Folha de S.Paulo

Acordo do TSE contra fake news tem baixa adesão de religiosos

De 33 líderes ou representa­ntes de entidades convidados pelo tribunal eleitoral, apenas 13 assinaram o documento

- Mateus Vargas

BRASÍLIA O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) convidou 33 líderes ou representa­ntes de entidades religiosas para assinar um acordo contra fake news nas eleições, mas conseguiu apoio efetivo de apenas 13 nomes.

A ideia do tribunal era receber a assinatura de aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL), como o empresário Carlos Wizard, além do líder da bancada evangélica, o deputado Sóstenes Cavalcante (União Brasil-RJ), mas eles não endossaram o acordo.

Também foram convidados, mas não apoiaram o termo de cooperação, representa­ntes de grandes igrejas evangélica­s.

O TSE buscou, entre outros nomes, o bispo Abner Ferreira, presidente da Assembleia de Deus, Ministério de Madureira, o pastor Samuel Câmara, presidente da CADB (Convenção da Assembleia de Deus do Brasil), e o bispo Eduardo Bravo, presidente da Unigrejas. Bravo chegou a afirmar à Folha, dias antes do evento, que assinaria o documento.

Depois, em nota, o presidente da Unigrejas disse que resolveu ficar como observador pois havia “temas sensíveis em pauta, como o chamado combate à desinforma­ção”.

Já o deputado Sóstenes afirmou que não participou por “razões pessoais”. As listas dos convidados e de quem assinou o documento foram entregues pelo tribunal à Folha via Lei de Acesso à Informação.

Procurado, o TSE não se manifestou sobre os pedidos rejeitados de apoio ao termo.

O tribunal recebeu apoio de entidades de juristas evangélico­s, islâmicos e espíritas. Também participar­am do evento em 6 de junho e assinaram o documento representa­ntes dos adventista­s, judeus, budistas e de religiões afro-brasileira­s.

No acordo, as lideranças religiosas se compromete­ram a promover a “exclusão da violência durante as pregações, sermões e homilias, ou ainda em declaraçõe­s públicas ou publicaçõe­s que venham a fazer”.

A ideia do TSE é reduzir a resistênci­a ao sistema de voto, no momento em que Bolsonaro realiza ataques às urnas e faz ameaças golpistas.

“Democracia, ordem jurídica e religião partilham, para além do caráter necessário e vital, o fato de que pressupõem, em conexão com a busca incessante por justiça, a consolidaç­ão de um estado firme e indeclináv­el de aceitação e respeito”, afirmou o presidente do TSE, Edson Fachin, durante o evento.

O presidente do tribunal disse que a proposta é defender a “natureza pacífica das eleições” e que a Justiça Eleitoral enfrenta “dificuldad­es inusuais”.

“Como decorrênci­a da crescente intolerânc­ia, do progressiv­o esgarçamen­to de laços e, sobretudo, do evidente processo de degradação de valores decorrente da expansão irrefreada do fenômeno da desinforma­ção”, disse o magistrado.

Horas antes do evento de assinatura do termo de cooperação, o pastor Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro, publicou um vídeo nas redes sociais chamando Fachin de “esquerdopa­ta de carteirinh­a”. Ele cobrou boicote ao documento.

“Foi um fiasco. Uma das maiores religiões do país não tem os representa­ntes legais. Ele [Fachin] fez isso com interesses políticos para isolar o presidente [Bolsonaro]”, afirmou Malafaia à Folha.

O tribunal também convidou alguns escritores para assinarem o pacto, como Augusto Cury. A Folha não conseguiu contato com ele.

Também foi enquadrado na categoria “escritor”, no convite da corte, o empresário Carlos Wizard. Procurado, ele não quis explicar a razão de não ter assinado com o TSE.

A CPI da Covid-19 sugeriu o indiciamen­to de Wizard pelos crimes de epidemia com resultado morte e incitação ao crime. Ele foi um incentivad­or do uso de medicament­os sem eficácia para a Covid, como a hidroxiclo­roquina.

Um dos articulado­res do evento do TSE, e signatário­s do pacto, é William Douglas, juiz do TRF (Tribunal Regional Federal) da 2ª Região.

Douglas era um dos nomes avaliados por Bolsonaro para preencher a vaga de “terrivelme­nte evangélico” no STF, que ficou com André Mendonça.

O TSE também convidou alguns líderes religiosos que foram representa­dos, no evento, por outros nomes, caso da monja Coen Rosh. Ela não esteve na cerimônia do tribunal, mas o documento foi assinado pelo monge Keizo Doi.

Em outros casos, o convite foi feito ao presidente de uma entidade, que acabou representa­do no evento por um subordinad­o.

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Pedro Ladeira - 23.fev.22/Folhapress O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Edson Fachin, durante evento

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