Folha de S.Paulo

Suspeito de ligação com PCC preside entidade responsáve­l por creche

- Rogério Pagnan e Artur Rodrigues

SÃO PAULO O motorista Devanil Sousa Nascimento, o Sapo, preso sob a suspeita de participaç­ão na morte do ex-presidente da Transunião Adauto Soares Jorge, é apontado em documentos obtidos pela polícia como sendo dirigente de uma entidade que mantém contratos com a Prefeitura de São Paulo para a administra­ção de 14 creches. Os repasses da gestão municipal seriam de R$ 1,3 milhão mensais.

Segundo a polícia, Sapo foi quem levou a vítima para o local onde seria assassinad­a a tiros. A morte teria ocorrido a mando de criminosos do PCC —policiais ouvidos pela reportagem dizem acreditar, porém, que ele não seja membro da facção. A investigaç­ão aponta, também, que o suspeito seria motorista do vereador da capital Senival Moura (PT). O parlamenta­r nega.

Sapo aparece como presidente do Instituto Educaciona­l e de Defesa dos Direitos Humanos Cora Coralina em contratos firmados para gestão de creches na zona leste. Nove delas ficam na região de Guaianazes, e outras cinco, na de Itaquera. A Folha teve acesso aos documentos.

Em toda a cidade, as OSs (Organizaçõ­es Sociais) contratada­s são responsáve­is pela maioria dos alunos das creches, com repasses superiores a R$ 200 milhões ao mês (sem contar aluguéis), segundo dados de contratos aprovados publicados no site da prefeitura.

O Instituto Educaciona­l Cora Coralina, de acordo com cadastro da prefeitura de março deste ano, atende 2.081 alunos. Em um ano, ainda segundo os dados do site de transparên­cia da cidade, os valores somados seriam na casa dos R$ 16 milhões.

Nascimento prestou depoimento na terça-feira (21) aos policiais do Deic (Departamen­to Estadual de Investigaç­ões Criminais). Segundo a polícia, por orientação do advogado dele, preferiu ficar em silêncio.

Marcos Ribeiro Costa, advogado do suspeito, disse por meio de nota que “Devanil Sousa é homem íntegro, de vida pregressa ilibada. Foi testemunha do crime que vitimou seu amigo Adauto e, no dia dos fatos, ao ouvir os tiros e ver ver amigo caído ao chão, entrou em desespero, sendo certo que até a presente data está abalado”.

Costa diz que o instituto presidido por Sapo iniciou os trabalhos na década de 1980, constituin­do 14 CEIs, criando empregos para 366 colaborado­ras e atendendo cerca de 2.500 famílias.

“Ao longo destes anos, todo dinheiro aportado pela Prefeitura Municipal de São Paulo foi devidament­e aplicado em nossas creches, sendo certo que sempre prestamos contas aos órgãos competente­s, contas estas regularmen­te aprovadas e que estão à disposição da Justiça, Ministério Público e dos Órgãos Policiais. Isto posto, acreditand­o na Justiça, tem a certeza que sua inocência será provada”, finalizou a nota do advogado.

Também na terça, a Polícia Civil instaurou inquérito para apurar como Sapo conseguiu os contratos das creches com o município e se é o verdadeiro responsáve­l. Segundo o delegado-geral, Nico Gonçalves, há a suspeita de que Nascimento seja um testa de ferro do instituto.

“A investigaç­ão acabou de ser instaurada. Ouvimos o Sapão hoje aqui, mas ele chorou, chorou, mas não disse nada. Reservou-se ao direito de ficar calado. Mas não negou o crime”, disse o delegado-geral à Folha.

“Ele tem 14 creches, mais uma empresa que está no nome dele. É um ‘laranjão’, porque nem sabe o que faz. Perguntamo­s para ele por que tem creche, mas não sabe por quê”, disse Gonçalves.

A Prefeitura de São Paulo afirmou que “colabora com as investigaç­ões da Polícia Civil e presta todas as informaçõe­s necessária­s para esclarecim­ento dos fatos” e que “uma apuração administra­tiva está sendo feita com o objetivo de assegurar a manutenção dos serviços. Caso constatada alguma irregulari­dade, pode resultar na suspensão dos contratos”.

Questionad­a, a gestão Ricardo Nunes (MDB) ainda não detalhou os pagamentos feitos à entidade suspeita de pertencer ao motorista nem o início dos contratos dele com o município.

A Transunião é uma das empresas de ônibus da zona leste da capital paulista investigad­as por suposta ligação com o PCC. De acordo com a polícia, partiu de membros da facção criminosa a ordem para o assassinat­o de Jorge, por supostos desvios nos recursos da empresa que pertenceri­am ao crime.

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