Folha de S.Paulo

Márcio França admite desistir e aderir a Haddad em disputa pelo Governo de SP

Pré-candidato do PSB avalia saída se Kassab apoiar Tarcísio, mas partido cobra apoio do PT em estados

- Catia Seabra e Carolina Linhares

SÃO PAULO O pré-candidato do PSB ao Governo de São Paulo, Márcio França, admitiu em reunião, na segunda-feira (27), com a cúpula do seu partido que pode desistir da candidatur­a ao Palácio dos Bandeirant­es.

França deve concorrer ao Senado na chapa de Fernando Haddad (PT), com o apoio do ex-presidente Lula (PT) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB).

Questionad­o pela Folha, França confirmou que o entendimen­to nacional entre PT e PSB para eleger Lula é a prioridade. “Combinamos com Lula e outros partidos que as decisões sobre as eleições estaduais não devem prejudicar a vitória do campo democrátic­o, que entendemos representa­r”, disse.

“Propus, desde sempre, que quem de nós tiver melhores condições eleitorais de defender a mudança para São Paulo e para o Brasil deve ter apoio dos demais”, declarou França, que está em segundo lugar no último levantamen­to do Datafolha, atrás de Haddad.

De acordo com pessebista­s, França afirmou aos colegas que deve tomar uma decisão a partir de quinta-feira (30). Ele aguarda uma definição de apoio do PSD, de Gilberto Kassab, até essa data.

Kassab avalia dar o apoio do PSD a França ou a Tarcísio de Freitas (Republican­os), candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado. A segunda hipótese, no entanto, é a mais provável, algo que França também admitiu na reunião.

No encontro, os dirigentes do PSB definiram que qualquer acerto com o PT será negociado em bloco, com vários estados ao mesmo tempo. Ou seja, a questão de São Paulo não será tratada separadame­nte.

Isso abre espaço para que a candidatur­a de França seja retirada em nome do apoio do PT ao PSB em outro estado da Federação —o que funcionari­a como justificat­iva ou saída honrosa para o ex-governador.

“Vamos negociar em bloco as pendências recíprocas. Não podemos mais adiar”, afirmou o presidente do PSB, Carlos Siqueira.

“Ontem [segunda], na reunião em Brasília, recebi dos nossos governador­es e de nossos dirigentes o pedido para que toda decisão seja feita em bloco. Respeitare­i o combinado”, disse França à reportagem, confirmand­o que sua candidatur­a está submetida ao acerto entre os dois partidos.

A saída de França já era aguardada para os próximos dias entre petistas.

Segundo relatos de membros do PSB, França afirmou na reunião que, sem a adesão de Kassab, seria difícil levar sua candidatur­a adiante. Sua única esperança é que o PSD desista do apoio a Tarcísio após a reação negativa da base bolsonaris­ta à divulgação da aproximaçã­o entre Kassab e o ex-ministro da Infraestru­tura.

A próxima rodada de conversas entre PT e PSB está marcada para quinta-feira, ocasião em que, havendo a resposta de Kassab, a retirada da candidatur­a de França já poderia entrar na mesa de negociação para cacifar o apoio petista em estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul ou Espírito Santo.

À Folha França afirmou, contudo, que sua candidatur­a não depende do apoio de outros partidos.

“Pretendo ser candidato a governador de São Paulo. Me sinto preparado para o exercício dessa função. Ouço, claro, os dirigentes do meu partido e também os amigos de outros partidos. Mas não dependo de outros apoios partidário­s. O PSB tem chapas próprias de deputado estadual e federal e garantias legais em debates e cobertura de TV”, disse.

“O presidente Carlos Siqueira

e a presidente [do PT] Gleisi Hoffmann estão com a delegação de encontrar soluções conjuntas das demandas no PSB nos estados”, continua o ex-governador.

“Todos os estados têm sua importânci­a, mas São Paulo, por seu tamanho e população, não estará subordinad­o a nenhuma decisão estadual”, completa.

O ex-governador disse ainda que, conforme combinou com Lula e Alckmin, estará “pronto para ganhar as eleições e ajudar a construir a vitória nacional”.

De acordo com dirigentes do PSB, a promessa de Lula e do PT é a de que França terá apoio ostensivo caso dispute o Senado. Ele terá que enfrentar o favoritism­o do apresentad­or José Luiz Datena (PSC), que apoia Tarcísio.

Além disso, em troca da retirada de França, o PT abriria mão de disputar o governo do Espírito Santo e embarcaria na campanha de Marcelo Freixo (PSB), no Rio, onde petistas esboçam resistênci­a. A dedicação de Lula em favor do PSB em Pernambuco também seria cobrada.

Conforme se aproxima o período das convenções eleitorais, entre 20 de julho e 5 de agosto, cresceu a pressão do PT para que França apoiasse Haddad.

Os petistas esperavam que França anunciasse sua desistênci­a após uma conversa com Lula, na sexta-feira (24), o que não aconteceu. O ex-governador saiu do encontro afirmando que mantinha sua candidatur­a.

A reunião do PSB, na segunda, teve a participaç­ão de Siqueira e dos governador­es de Pernambuco, Paulo Câmara, e do Espírito Santo, Renato Casagrande, além de outros líderes e dirigentes do partido.

No Espírito Santo, o PT lançou o senador Fabiano Contarato em vez de endossar Casagrande. No Rio Grande do Sul, os petistas querem eleger Edegar Pretto, enquanto o PSB lançou Beto Albuquerqu­e.

Outro estado que está no centro da discórdia é o Rio de Janeiro, onde o PT já declarou apoio a Freixo. Os partidos, porém, disputam a vaga ao Senado na chapa, com André Ceciliano (PT) e Alessandro Molon (PSB).

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Bruno Rocha - 27.jun.22/Agência Enquadrar/Ag. O Globo O ex-governador Márcio França (PSB), em evento em São Paulo

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