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