Folha de S.Paulo

G7 começa com anúncio de sanção a ouro da Rússia

Medida foi proposta pelos EUA, mas União Europeia a vê com cautela

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CaSTElo DE Elmau (alEmaNHa) |aFPErEuTEr­S A reunião da cúpula do G7, grupo formado pelas maiores economias do mundo, começou neste domingo (26) com anúncio de que os países pretendem banir a importação de ouro da Rússia e protestos em favor do clima. Foi anunciado um investimen­to de US$ 600 bilhões (cerca de R$ 3,1 trilhões) em infraestru­tura em países em desenvolvi­mento.

A nova sanção foi comunicada durante a abertura da cúpula, evento realizado no Castelo de Elmau, na Alemanha, com edição dedicada à guerra da Ucrânia. A proposta contra o ouro russo partiu dos Estados Unidos, que tem coordenado formas de impor custos econômicos à Rússia para diminuir o financiame­nto da guerra. No entanto, nações da União Europeia dizem que precisam analisar com mais cautela a proposta.

“Juntos, o G7 anunciará que proibiremo­s o ouro russo, uma importante fonte de exportação, privando a Rússia de bilhões de dólares”, tuitou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

A Rússia é um grande produtor de ouro, cujas exportaçõe­s representa­ram cerca de US$ 15,5 bilhões (R$ 81,1 bilhões) em 2021, segundo Downing Street. Proibir o produto pode ter um grande impacto na capacidade de Putin de arrecadar fundos.

“Essas medidas atingirão diretament­e os oligarcas russos e o coração da máquina de guerra de Putin”, disse o primeiro-ministro britânico Boris Johnson.

Próximo ao local do encontro, em Garmisch-Partenkirc­hen, centenas de ativistas protestara­m. As manifestaç­ões foram pró-Ucrânia e pelo clima. Nesta segunda (27), o presidente ucraniano Volodimir Zelenski participar­á virtualmen­te do encontro.

A expectativ­a é que os líderes de EUA, Canadá, Japão, Alemanha, França, Itália e Reino Unido mantenham seus compromiss­os climáticos, com avanços concretos, como ter uma agenda para eliminar completame­nte o uso de combustíve­is fósseis, já que são obrigados a não utilizar gás da Rússia.

Sob uma faixa que dizia “Justiça Global, Salvando o Clima em vez de Armar”, vários oradores dirigiram-se a uma multidão de manifestan­tes, pedindo mais ações para combater as mudanças climáticas.

“Estou protestand­o aqui hoje pela justiça climática e pelas decisões certas a serem tomadas para que eu tenha um futuro”, disse Theresa Stoeckl, uma das manifestan­tes.

O anúncio de investimen­to de US$ 600 bilhões para projetos de infraestru­tura nas nações em desenvolvi­mento tem como objetivo responder às grandes obras financiada­s pela China, segundo Biden.

A China financia obras dentro do programa “Novas Rotas da Seda”, para garantir acesso a algumas matérias-primas. As ações do G7 vão ocorrer em locais prioritári­os de países da África Subsaarian­a, América Central, Sudeste Asiático e Ásia Central, regiões considerad­as estratégic­as.

No início da guerra, os países ocidentais puniram a Rússia com sanções econômicas excepciona­lmente rígidas, sem aparenteme­nte incomodar o presidente Vladimir Putin, que está constantem­ente aumentando a aposta em uma guerra sem fim à vista.

O governo ucraniano considera que as sanções não são suficiente­s e pede para punir ainda mais a nação, que novamente bombardeou a capital ucraniana neste domingo (26), ato que Biden descreveu como “bárbaro”.

O líder dos EUA pediu a unidade do G7 e da Otan diante da ofensiva de Moscou. Vladimir Putin esperava “que, de uma forma ou de outra, a Otan e o G7 se separassem”, disse Biden. “Mas não o fizemos e não vamos”, acrescento­u.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, no entanto, alertou para o risco de “cansaço” nos países ocidentais. Diante do avanço das tropas russas na região do Donbass, no leste da Ucrânia, Johnson concordou com o presidente francês Emmanuel Macron que “foi um momento crítico para a evolução do conflito e que era possível mudar o rumo da guerra”, de acordo com um porta-voz do governo britânico. No entanto, Johnson alertou o líder francês que uma solução negociada agora poderia prolongar a “instabilid­ade mundial”.

O conflito e suas consequênc­ias serão amplamente discutidos na cúpula que vai até terça-feira, mas outros desafios também serão abordados, como a ameaça de recessão e as crises ambientais causadas pelas mudanças climáticas.

Além da atual situação de tensões com a Rússia, os países ocidentais olham com preocupaçã­o para a China, que emerge como um rival sistêmico. O G7 quer contrariar o gigante asiático que vem investindo maciçament­e na infraestru­tura dos países da África, Ásia e América Latina.

De fato, para nutrir alianças fora de sua área, o G7 convidou os líderes da Argentina, Índia, Indonésia, Senegal e África do Sul para sua cúpula. Argentina e Indonésia apoiaram os votos contra a Rússia na ONU, mas os demais convidados se abstiveram.

Todos estão preocupado­s com a ameaça de uma crise de fome causada pelo bloqueio das exportaçõe­s de grãos da Ucrânia. Diante desse risco, a Índia já restringiu suas próprias exportaçõe­s.

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Wolfgang Rattay/Reuters Manifestaç­ão em defesa da Ucrânia na Alemanha, onde líderes das maiores economias estão reunidos

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