‘Quero ilustrar a derrota do bolsonarismo’, diz autor de arte viral com Dom e Bruno
Os traços remetem aos heróis das histórias em quadrinhos. O plano de fundo é vermelho como sangue. Depois de viralizar nas redes sociais, a ilustração de Dom Philips e Bruno Pereira, feita pelo artista Cristiano Siqueira, figurou em cartazes e camisetas, estampou uma bandeira estendida por Caetano Veloso em show e levou às telas de caminhões de Los Angeles, em meio à Cúpula das Américas, a pergunta: “Onde estão Dom e Bruno?”.
A imagem, que se tornou a mais simbólica do caso, tem, segundo seu autor, servido para “aglutinar um movimento de cobrança pela investigação e justiça” nesse episódio.
A ilustração de Dom e Bruno é só um exemplo de como Cristiano usa sua arte para dar visibilidade a causas em que acredita. Política, inclusive, é o assunto que domina as peças compartilhadas pelo artista nas redes sociais.
Conhecido pelo username @crisvector, ele já soma 53 mil seguidores no Twitter e 107 mil no Instagram.
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A ilustração de Dom e Bruno rodou o mundo e se tornou muito simbólica desse episódio. Como o sr. avalia sua contribuição para o caso? Achei que poderia contribuir ao movimento com algo que eu sei fazer, que é arte. Essa, por sua vez, ajudou mais pessoas a prestarem atenção sobre o que estava acontecendo e fazer sua própria manifestação. Meu envolvimento foi de forma voluntária, não tenho ligação com entidades ou organizações. Apenas acompanho as notícias, os relatos, as preocupações dos colegas, família e o sentimento de impotência ao cobrar as autoridades sem ver resultados.
Seu trabalho diz muito do seu posicionamento político. Qual é a importância dessa ligação para o sr.?
É algo relativamente novo. Eu sou ilustrador há 18 anos, mas sempre evitei relacionar meu trabalho a temas políticos. Na verdade, eu sempre evitei me envolver em política. Cresci acreditando que esse era um assunto de especialistas, que não devia me envolver se não tivesse um conhecimento aprofundado, que a política deveria ser feita por políticos ou acadêmicos, e que minha participação seria apenas na hora de dar um voto. Com o tempo, fui percebendo que essa atitude passiva não resolvia e que deveria me envolver mais, principalmente depois do nascimento do meu filho. Como meu trabalho é a única coisa que eu sei fazer, passei a usá-lo para me expressar. Me identifico com as pautas de esquerda e uso meu trabalho para somar nas causas.
A sensação é a de que quase sempre que, surge algo que movimenta a política, é possível apostar que o sr. fará um post relacionado. Funciona assim mesmo? Tem acontecido bastante ultimamente, mas não é sempre assim.
Nem sempre tenho como me engajar. Tenho meu trabalho regular de ilustração que preciso priorizar, tenho os clientes que atendo. Esses engajamentos políticos não são remunerados. Muitas vezes eu dou um jeito de abrir espaço para produzir porque, simplesmente, o assunto não sai da minha cabeça, como foi o caso do “Criança não é mãe”. A internet é um espaço de disputa política e estamos sempre nessa briga. Tem também situações que são mais aleatórias e acabo tendo alguma ideia que vai bem com algum assunto do momento, aí, se eu tenho algum tempo para produzir, eu faço e jogo nas redes.
Também não tem sido raro que você viralize com essas artes. Isso faz parte do seu objetivo de alguma maneira?
Com determinados assuntos e pautas, a ideia é que se viralize mesmo, carregando a pauta junto, e que mais e mais pessoas tenham contato com o que se está discutindo ou reivindicado. Em outros casos, pode ser que viralize por alguma piada ou meme, mas aí é incerto. O que ajuda bastante é poder estar inserido em uma comunidade engajada, um ecossistema em que todos se ajudam curtindo, compartilhando e comentando os conteúdos para que se espalhe na internet. Não podemos contar com robôs ou algo desse tipo, o engajamento é orgânico, todos participam.
O que o sr. gostaria de ilustrar na política nos próximos meses? Quero ilustrar a derrota do bolsonarismo, a volta dos militares para os seus quartéis, a punição aos responsáveis por essa catástrofe que se abateu sobre o país durante a pandemia, a retomada da esperança do povo brasileiro, um projeto que contemple os cidadãos brasileiros como um todo e não apenas alguns poucos privilegiados.