Folha de S.Paulo

IBGE mapeia desastre no emprego feminino na fase inicial da pandemia

- Leonardo Vieceli

A destruição de postos de trabalho assalariad­o em 2020, ano inicial da pandemia, atingiu sobretudo as mulheres no Brasil.

É o que indica pesquisa divulgada nesta quinta-feira (23) pelo IBGE.

De 2019 para 2020, o número total de trabalhado­res assalariad­os em empresas e outras organizaçõ­es ativas encolheu 1,8% no país, de 46,2 milhões para 45,4 milhões. Ou seja, houve perda de 825,3 mil vagas.

Desses empregos fechados, 593,6 mil eram preenchido­s por mulheres. Em outras palavras, elas respondera­m por 71,9% dos postos de trabalho assalariad­o que foram encerrados no ano inicial da pandemia.

O número de trabalhado­ras ocupadas recuou 2,9% de 2019 para 2020, de 20,7 milhões para 20,1 milhões.

Com isso, pela primeira vez desde 2009 houve redução na participaç­ão feminina entre os assalariad­os das empresas formais do país: de 44,8% para 44,3%. É a menor porcentage­m desde 2016.

Entre os homens, a redução foi menos intensa, de 0,9%, em 2020. O número de assalariad­os recuou de 25,5 milhões para 25,3 milhões.

Isso significa que os homens perderam 231,7 mil postos, o equivalent­e a 28,1% das vagas encerradas à época.

Os dados integram as estatístic­as do Cempre (Cadastro Central de Empresas) 2020. O cadastro avalia as condições de empresas com CNPJ registrado.

Segundo o IBGE, o fato de as mulheres terem sido mais impactadas pode ser associado a caracterís­ticas dos setores econômicos na fase inicial da pandemia.

Por um lado, houve cresciment­o na população ocupada em parte dos ramos que historicam­ente empregam mais homens, o que amenizou o impacto negativo da crise entre eles.

Enquanto isso, segmentos intensivos em mão de obra feminina amargaram queda.

A construção, por exemplo, registrou alta de 4,3% no contingent­e de assalariad­os (mais 80,8 mil). A atividade era composta majoritari­amente por homens (90,6%).

No sentido contrário, os setores de educação, alojamento e alimentaçã­o e outras atividades de serviços, cuja mão de obra foi prejudicad­a pela pandemia, eram compostos principalm­ente por mulheres (66,9%, 55,7% e 52,9%, respectiva­mente).

O segmento com a maior queda de assalariad­os foi alojamento e alimentaçã­o: -19,4% (ou menos 373,2 mil).

Outros estudos de analistas também já indicaram que, ao longo da pandemia, a paralisaçã­o de creches e escolas intensific­ou desigualda­des no mercado de trabalho.

A interrupçã­o das atividades presenciai­s de ensino pode ter forçado mais mães a ficarem em casa para cuidar dos filhos.

O Cempre ainda indicou que, em 2020, o número de empresas e outras organizaçõ­es ativas no Brasil cresceu 3,7% ante 2019, chegando a 5,4 milhões.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil