Suspeito de ligação com PCC preside entidade responsável por creche
SÃO PAULO O motorista Devanil Sousa Nascimento, o Sapo, preso sob a suspeita de participação na morte do ex-presidente da Transunião Adauto Soares Jorge, é apontado em documentos obtidos pela polícia como sendo dirigente de uma entidade que mantém contratos com a Prefeitura de São Paulo para a administração de 14 creches. Os repasses da gestão municipal seriam de R$ 1,3 milhão mensais.
Segundo a polícia, Sapo foi quem levou a vítima para o local onde seria assassinada a tiros. A morte teria ocorrido a mando de criminosos do PCC —policiais ouvidos pela reportagem dizem acreditar, porém, que ele não seja membro da facção. A investigação aponta, também, que o suspeito seria motorista do vereador da capital Senival Moura (PT). O parlamentar nega.
Sapo aparece como presidente do Instituto Educacional e de Defesa dos Direitos Humanos Cora Coralina em contratos firmados para gestão de creches na zona leste. Nove delas ficam na região de Guaianazes, e outras cinco, na de Itaquera. A Folha teve acesso aos documentos.
Em toda a cidade, as OSs (Organizações Sociais) contratadas são responsáveis pela maioria dos alunos das creches, com repasses superiores a R$ 200 milhões ao mês (sem contar aluguéis), segundo dados de contratos aprovados publicados no site da prefeitura.
O Instituto Educacional Cora Coralina, de acordo com cadastro da prefeitura de março deste ano, atende 2.081 alunos. Em um ano, ainda segundo os dados do site de transparência da cidade, os valores somados seriam na casa dos R$ 16 milhões.
Nascimento prestou depoimento na terça-feira (21) aos policiais do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais). Segundo a polícia, por orientação do advogado dele, preferiu ficar em silêncio.
Marcos Ribeiro Costa, advogado do suspeito, disse por meio de nota que “Devanil Sousa é homem íntegro, de vida pregressa ilibada. Foi testemunha do crime que vitimou seu amigo Adauto e, no dia dos fatos, ao ouvir os tiros e ver ver amigo caído ao chão, entrou em desespero, sendo certo que até a presente data está abalado”.
Costa diz que o instituto presidido por Sapo iniciou os trabalhos na década de 1980, constituindo 14 CEIs, criando empregos para 366 colaboradoras e atendendo cerca de 2.500 famílias.
“Ao longo destes anos, todo dinheiro aportado pela Prefeitura Municipal de São Paulo foi devidamente aplicado em nossas creches, sendo certo que sempre prestamos contas aos órgãos competentes, contas estas regularmente aprovadas e que estão à disposição da Justiça, Ministério Público e dos Órgãos Policiais. Isto posto, acreditando na Justiça, tem a certeza que sua inocência será provada”, finalizou a nota do advogado.
Também na terça, a Polícia Civil instaurou inquérito para apurar como Sapo conseguiu os contratos das creches com o município e se é o verdadeiro responsável. Segundo o delegado-geral, Nico Gonçalves, há a suspeita de que Nascimento seja um testa de ferro do instituto.
“A investigação acabou de ser instaurada. Ouvimos o Sapão hoje aqui, mas ele chorou, chorou, mas não disse nada. Reservou-se ao direito de ficar calado. Mas não negou o crime”, disse o delegado-geral à Folha.
“Ele tem 14 creches, mais uma empresa que está no nome dele. É um ‘laranjão’, porque nem sabe o que faz. Perguntamos para ele por que tem creche, mas não sabe por quê”, disse Gonçalves.
A Prefeitura de São Paulo afirmou que “colabora com as investigações da Polícia Civil e presta todas as informações necessárias para esclarecimento dos fatos” e que “uma apuração administrativa está sendo feita com o objetivo de assegurar a manutenção dos serviços. Caso constatada alguma irregularidade, pode resultar na suspensão dos contratos”.
Questionada, a gestão Ricardo Nunes (MDB) ainda não detalhou os pagamentos feitos à entidade suspeita de pertencer ao motorista nem o início dos contratos dele com o município.
A Transunião é uma das empresas de ônibus da zona leste da capital paulista investigadas por suposta ligação com o PCC. De acordo com a polícia, partiu de membros da facção criminosa a ordem para o assassinato de Jorge, por supostos desvios nos recursos da empresa que pertenceriam ao crime.