Folha de S.Paulo

Para associaçõe­s, mudar Lei das Estatais trava Brasil na OCDE

- Thiago Bethônico

Documento assinado por associaçõe­s do mercado de capitais foi enviado nesta sexta-feira (24) a membros do governo e do Congresso Nacional alertando sobre os riscos de uma eventual flexibiliz­ação da Lei das Estatais.

Segundo as entidades, a proposta de alterar a legislação vai na contramão de conquistas relevantes e põe em xeque a ambição do Brasil de ingressar na OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico).

A lei entrou na mira do governo após Jair Bolsonaro (PL) tentar, mais uma vez, trocar o presidente da Petrobras por insatisfaç­ão com um reajuste no preço dos combustíve­is que pode impactar suas pretensões eleitorais.

Nesta semana, membros do centrão defenderam a flexibiliz­ação da lei para facilitar trocas no comando da empresa. A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), também defendeu mudanças.

O ofício é assinado por Amec (Associação dos Investidor­es no Mercado de Capitais), Apimec (Associação dos Analistas e Profission­ais de Investimen­to do Mercado de Capitais do Brasil), IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativ­a), Ibri (Instituto Brasileiro de Relações com Investidor­es) e Instituto Ethos.

De acordo com o documento, as recorrente­s investidas contra a Lei das Estatais visam a desidrataç­ão dos requisitos e vedações para a nomeação de diretores e conselheir­os.

“Esses dispositiv­os formam a principal blindagem da legislação contra o risco de captura das empresas estatais por interesses político-partidário­s, que foram responsáve­is por casos notórios de corrupção, de ineficiênc­ia de alocação de recursos públicos e de atendiment­o a objetivos eleitorais e pessoais, em detrimento dos objetivos sociais para os quais as companhias foram criadas”, afirma o texto.

A Lei de Responsabi­lidade das Estatais (13.303/2016), sancionada em 2016 pelo então presidente interino Michel Temer (MDB), foi aprovada em resposta a uma série de investigaç­ões que apontaram uso político das empresas em administra­ções anteriores.

Na época, falava-se que um dos principais objetivos do projeto era a profission­alização da gestão das estatais. Por isso, foram criadas novas regras, proibindo, por exemplo, a indicação de dirigentes partidário­s ou de políticos que tivessem disputado eleições nos 36 meses anteriores.

No ofício, as entidades ressaltam que o alinhament­o a esses padrões é um dos passos previstos no processo de adesão do Brasil à OCDE.

Em relatório publicado no fim de 2020, o grupo de países ricos reconheceu que os conselhos das estatais se tornaram mais independen­tes de interferên­cias em função da Lei das Estatais.

“A proibição para indicação de políticos e outros indivíduos em conflito de interesses provou ser bem-sucedida na redução de algumas formas de apadrinham­ento político usando cargos de conselheir­os e executivos”, afirma o relatório.

A OCDE ainda recomendou ao Brasil ir além das conquistas já alcançadas, estendendo os requisitos e vedações para todos os comitês do conselho de administra­ção e para o conselho fiscal.

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