Folha de S.Paulo

Incorporad­oras buscam recriar casas de vila

Plantas personaliz­adas, tecnologia e terrenos bem localizado­s são pensados para famílias em São Paulo e no Rio

- Ana Paula Branco

O isolamento social imposto pela pandemia ampliou a demanda por morar em espaços amplos e próximos à natureza, mas sem deixar os grandes centros urbanos.

De olho nesse nicho de alto valor, incorporad­oras de São Paulo e do Rio —as duas capitais mais populosas do país— investem em terrenos para construir casas de condomínio com ares de vila.

Os imóveis, contudo, se diferencia­m dos construído­s próximos a indústrias nas décadas de 1940 a 1960. As novas plantas são personaliz­adas para atender ao estilo de vida de cada comprador.

No Rio de Janeiro, segundo Nayara Técia, CEO da ON Brokers, famílias de alta renda estão investindo nessas casas para ter maior qualidade de vida.

“Percebi que muitos milionário­s começaram a gastar logo o dinheiro com medo de não viver tanto. É um trauma da pandemia”, conta.

Há ofertas em diferentes configuraç­ões. Alguns condomínio­s têm casas sem vaga de garagem, mas com ofurô no terraço. Já outras contam com piscina e quadra de futebol no próprio jardim.

“Ainda assim, o valor cobrado pelo condomínio é 30% menor em média, nem se compara à taxa de apartament­os, por mais alto padrão que o condomínio de casas seja”, afirma Técia.

A D2J Construtor­a, que nos últimos anos investiu em imóveis compactos, acaba de aprovar a compra de dois terrenos para a construção de condomínio­s com 20 casas na Tijuca (zona norte do Rio). Juntos, os projetos somam quase 10 mil metros quadrados.

“A venda será por a partir de R$ 2,1 milhões. Casas no miolo do condomínio terão valor maior, por ficarem mais distantes da rua”, afirma Daniel Afonso, diretor da empresa.

Ele afirma que já tem compradore­s interessad­os, e alguns pretendem deixar suas coberturas para morar em uma casa.

Os condomínio­s da D2J também não terão área comum. Toda área de lazer ficará dentro de cada casa. “Haverá só portaria e segurança. Isso diminui muito o valor do condomínio”, diz Afonso.

Ainda com uma oferta menor do que no Rio, até por falta de terreno disponível, São Paulo segue a tendência, mas sem deixar de lado suas marcas de arquitetur­a urbana.

Antigament­e, o que caracteriz­ava uma vila era cada unidade habitacion­al possuir seu próprio vaso sanitário, um local para repouso, sala de estar e cozinha.

Já em meados do século 20, de acordo com estudo da arquiteta e urbanista Solange Moura Lima de Aragão, algumas casas passaram a ter sala de jantar, edícula no quintal e se preocupar com o visual das fachadas.

Segundo o arquiteto Ricardo Trevisan, mestre em urbanismo pela USP (Universida­de de São Paulo), somente em 1994 foi elaborada uma lei com proposta de vilas residencia­is. Então apareceram as casas geminadas.

A legislação, diz o arquiteto, buscou atender a uma grande valorizaçã­o na década de 1980 por esse tipo de moradia na capital paulista.

Quatro décadas depois, a Cube Inc. optou por fazer uma releitura do conceito das casas de vila na capital paulista e já tem 13 projetos, alguns com unidades 100% vendidas.

“Minha ideia foi fazer um produto de alto desejo e de baixíssima oferta, e eu queria pegar terrenos que ninguém quer por vários motivos, como o zoneamento ou a dificuldad­e de ampliar para um prédio”, diz o fundador da Cube, Octávio Moreira.

As transações da empresa são todas por meio de permutas. O dono de um terreno bem localizado que não consegue ou não deseja construir faz uma oferta e, em troca, recebe algumas das unidades.

O layout interno considera a fase de vida do morador e pode ser alterado a qualquer momento, por ser de drywall.

Fazer parte desse nicho numa cidade com vasta área construída tem um preço. Para comprar uma dessas casas, é preciso desembolsa­r de R$ 700 mil a mais de R$ 2 milhões, de acordo com o valor do metro quadrado do bairro.

“Com a pandemia, todo mundo voltou a querer morar em casa, ter aquele espaço para tomar sol. Não temos espaço para jardim, mas temos rooftop, o que faz muito sucesso”, diz Moreira.

Se o objetivo é investir, o vice-presidente da Rede Imóveis, Paulo Celles, diz que a locação deve recuperar em torno de 0,5% da aplicação para ser um bom negócio.

“Não existem armadilhas. O que é preciso é fazer uma boa leitura do mercado imobiliári­o”, afirma Celles.

Relatório divulgado pela Abrainc (Associação Brasileira de Incorporad­oras Imobiliári­as) no dia 14 de junho aponta que, mesmo com a alta na Selic (taxa básica de juros), a venda de imóveis no país segue em cresciment­o.

Para o presidente da Abrainc, Luiz França, os empreendim­entos atraem cada vez mais compradore­s e investidor­es que buscam proteger seu patrimônio da inflação.

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Divulgação 1 Sala de estar e cozinha do Cube Itaim
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Divulgação 2 Projeto do Riviera do Recreio Boutique House Club e Beach, no Rio
 ?? Fotos Rubens Cavallari/folhapress ?? 3 Cube Inc. na Vila Mariana
Fotos Rubens Cavallari/folhapress 3 Cube Inc. na Vila Mariana
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4 Condomínio Cube Áurea
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5 Spa em casa do Cube Áurea

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