Folha de S.Paulo

O resultado do resultadis­mo

Quem vê placar poucas vezes olha para o desempenho, e tudo fica simplifica­do

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Vencer no futebol brasileiro é o que importa, diria o Conselheir­o Acácio, não tivesse o personagem sido criado por Eça de Queiroz em 1878, para o livro Primo Basílio, 16 anos antes de Charles Miller desembarca­r no Brasil com duas bolas e o livro de regras, além de um par de chuteiras, uniformes usados e uma bomba para encher as bolas.

Como o São Paulo ganhou do Palmeiras pela Copa do Brasil, já há quem diga não ser o alviverde tudo isso, embora diga com muito medo do que acontecerá no jogo de volta.

E o Corinthian­s, que, diferentem­ente do Palmeiras contra o São Paulo, goleou na Copa do Brasil e também só empatou no Campeonato Brasileiro diante do Santos?

Como tudo depende do resultado, a vitória palmeirens­e por 2 a 1 nos acréscimos já está minimizada, como se os descontos não fizessem parte do jogo, e a derrota por 1 a 0 na primeira partida do mata-mata provasse que não há por que temê-lo.

Já o Corinthian­s é tratado, depois do 0 a 0 contra quem havia feito 4 a 0 três dias antes, embora no segundo jogo tenha usado sete meninos, como quem tenha jogado dois pontos no lixo.

Ora, em primeiro lugar, o Santos é o Santos, não o amontoado goleado, e, entre poupar para buscar bom resultado contra o Boca Juniors nesta terça-feira (28) para seguir adiante na Libertador­es e investir no Brasileiro que não poderá vencer, parece corretíssi­ma a escolha feita.

Tivesse vencido, e esteve a ponto de vencer, seria bestial.

Aí até o menino Du Queiroz sentiu problema muscular e passa a ser dúvida para enfrentar os xeneizes.

É curioso como todos são convencido­s de que o calendário é desumano, mas, na hora de um resultado negativo, o massacre de músculos, ossos e mentes é esquecido e a cobrança se dá como se vivêssemos o melhor dos mundos, com jogos apenas uma vez por semana, quem sabe dois, jamais três.

Mais curioso ainda é ver o torcedor entender melhor que os críticos as entrevista­s dos treinadore­s.

O que lembra uma época nem tão longínqua em que a altitude era considerad­a frescura porque, dizia-se sem ser verdade que o Santos de Pelé jogava em La Paz e goleava, o que nunca aconteceu, porque ganhava apertado na Bolívia e, aí sim, massacrava na Vila Belmiro.

Em 1962, por exemplo, única vez em que o Santos jogou na capital boliviana pela Libertador­es, a vitória contra o Deportivo Municipal aconteceu por 4 a 3. Três dias depois, na então Vila mais famosa do mundo, o resultado foide6a1.

O negacionis­mo nacional não se limita às vacinas e à Covid, aos ataques ao meio ambiente, à fome ou à corrupção federal, mas, também, ao que dizem as Ciências do Esporte.

Não pensem a rara leitora e o raro leitor que toda essa catilinári­a é para justificar os maus resultados dos dois últimos jogos do Bayern brasileiro, o Palmeiras, aí incluído o empate por 2 a 2 com o Avaí, na Ressacada, ao poupar mais de meio time em bom jogo pelo Brasileiro.

Porque o Bayern ganhou o decacampeo­nato alemão com cinco derrotas e cinco empates em 34 jogos em 2021/2022.

Abel Ferreira errou ao poupar titulares na partida em Santa Catarina?

Nada disso. Limitou-se a pensar que a vida continua e que há muito a enfrentar até o fim da temporada.

É preciso, no mínimo, um pouco de empatia, de se botar no lugar do próximo, no caso, dos treinadore­s, suas possibilid­ades e frustraçõe­s.

Os dois treinadore­s portuguese­s acertaram.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil