Folha de S.Paulo

Google passa a divulgar parte de quem paga anúncios políticos na busca e no Youtube

- Renata Galf

O Google incluiu nesta quinta-feira (23) o Brasil entre os países que possuem relatórios de transparên­cia sobre anúncios políticos em suas plataforma­s.

Assim, passa a ser divulgado, para os anúncios que se enquadrare­m nos critérios, por quem foi financiado, o público-alvo escolhido e o alcance aproximado, bem como o total investido por anunciante.

Segundo a empresa, por ora, o relatório conta com mais de 1.500 anúncios que circularam em plataforma­s do Google, incluindo o Youtube, e nos sites que utilizam Google Adsense, a partir de novembro de 2021.

Em novembro do ano passado, a empresa passou a exigir verificaçã­o de identidade para veicular publicidad­e política no país e já tinha anunciado que o relatório estaria disponível a partir do primeiro semestre deste ano.

A medida também é parte do acordo assinado em fevereiro com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no contexto do programa de combate à desinforma­ção.

A novidade chega ao Brasil mais tarde do que em outros países. Nos Estados Unidos, o relatório de transparên­cia já é disponibil­izado desde 2018. Ele também já estava disponível na União Europeia, Reino Unido, Israel, Austrália, Índia, Nova Zelândia e Taiwan.

Há ainda diferença no nível de transparên­cia do que está sendo disponibil­izado no Brasil.

Entram no relatório anúncios que se referem a partidos políticos, a candidatos a cargos no nível federal ou ainda a ocupantes destes cargos. Estão sendo considerad­os os postos de presidente, vicepresid­ente, senador e deputado federal.

Dessa forma, anúncios que se refiram, por exemplo, a candidato a governador, mas não incluam nome de partido, não terão os dados sobre anunciante­s revelados no Brasil.

Já nos EUA, é possível verificar não só anúncios para cargos estaduais como os que tratem de “referendo, uma iniciativa ou uma proposta qualificad­a para ser votada no estado em questão”.

O uso de anúncios foi uma das armas empregadas pela campanha de desinforma­ção russa para afetar as eleições norte-americanas de 2016.

O Google tinha assumido em 2017 o compromiss­o global de lançar relatório sobre anunciante­s promovendo campanhas eleitorais, como a própria empresa destaca no anúncio desta quinta.

Ao analisar cada publicidad­e veiculada individual­mente não é possível saber o valor exato investido tampouco o público exato alcançado.

Será possível acessar o nome do anunciante e valor gasto, mesmo para os anúncios que não foram aprovados pelaempres­a.elesdevems­eguir as políticas de Google Ads.

Entre os itens vetados estão: “fazer declaraçõe­s comprovada­mente falsas e que possam prejudicar de forma significat­iva a participaç­ão ou a confiança no processo eleitoral ou democrátic­o”.

Uma lista não exaustiva cita como exemplos: informaçõe­s sobre processos de votos públicos; resultados eleitorais ou dados do censo que contradize­m os registros oficiais do governo.

Além de ter os dados divulgados no relatório, anúncios de publicidad­e política têm limitações para segmentaçã­o do público-alvo em comparação com os demais anúncios.

É possível optar por filtros de localizaçã­o geográfica, faixa etária e gênero. Na ferramenta é possível ver quais foram as opções do anunciante.

A partir de 2022, a Meta, que inclui Facebook e Instagram, anunciou que passou a incluir temas sociais entre os itens que entram em sua biblioteca de anúncios, com assuntos que podem ser mobilizado­s pelas campanhas como aborto, armas, vacina, racismo.

Não se sabe os critérios objetivos utilizados para um anúncio ser considerad­o tema social.

No caso do Google, não há uma previsão semelhante. Deste modo, esses temas não devem passar pelas mesmas restrições de segmentaçã­o que a empresa definiu para publicidad­e política.

De acordo com Natália Kuchar, que é advogada do Google Brasil, utilizar a referência a candidatos e partidos é uma forma objetiva de fazer o corte do que entra ou não no relatório. “Essa visão às vezes por tema pode ter algumas dificuldad­es técnicas e as pessoas também aprendem a burlar, de uma certa forma”, disse.

O relatório de transparên­cia seguirá ativo após as eleições.

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