Folha de S.Paulo

China quer trazer rochas de Marte dois anos antes da Nasa

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

A China pretende trazer amostras de Marte dois anos antes do esforço que está sendo planejado de forma conjunta por americanos e europeus. Se isso não é um sinal claro de que temos uma nova corrida espacial em andamento, não sei o que seria.

A revelação veio como uma surpresa durante apresentaç­ão feita na última segundafei­ra (20) por Sun Zezhou, projetista-chefe da missão chinesa Tianwen-1, que no ano passado levou um orbitador, um módulo de pouso e um rover ao planeta vermelho. Que os chineses estavam planejando um retorno de amostras marcianas para o futuro do seu programa, já se sabia. Mas a arquitetur­a e o cronograma eram desconheci­dos, até agora.

O esforço será mais simples que a iniciativa combinada da Nasa e da ESA, agências espaciais americana e europeia. A rigor, para esses dois, a missão de retorno de amostras já começou com o rover americano Perseveran­ce, que está colhendo material marciano escolhido cuidadosam­ente e colocando em tubos. Uma missão futura levaria um novo rover a Marte para colher esses tubos e colocá-los em um foguete, a ser instalado na superfície marciana por um módulo de pouso. O veículo então levaria uma cápsula à órbita de Marte, que se encontrari­a com uma nave-mãe a ser lançada pelos europeus em 2027, com capacidade para se propelir de volta à Terra, retornando com as preciosas amostras em 2033.

Já o plano chinês é mais simples e explora sucessos recentes do programa, como o retorno bem-sucedido de amostras lunares com a Chang’e-5 (2020) e o sistema de pouso marciano da própria Tianwen-1. Serão dois lançamento­s apenas: um levará uma nave-mãe à órbita marciana para a volta, e o outro, um módulo de pouso e ascensão capaz de coletar amostras com alguma mobilidade, potencialm­ente envolvendo um robô com quatro patas.

O módulo de ascensão, para a decolagem em Marte, teria dois estágios, suficiente­s para atingir a velocidade orbital de 16,2 mil km/h e realizar o encontro com a nave-mãe (o planeta vermelho tem menos massa que a Terra, de modo que a velocidade necessária para atingir a órbita é menor que os cerca de 27 mil km/h requeridos por aqui).

O pouso em Marte se daria em setembro de 2029, a partida da órbita marciana ocorreria em outubro de 2030 e o retorno das amostras à Terra, em julho de 2031 —dois

[ Que os chineses estavam planejando um retorno de amostras marcianas para o futuro do seu programa, já se sabia. Mas a arquitetur­a e o cronograma eram desconheci­dos, até agora

anos antes do que se espera para as rochas atualmente sendo colhidas pelo Perseveran­ce.

O retorno de amostras de Marte é tido como um dos objetivos mais ambiciosos da exploração espacial atualmente —o meio mais confiável de tentarmos saber se houve ou não vida no passado do planeta vermelho—, e a China sozinha conseguir fazer isso na frente de americanos e europeus vai certamente acender um bocado de luzinhas vermelhas. Mas, claro, por ora é apenas um plano. E, como os chineses costumam jogar com as cartas bem perto do peito, só vamos saber se esse cronograma se mantém quando estivermos mais perto dos lançamento­s.

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