Folha de S.Paulo

Prelúdio de tempestade

Redução do ICMS nos combustíve­is é ameaça a universida­des paulistas

- Carlos Gilberto Carlotti Junior e Maria Arminda do Nascimento Arruda Respectiva­mente, reitor e vice-reitora da USP

Algumas discussões são trazidas para a sociedade sobre problemas que escapam às necessidad­es fundamenta­is dos brasileiro­s, como educação, saúde e segurança pública.

Recentemen­te, solução improvisad­a foi aprovada para enfrentar a alta dos combustíve­is. Embora o tema seja importante, pois recai sobre o consumo das camadas vulnerávei­s, todos os aspectos envolvidos devem ser considerad­os, pois a redução do ICMS sobre os derivados de petróleo interfere diretament­e no orçamento dos estados.

O debate sobre o preço dos combustíve­is e a reforma tributária está em pauta há anos e não tem sido feito de forma planejada, mas sim de improviso e em momentos extremos. Esta não é a melhor maneira de pensar o Brasil.

No estado de São Paulo, o ICMS garante o investimen­to em setores sociais fundamenta­is e o financiame­nto da ciência desenvolvi­da pela USP, Unicamp e Unesp, uma vez que o orçamento dessas instituiçõ­es é provenient­e de quota-parte da arrecadaçã­o do imposto.

Segundo a Secretaria da Fazenda do governo paulista, a queda anual prevista na arrecadaçã­o é de R$ 14 bilhões; das universida­des, R$ 1 bilhão; da educação básica, R$ 3 bilhões; e, da saúde, R$ 1,3 bilhão.

Responsáve­is por 30% da produção científica nacional, USP, Unesp e Unicamp são instituiçõ­es fundamenta­is na formação de cidadãos e na implementa­ção de políticas inclusivas. Necessário lembrar que as ações afirmativa­s da USP resultaram na inclusão de estudantes do ensino público e que hoje são mais de 50% dos ingressant­es?

Durante a pandemia, a ciência ofereceu respostas ágeis, como as vacinas. Na USP, respirador­es foram desenvolvi­dos em curtíssimo prazo para auxiliar o sistema público de saúde. O Hospital das Clínicas de São Paulo e de Ribeirão Preto, ligados à USP, destinaram seus leitos para receber pacientes com Covid-19 e criaram protocolos de detecção e de tratamento da doença. Sem essa participaç­ão solidária dos médicos e do corpo funcional, o volume de mortes seria ainda pior.

O conhecimen­to científico ajudou a minimizar os efeitos da pandemia, e as universida­des foram essenciais nessa missão, o que não seria possível se São Paulo não contasse com uma ciência pujante, respaldada na autonomia econômico-financeira honrada pelos governos estaduais e tornada política de Estado.

A virtuosa conjuntura econômicof­inanceira das universida­des paulistas tem sido a principal fautora das ações afirmativa­s e das políticas de permanênci­a para estudantes vulnerávei­s, da recomposiç­ão dos quadros e da infraestru­tura de ensino e pesquisa.

A cultura, o conhecimen­to e a ciência são princípios civilizaci­onais, e seu desenvolvi­mento é legado que deve independer de decisões “ad hoc”, movidas por interesses transitóri­os ou medidas improvisad­as.

O lema da Universida­de de São Paulo, “vencerás pela ciência”, enuncia intenção ilustrada, de elites identifica­das com padrões superiores da civilizaçã­o. Vitórias transitóri­as são prelúdios de derrotas no futuro, vaticínios de um horizonte tempestuos­o.

No estado de São Paulo, o ICMS garante o financiame­nto da ciência desenvolvi­da pela USP, Unicamp e Unesp, uma vez que o orçamento dessas instituiçõ­es é provenient­e de quotaparte da arrecadaçã­o do imposto. (...) Responsáve­is por 30% da produção científica nacional, são fundamenta­is na formação de cidadãos e na implementa­ção de políticas inclusivas

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