Folha de S.Paulo

Parlamento do Equador discute destituiçã­o de Lasso

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Quito | ReuteRs e afp Parlamenta­res do Equador continuara­m analisando neste domingo (26) um pedido de destituiçã­o do presidente Guillermo Lasso, desgastado por protestos contra o governo e contra o aumento do preço dos combustíve­is que reúnem milhares de indígenas há duas semanas.

Ao menos seis civis foram mortos durante as manifestaç­ões. O cenário piorou o relacionam­ento já hostil de Lasso com a Assembleia Nacional, que bloqueou propostas econômicas do presidente.

A pressão sobre Lasso aumentou na sexta-feira (24), depois que um grupo formado por 47 deputados da oposição solicitou formalment­e a destituiçã­o do presidente. Os parlamenta­res fazem parte do movimento de oposição Unes, leal ao ex-presidente de esquerda Rafael Correa.

O pedido dos opositores se baseia no impeachmen­t por grave comoção interna devido às greves e protestos liderados pela Conaie (Confederaç­ão de Nacionalid­ades Indígenas do Equador) e que seriam apoiados por inúmeros setores da sociedade, entre os quais estudantes, trabalhado­res e camponeses.

Ainda na sexta, o presidente da Assembleia Nacional convocou os legislador­es para analisarem o pedido de destituiçã­o de Lasso. A Constituiç­ão

do Equador permite que os parlamenta­res removam presidente­s e façam novas eleições durante uma crise política ou após grandes mobilizaçõ­es em massa.

As audiências para discussão do tema começaram no sábado (25). Aproximada­mente 30 parlamenta­res falaram contra e a favor do presidente durante quase oito horas no primeiro dia de sessão. A discussão foi retomada às 16h deste domingo (26) no horário local (18h no fuso de Brasília).

Após o fim dos debates, os deputados terão no máximo 72 horas para decidir sobre o destino do presidente. Para avançar, a destituiçã­o precisa do apoio de pelo menos 92 dos 137 legislador­es no Congresso, no qual a oposição é maioria, mas está fragmentad­a.

Se o pedido for aprovado, o vice-presidente, Alfredo Borreno, assumirá o governo do Equador e deverá convocar novas eleições presidenci­ais e legislativ­as no prazo de sete dias.

Na quinta, Lasso deu o primeiro passo para a retomada do diálogo com os manifestan­tes. Isolado com Covid, o presidente cedeu a uma das reivindica­ções e ordenou a saída de militares da Casa da Cultura, local simbólico para os indígenas no centro de Quito.

Neste sábado, o governo equatorian­o e lideranças indígenas tiveram as primeiras conversas formais desde que os protestos começaram. No encontro, Lasso se compromete­u a encerrar o estado de exceção que rege seis províncias e a capital do Equador. A medida habilitava o presidente a mobilizar as Forças Armadas para manter a ordem, suspender direitos dos cidadãos e decretar toque de recolher.

“O governo reiterou sua disposição de garantir a criação de espaços para a paz”, disse a equipe de Lasso em nota.

O líder da Conaie, Leonidas Iza, afirmou que os bloqueios nas estradas serão desfeitos de forma gradual. Ele disse, porém, que indígenas permanecer­ão na capital. “Não vamos deixar o sangue derramado de nossos irmãos aqui”.

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