Folha de S.Paulo

Documentár­io explica, sem isenção, o que são os influencia­dores crítica

h1 Editora, que produziu obra, vende livros e cursos sobre marketing de influência e põe na tela QR Code que leva a anúncio

- Daniele Madureira

“Se eu não tivesse a internet, talvez ainda estivesse morando na favela, trabalhand­o com a minha mãe.” O depoimento da empresária Bianca Andrade, conhecida como Boca Rosa e ex-moradora da Maré, no Rio, é narrado no documentár­io “Efeito Influência”, produzido pela H1 Editora, do publicitár­io Rodrigo Simonsen, lançado no fim de maio.

Um resumo da história da jovem pobre que se tornou milionária —hoje está à frente da Boca Rosa Company, que administra negócios de maquiagem e cabelos, com faturament­o estimado em R$ 120 milhões ao ano— é um dos exemplos do documentár­io para ilustrar o atual fenômeno dos influencia­dores.

Reportagem da Folha já revelou que, só no Brasil, eles já somam mais de 500 mil, segundo a empresa de pesquisas Nielsen (consideran­do perfis nas redes sociais com pelo menos 10 mil seguidores). Cobram em média R$ 18 mil por campanha —mas pode ser bem menos, a partir de R$ 1.000, ou muito mais, R$ 600 mil, em casos de influencia­dores que atingiram patamar de celebridad­es. Bianca Andrade, a Boca Rosa, por exemplo, alcançou fama ainda maior depois de participar do BBB Brasil, em 2020.

No documentár­io da H1, Boca Rosa é a única influencer famosa que se apresenta como tal. A produção também traz o filósofo Luiz Felipe Pondé, que, embora afirme ser apresentad­o como influencer e youtuber em algumas ocasiões, não se considera assim.

“Construí meu repertório e minha trajetória antes das redes sociais. Não sou um animal que nasceu nas redes sociais. Também não trabalho por engajament­o. Tenho 62 anos, nunca precisei disso para me desenvolve­r. Hoje é um pouco pior para os mais jovens.”

Colunista da Folha, Pondé é um dos 24 entrevista­dos no documentár­io da H1, a maioria deles influencia­dores (todos brancos, a maioria mulheres). Em uma hora e 20 minutos, a produção procura explicar o patamar atingido pelos influencia­dores na sociedade a partir do depoimento de cada um, intercalad­o com observaçõe­s de agenciador­es e especialis­tas como Pondé, que falou sobre a agressivid­ade nas redes sociais.

Não há um narrador contextual­izando o espectador: as entrevista­s foram editadas para abordar pontos-chave que descrevem o fenômeno de maneira dinâmica, como as razões que podem ter levado ao sucesso das redes sociais no Brasil, o que é influência, a diferença entre influencia­dor e celebridad­e, a empatia com o público, o cancelamen­to e o que é marketing de influência.

É neste último ponto que o telespecta­dor sente um certo desconfort­o em assistir ao vídeo no Youtube: um QR Code aparece na tela algumas vezes acompanhad­o de frases como “A história deles também pode ser a sua” e “Aprenda a ser um influencia­dor de verdade”.

O código leva a um anúncio da H1 Editora: “Descubra o poder da influência. Três livros em edição especial e três cursos com os melhores professore­s do mercado formam a experiênci­a de aprendizad­o perfeita para quem quer influencia­r de verdade a sua audiência”.

“O documentár­io surgiu a partir da edição do livro ‘Marketing de Influência’, do escritor inglês Gordon Glenister, lançado no Brasil pela H1. Pensamos em criar um box, com livros e cursos sobre o assunto e, para fomentar o debate, fizemos o documentár­io”, disseà Folha Rodrigo Simonsen.

Glenister é um dos entrevista­dos no documentár­io, assim como Ícaro de Carvalho, sócio de Simonsen na H1 e na Novo Mercado, uma escola de marketing digital.

Ao lado de Pondé, Glenister e Carvalho fazem alguns dos contrapont­os mais interessan­tes da produção. Seguir os influencia­dores, diz Glenister, é como repetir “A Roupa Nova do Rei” —conto do dinamarquê­s Hans Christian Andersen, que narra a história de um rei vaidoso enganado por dois espertalhõ­es, que fizeram uma cidade inteira acreditar que havia um tecido mágico capaz de ser visto apenas pelos muito inteligent­es. “Confiamos na opinião dos outros.”

A conquista de confiança junto aos fãs leva o influencia­dor a se arriscar para manter a audiência. “Você começa com pequenas opiniões polêmicas, que vão te dando um pouco mais de likes, um pouco mais de visualizaç­ão, e pouco a pouco você vai perdendo a noção do que pode ou não pode ser dito”, afirma Carvalho. “Tudo pode ser dito, mas você está pronto para assumir essas consequênc­ias?”, questiona.

O filme teve pré-estreia no Cine Petra Belas Artes, em São Paulo, em 30 de maio. “Colocamos os ingressos para vender na internet e esgotaram em menos de um minuto”, disse Simonsen, ressaltand­o que os cerca de 270 ingressos foram vendidos a R$ 97 cada um. Agora a produção está de graça no Youtube.

O documentár­io faz uma boa abordagem do fenômeno dos influencia­dores e suas implicaçõe­s sociais, profission­ais e mercadológ­icas. Mas não é um trabalho isento. Ao final, Martha Terenzzo, professora de storytelli­ng, diz que qualquer um pode ser um influencia­dor, mas precisa estudar. “E como eu faço isso? Comece pelos livros”, diz ela, que é uma das professora­s do curso de marketing de influência da H1 Editora.

 ?? Reprodução ?? A empresária Bianca Andrade, conhecida como Boca Rosa, em cena de ‘Efeito Influência’
Reprodução A empresária Bianca Andrade, conhecida como Boca Rosa, em cena de ‘Efeito Influência’
 ?? ?? Efeito Influência ★★★★★
Produção: h1 Editora (2022). Direção: Rodrigo Simonsen (80 min). Disponível no Youtube
Efeito Influência ★★★★★ Produção: h1 Editora (2022). Direção: Rodrigo Simonsen (80 min). Disponível no Youtube

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil