Folha de S.Paulo

Baladas intimistas atraem público fiel em SP

Apesar de as infecções por Covid voltarem a crescer, casas noturnas paulistana­s retomam protagonis­mo e prestígio

- Jairo Malta e Marina Consiglio

Foram aproximada­mente 20 meses para que o avanço da campanha de vacinação contra a Covid-19 permitisse um afrouxamen­to da quarentena e a reabertura das casas noturnas em São Paulo, que voltaram a empilhar shows e baladas como se estivéssem­os no começo de 2020.

De um lado, está a euforia do público, carente de encontros e festas madrugada adentro. De outro, há o surgimento de novos bares e clubes, muitos abertos nos últimos meses e com duas coisas em comum: são espaços geralmente pequenos, mais intimistas, e que atraem um público fiel, com gente que passou a bater cartão nos mesmos locais todas as semanas.

É uma mudança sutil, mas relevante. Até antes da pandemia, quem dava as cartas eram as festas itinerante­s, que cresciam na capital paulista e estabeleci­am uma agenda robusta, enquanto clubes e casas noturnas, muitas com pistas enormes, perdiam o protagonis­mo —embora, é claro, nunca tenham deixado de existir.

Àquela altura, frequentad­ores tendiam a preferir seguir determinad­o evento ou certo DJ, independen­temente de onde a programaçã­o ocorresse ou esse artista tocasse. Era como se importasse menos o CEP e mais o CPF.

Mas isso está mudando. “Numa pista menor é mais fácil encontrar amigos. Você acaba sabendo qual música vai tocar, qual bebida vai ter, quem é quem”, diz Christophe­r Tomaz, promotor de eventos que faz a curadoria musical de casas como Coffeeshop Club, Porta e Meow. “Lugares assim estão pipocando, porque é mais fácil de administra­r e porque a experiênci­a do cliente é melhor.”

São vários os exemplos pela cidade onde o público aparece quase sem conferir a programaçã­o, por já saber qual vai ser o clima, quem vai estar na pista e o que vai escutar.

Num dos bairros mais descolados do momento, a Barra Funda, o Dali Daqui é desse jeito. O endereço surgiu como bar de comidinhas, mas lançou há um ano uma programaçã­o fixa de DJS e shows.

Já em Pinheiros, o Coffeeshop Club, que não é bem uma novidade, também viu o público ficar mais fiel neste último semestre. “As pessoas já sabem quem vão encontrar por aqui”, afirma Raoni Lucarini, que divide a sociedade do espaço com o irmão.

“Existe também uma conexão entre clientes e staff, o que reforça a ideia de clubinho”, concorda Alexandra Dicalafior­i, sócia de outro espaço do tipo, o Galeria Café, que desembarco­u no mesmo bairro há cerca de um ano, de olho no público LGBTQIA+.

O nascimento de novas casas noturnas e o aumento do número de festas vêm na esteira de outros cresciment­os: o de infecções por Covid-19 no país e também o de mortes pela doença. Hoje, a média móvel de mortes é de 152 por dia, o que representa aumento de 22% em relação aos dados de duas semanas atrás. Já a média de diagnóstic­os positivos chegou a 46.137 por dia, um cresciment­o de 24%.

Apesar dessa pressão epidemioló­gica, as baladas vão bem e recuperam o fôlego. No Itaim Bibi, o Vitrinni Lounge Beer é outro exemplo de casa com patotinha. Mas quem bate cartão por ali são as celebridad­es —caso dos EX-BBB Guilherme Napolitano, Thais Braz e Pyong Lee e até das sertanejas Maiara e Maraisa.

“Sinto que o pessoal tem preferido as baladas menores”, diz Lúcio Morais, sócio de outra casa noturna, a Non Avaiable, ou N/A, novo clube escondido embaixo do restaurant­e The Bowl, na República, na região central da cidade. “Já tem gente que sai do Copanzinho e sempre vem para cá”, comenta ele sobre o local, aberto há três meses.

Esse perfil de casa noturna vem crescendo tanto que, quando menos se espera, muitas vezes a noite acaba em um deles —mesmo que esse não seja o plano original.

“Prefiro um boteco qualquer, mas sempre sou arrastada para esses lugares por amigos. Não tem nada de bom, a não ser as pessoas —tem fila para beber, fila para o banheiro, música que toca mil vezes”, diz a produtora de cinema Mayara Wui, que às vezes pode ser encontrada na pista de endereços do tipo, como o Mercadinho do Lasanha, na Vila Buarque, e o Cantinho da Barra Funda.

 ?? Henrique Augusto/divulgação ?? Chamada de ‘after das celebridad­es’, a Vitrinni Lounge Beer reúne ex-participan­tes do Big Brother e famosos como as sertanejas Maiara e Maraisa
Henrique Augusto/divulgação Chamada de ‘after das celebridad­es’, a Vitrinni Lounge Beer reúne ex-participan­tes do Big Brother e famosos como as sertanejas Maiara e Maraisa
 ?? César Hiro/divulgação ?? Porta, novo bar e casa noturna aberta numa antiga residência
César Hiro/divulgação Porta, novo bar e casa noturna aberta numa antiga residência
 ?? Tata Barreto/divulgação ?? Galeria Café SP, que mistura balada e bazar em Pinheiros
Tata Barreto/divulgação Galeria Café SP, que mistura balada e bazar em Pinheiros

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil