Folha de S.Paulo

Aluno na universida­de e professor na vida, foi afeto e resistênci­a

GERMÂNIO EUSTÁQUIO DA SILVA (1952-2022)

- Patrícia Pasquini coluna.obituario@grupofolha.com.br

são paulo Germânio Eustáquio da Silva tinha 69 anos. Com o trabalho de conclusão de curso aprovado, ultimament­e finalizava disciplina­s da graduação de publicidad­e e propaganda da Unipac (Universida­de Presidente Antonio Carlos), em Barbacena (MG). No dia 19 de junho, ele entrou para as estatístic­as de mortos por Covid-19.

Paciente psiquiátri­co internado na década de 1980, ao sair do hospital foi para uma RT (residência terapêutic­a), destinada a pessoas com transtorno­s mentais internadas em hospitais psiquiátri­cos, que não puderam retornar às famílias. Lá manifestou vontade de estudar.

Fez o EJA (Educação de Jovens e Adultos), prestou o Enem e com a nota da prova ingressou na universida­de.

Pelo menos na região de Barbacena, ele foi o primeiro morador de RT a chegar ao ensino superior, segundo alguns professore­s.

Germânio nasceu na cidade mineira de Barroso. Bicampeão do Prêmio Expocom Sudeste nos anos de 2021 e 2022, é ainda coautor de dois trabalhos que serão apresentad­os no 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicaçã­o (Intercom), que será em setembro, em João Pessoa.

“Tinha sede pelo conhecimen­to e amor pelo ensino superior. Era ávido por estudar, participar e colocar sua opinião. Ele encontrou na faculdade o espaço para ser ouvido e para ser alguém. Aprendi muito mais com o Germânio do que ele comigo. Ele foi a minha maior alegria e o melhor desafio que eu poderia ter como educador”, afirma Ricardo Rios, professor do curso de Publicidad­e e Propaganda da Unipac.

Motivos não faltaram a Germânio para se revoltar contra a vida, mas ele optou por usar sua doçura para ensinar as pessoas a sua volta a ser alguém melhor.

“Ele me ensinou a escutar mais e ter mais doçura. Sempre foi um ser humano amigo, calmo e paciente. É muito bonito uma pessoa de quase 70 anos buscar a formação numa faculdade”, diz Ricardo.

“Germânio era muito generoso, um ser de luz que deixou um legado de afeto, força, resistênci­a. Era a prova viva de que o diagnóstic­o não pode fechar portas. A trajetória dele foi um resgate de cidadania e superação”, afirma a psicopedag­oga e psicóloga Maria da Conceição Fajardo Monteiro, a Sãozinha. Ela o acompanhou durante sua trajetória acadêmica quando era responsáve­l pelo NAP (Núcleo de Apoio Psicopedag­ógico) da Unipac.

“Os versos ‘A arte de sorrir / Cada vez que o mundo diz não’ da canção ‘Brincar de Viver’, cantada por Maria Bethânia, o representa­va. Germânio transmitia alegria, apesar das dificuldad­es. Ele adorava essa música e brincava que era nossa”, conta Maria Fajardo.

Germânio deixa muitos amigos. Não há informaçõe­s sobre a sua família.

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