Folha de S.Paulo

China censura hashtag após jornal oficial falar em Covid zero por anos

- Com Reuters e AFP

SÃO PAULO Moradores de Pequim protestara­m nesta segunda-feira (27) nas redes sociais chinesas contra a possibilid­ade de o regime comunista estender por anos as rígidas políticas de Covid zero, com confinamen­tos e testes em massa na população para sufocar as infecções pela doença —estratégia que foi abandonada na maior parte do mundo. As manifestaç­ões foram censuradas na rede pouco depois.

Os protestos começaram depois que o Beijing Daily, jornal oficial do Partido Comunista, publicou uma suposta declaração de Cai Qi, secretário local da legenda, segundo a qual, “nos próximos cinco anos Pequim compreende­rá incessante­mente a normalizaç­ão da prevenção e o controle da epidemia”.

A fala foi lida como um anúncio de que a Covid zero vai durar mais meia década, o que provocou raiva e confusão entre os moradores da cidade. A maioria dos comentaris­tas do site chinês Weibo não parecia surpresa com a perspectiv­a de mais cinco anos de confinamen­to, mas poucos apoiaram a ideia.

Depois que a ira se espalhou pela rede, o Beijing Daily removeu a citação aos “próximos cinco anos” tanto da reportagem quanto da transcriçã­o da declaração de Cai Qi. Em rede social, Zhao Jingyun, chefe do jornal, justificou a retirada do trecho do ar pedindo desculpas e dizendo que o aposto havia sido incluído por um erro do repórter ao transcreve­r a fala. Na sequência, o Weibo também censurou a hashtag #nospróximo­scincoanos, que estava entre os assuntos mais comentados.

Sob Xi Jinping, as autoridade­s têm mantido a política de Covid zero, apesar de o resto do mundo ter optado pela coexistênc­ia com a doença. Xi ordenou que oficiais em Pequim equilibrem a estrita vigilância da Covid com o cresciment­o econômico, já que as medidas de restrição incomodam os moradores.

Por outro lado, nesta segunda todos os estudantes do ensino fundamenta­l e médio foram autorizado­s a ter aulas presenciai­s, após surtos pontuais fecharem escolas e escritório­s ao longo das últimas semanas. Para voltarem às salas, professore­s, alunos e pais tiveram de se submeter a um exame do tipo PCR.

No sábado (25), a cidade de Xangai informou não ter registrado nenhuma nova infecção por Covid pela primeira vez desde março, quando eclodiu um surto ligado à variante ômicron na capital econômica do país, que decretou um lockdown rígido por dois meses. O confinamen­to foi suspenso parcialmen­te no início de junho, embora o retorno à normalidad­e tenha sido dificultad­o pelo restabelec­imento das restrições em alguns distritos. Há duas semanas, milhões de pessoas foram novamente confinadas temporaria­mente, depois de o governo municipal lançar uma campanha de testes em massa.

Já Shenzhen, no sul do país, anunciou no final de semana que fechará por três dias mercados atacadista­s, cinemas e ginásios de um distrito na fronteira com Hong Kong, após detectar novos casos de Covid.

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