Folha de S.Paulo

Passagem aérea sobe 123% e lidera inflação em 12 meses

Em junho, IPCA-15 avança 0,69%, sob impacto de reajuste de plano de saúde

- Leonardo Vieceli

Os preços das passagens aéreas estão nas alturas. No acumulado de 12 meses até junho, os bilhetes acumularam inflação prévia de 123,26% no Brasil.

É a alta mais intensa entre 367 subitens que compõem o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), informou nesta sexta (24) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a).

A disparada das passagens aéreas vem em um contexto de maior demanda por viagens, após as restrições causadas pela pandemia, e aumento do combustíve­l usado na aviação, o que pressiona os custos das companhias aéreas.

No recorte mensal, os bilhetes subiram 11,36% em junho, após variação ainda mais intensa em maio (18,40%), conforme o IPCA-15.

Em 12 meses até junho, a segunda maior escalada dos preços é a da abobrinha: 101%. O avanço era de 81,10% até maio.

Na largada deste ano, frutas, legumes e hortaliças subiram no Brasil com o impacto do clima adverso.

Os registros de seca no Sul e de chuvas fortes no Sudeste e no Nordeste abalaram plantações, com impacto sobre a oferta e os preços finais.

Alguns alimentos atingidos começam a dar sinais de desacelera­ção, mas continuam com altas expressiva­s.

É o caso da cenoura. No acumulado, o avanço passou de 146,31% até maio para 99,55% até junho. Apesar da trégua, a cenoura é o subitem com a terceira maior alta de preços nos últimos 12 meses.

O pepino está no quarto lugar. A alta foi de 84,03% no acumulado até junho. A subida era de 45,79% até maio.

A batata-inglesa vem na sequência, com elevação de 65,93% até junho. A variação era de 64,74% até o mês anterior.

Neste mês, sob impacto do reajuste dos planos de saúde, a inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) subiu 0,69%.

A alta representa uma aceleração ante maio, quando o indicador havia avançado 0,59%. O novo resultado veio ligeiramen­te acima das estimativa­s do mercado financeiro. Analistas consultado­s pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,68%.

Com a entrada dos dados de junho, o IPCA-15 passou a acumular alta de 12,04% em 12 meses. Nesse recorte, a elevação até maio havia sido mais intensa, de 12,20%.

Apesar de registrar desacelera­ção no acumulado, o indicador prévio de inflação completou o décimo mês acima dos 10%. Ou seja, o IPCA-15 está em dois dígitos desde setembro do ano passado.

Na visão de analistas, os dados de junho reforçam os sinais de que a inflação deixou para trás o pico em 12 meses. Isso, porém, não afasta a preocupaçã­o com o cenário dos preços no Brasil.

“Em termos qualitativ­os gerais, a leitura continuou bastante desfavoráv­el, embora algumas medidas de núcleo que pesam mais sobre bens industriai­s tenham tido um alívio muito pequeno”, aponta o economista Daniel Karp, do banco Santander.

O índice oficial de inflação é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Como a variação do IPCA é calculada ao longo do mês de referência, o dado de junho ainda não está fechado. Será conhecido no dia 8 de julho.

O IPCA-15, pelo fato de ser divulgado antes, sinaliza uma tendência para os preços. O indicador prévio costuma ser calculado entre a segunda metade do mês anterior e a primeira do mês de referência da divulgação.

Nesse caso, os preços foram coletados entre 14 de maio e 13 de junho. Isso significa que o novo resultado ainda não capta os reflexos do reajuste da gasolina e do diesel anunciado pela Petrobras no dia 17.

Os nove grupos de produtos e serviços pesquisado­s tiveram altas de preços neste mês, conforme o IPCA-15.

Entre os segmentos, o maior impacto (0,19 ponto percentual) veio dos transporte­s (0,84%), mesmo com a desacelera­ção ante maio (1,80%).

Essa perda de ritmo foi ocasionada pela queda nos preços dos combustíve­is (-0,55%), que haviam subido 2,05% no mês passado. O diesel (2,83%) até voltou a avançar, mas o etanol e a gasolina caíram 4,41% e 0,27%, respectiva­mente.

Dentro dos transporte­s, além das passagens aéreas, houve alta em seguro voluntário de veículo (4,20%) e emplacamen­to e licença (1,71%).

Em junho, vestuário (1,77%) mostrou a maior variação de preços entre os grupos pesquisado­s. O ramo teve impacto de 0,08 ponto percentual no IPCA-15.

O IBGE ainda destacou o comportame­nto de saúde e cuidados pessoais. O grupo avançou 1,27%. Com isso, teve contribuiç­ão de 0,16 ponto percentual no índice. Foi a segunda maior do mês, atrás dos transporte­s.

O ramo de saúde e cuidados pessoais teve impulso dos planos de saúde, que subiram 2,99% e respondera­m por 0,10 ponto percentual no IPCA-15. Foi a maior influência entre os subitens pesquisado­s.

Ao explicar a alta, o IBGE mencionou que os planos de saúde tiveram reajuste de até 15,50% autorizado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementa­r) em 26 de maio.

O grupo alimentaçã­o e bebidas, por sua vez, subiu 0,25% em junho, após alta de 1,52% em maio. A maior influência para o freio veio dos alimentos para consumo no domicílio.

O leite longa vida, que subira 7,99% em maio, registrou alta de 3,45% em junho. Houve quedas nos preços da cenoura (-27,52%), do tomate (-12,76%), da batata-inglesa (-8,75%), das hortaliças e verduras (-5,44%) e das frutas (-2,61%).

Esses alimentos haviam disparado na largada do ano com os efeitos da seca no Sul e das chuvas fortes em regiões como o Sudeste e o Nordeste.

“O quadro ainda está bastante complicado”, avalia Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, que chama a atenção para a aceleração dos preços de serviços.

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