Folha de S.Paulo

Relator avalia rejeitar proposta de censura a pesquisas eleitorais

- Danielle Brant, Renato Machado e Ranier Bragon

BRASÍLIA Relator do novo código eleitoral no Senado, Alexandre Silveira( PS D-MG) proposta aprovada na Câmara que estabelece censura à publicação de pesquisas eleitorais, além da exigência de uma taxa de acerto para os institutos.

Ele também avalia mudanças nos dispositiv­os que restringem a autonomia do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

As discussões do projeto do novo código eleitoral, que incluem as alterações nas pesquisas, voltaram a ganhar fôlego no final do mês passado.

Líderes no Senado sinalizam que o texto pode ser votado antes do recesso, que começa em 18 de julho, após a aprovação de propostas que buscam baixar o preço dos combustíve­is.

Silveira manifestou apessoas próximas a intenção de amenizar, no parecer, dispositiv­os criticados por especialis­tas.

O principal alvo é o artigo que determina que pesquisas eleitorais só poderão ser divulgadas até a antevésper­a (sexta-feira) da eleição.

Hoje, os institutos podem publicar pesquisas de intenção de voto até no dia do pleito. Em geral, os principais costumam realizar pesquisas no sábado para ter um termômetro melhor sobre a intenção de voto no domingo da eleição.

Além da censura, o projeto aprovado pelos deputados exige que os institutos divulguem “taxa de acerto”, confundind­o e pesquisas de intenção de voto —que medea intenção declarada, e não o voto efetivamen­te dado— e as chamadas bocas de urna, em que são entrevista­dos eleitores que já votaram.

Os institutos reagem fortemente a essa medida, ressaltand­o que pesquisas de intenção de voto mostram uma radiografi­a do momento e não têm o objetivo de acertar o resultado do pleito.

Nas últimas semanas, o senador recebeu representa­ntes dos institutos de pesquisa para discutira questão.

Os institutos dizem que as medidas aprovadas pelos deputados são incompatív­eis, pois promovem distância maior entre a última pesquisa de intenção de voto e as eleições.

O índice de acerto é defendido, principalm­ente, por parlamenta­res mais ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

Mas Silveira teria dito aos representa­ntes dos institutos que, mesmo parlamenta­res moderados se mostraram a favor de alguma iniciativa nessa linha, para pelo menos tentar diferencia­r as entidades com maior credibilid­ade de outras menores, que, na avaliação de retamente les, podem ser usadas apenas para fins políticos.

Por isso, até mesmo para amenizar eventuais resistênci­as às mudanças relativas às pesquisas, Silveira tem sinalizado que pode incluir alguma forma de punição para autores de pesquisas manipulada­s.

Especialis­tas advertem que a medida pode ter dificuldad­es de operaciona­lização. Primeirame­nte, porque a legislação brasileira não prevê responsabi­lização criminal para empresas. Além disso, haveria dificuldad­es para identifica­r o dolo na manipulaçã­o das pesquisas e os responsáve­is diretos.

Parlamenta­res têm defendido a ideia de simplesmen­te retirar do projeto as mudanças propostas para as pesquisas eleitorais por meio de uma emenda de redação (usada normalment­e para correção de erros formais) e, após aprovação, enviar o texto dipara a sanção de Jair Bolsonaro.

Ocorre que a supressão desses pontos exigiria nova análise dos deputados, por se tratar de mudança de mérito. A responsabi­lização às empresas também seria uma alteração clara no mérito que forçaria o texto a passar por novo crivo dos deputados.

Em casos anteriores, entretanto, o Congresso já passou por cima dessas regras mediante acordo político entre os partidos.

Esta não é a primeira vez que o Congresso tenta restringir a divulgação de pesquisas eleitorais.

Em 2006, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou parte de um projeto aprovado pelos parlamenta­res que vetava a publicação de pesquisas eleitorais nos 15 dias que antecedem o pleito. O argumento dos ministros foi o de que a medida restringia o direito dos eleitores à informação.

O senador também sinalizou a interlocut­ores que pode mexer em dispositiv­os que dão ao Congresso poder de cassar resoluções do TSE. O texto aprovado diz ainda que, para valer nas eleições, essas resoluções terão que ser emitidas com antecedênc­ia mínima de um ano.

No final de maio, o presidente do TSE, Edson Fachin, enviou manifestaç­ão ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmando que o código esvazia as competênci­as da corte e pode ameaçar a separação entre Poderes.

No documento, Fachin defendeu que o uso do poder regulament­ar é ferramenta de uso cotidiano da Justiça Eleitoral “e, inquestion­avelmente, essencial”.

O projeto do novo código eleitoral foi aprovado pelos deputados em setembro do ano passado, em uma tramitação acelerada, criticada por não seguir o rito de apreciação de um código.

Eleito em fevereiro do ano passado, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidiu criar um grupo de trabalho para consolidar toda legislação eleitoral e estabelece­r o código unificado, sob relatoria da aliada Margarete Coelho (PP-PI).

Com a votação a toque de caixa, a intenção inicial dos deputados era de que o código já estivesse em vigor para as eleições deste ano. No entanto, os senadores se recusaram a analisar de forma apressada o texto, que tem 898 artigos.

No Senado, a proposta estava a cargo do ex-senador Antonio Anastasia (PSD-MG), que acabou abandonand­o o seu mandato ao ser eleito para uma vaga de ministro do TCU (Tribunal de Contas da União).

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