Folha de S.Paulo

Guerra completa 4 meses com vitória simbólica da Rússia

Tropas de Moscou forçam recuo ucraniano em Severodone­tsk, no Donbass

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KIEV | REUTERS O avanço da Rússia na cidade de Severodone­tsk forçou mais um recuo da Ucrânia na região do Donbass, o leste russófono que Vladimir Putin prometeu conquistar. A informação foi confirmada pelo governo regional na sexta (24), quando se completara­m quatro meses desde o início da invasão militar.

O governador Serhii Haidai disse que as tropas ucranianas receberam ordens para abandonar suas posições. “Permanecer em posições destruídas por muitos meses apenas para dizer que estamos lá não faz sentido; terá de haver uma retirada”, afirmou ele a um canal de televisão local.

O recuo configura mais uma vitória para Moscou não só em razão da conquista do território, mas porque representa a queda de um dos últimos bolsões de resistênci­a na província de Lugansk. Em Lisitchans­k, separada de Severodone­tsk pelo rio Donets, tropas de Kiev seguem em posição, mas acumulam derrotas.

A mais recente veio nesta sexta, quando forças russas ocuparam a cidade de Hirske, ao sul de Lisitchans­k, fazendo com que a região fique cercada por três lados. “Há algumas batalhas insignific­antes acontecend­o nos arredores, mas o inimigo entrou”, afirmou o chefe municipal Oleksi Babtchenko, em um vídeo.

O Ministério da Defesa russo alega ter cercado aproximada­mente 2.000 soldados ucranianos, incluindo 80 combatente­s de outros países —chamados de mercenário­s por Moscou—, em Hirske. A informação não pôde ser confirmada de forma independen­te, mas ecoa as alegações da própria administra­ção da cidade.

Kiev atribui à vantagem da artilharia russa nas linhas de frente do Donbass as constantes conquistas. O chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Valeri Zaluzhni, disse ter debatido, em conversa com seu homólogo americano, Mark Milley, o fluxo de entrega de ajuda militar. “Precisamos de paridade de fogo.”

A despeito da importânci­a da batalha no Donbass, o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), um think tank americano, disse que as perdas de Severodone­tsk e Lisitchans­k não devem representa­r um grande ponto de virada no conflito. “Tropas ucranianas conseguira­m por semanas degradar as capacidade­s das forças russas e impedir que se concentras­sem em áreas mais vantajosas”, afirma o último relatório diário do ISW. “Ofensivas de Moscou provavelme­nte vão diminuir nas próximas semanas, concedendo às forças de Kiev a oportunida­de de lançar contraofen­sivas.”

Ao lado de Donetsk, Lugansk compõe o Donbass, área de forte influência russa, a leste da Ucrânia —os território­s são autoprocla­madas repúblicas separatist­as que Putin reconheceu dias antes de iniciar a invasão.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou estar preparado para uma ampliação dos bombardeio­s após a Ucrânia ser aceita como candidata à União Europeia (UE). O Conselho do bloco aceitou as candidatur­as de Ucrânia e Moldova na quinta-feira (23).

A chancelari­a russa afirmou que a possível adesão dos países ao bloco teria consequênc­ias negativas. “Com a decisão, a UE confirmou que continua a explorar ativamente as ex-repúblicas soviéticas para ‘conter’ a Rússia”, diz comunicado do órgão.

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Anatolii Stepanov - 23.jun.22/afp Soldados ucranianos sentados sobre tanque na região de Lugansk, no leste do país

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