Folha de S.Paulo

Postos já recebem gasolina com desconto de tributo federal; ministro tenta agilizar repasse

- Nicola Pamplona e Danielle Brant

rio de Janeiro e brasília Enquanto estados ainda tentam reverter na Justiça o corte do ICMS, postos de combustíve­is já começam a receber gasolina com desconto na parcela dos impostos federais, que foram zerados pela mesma lei que estabelece­u teto para a alíquota do imposto estadual.

O desconto ainda é gradual e concentrad­o em regiões próximas a refinarias, já que o repasse depende dos estoques das distribuid­oras, mas o governo negocia com o setor uma alternativ­a para agilizar os cortes nos preços dos combustíve­is.

Segundo o setor de revenda, postos no Rio e no Paraná, por exemplo, já recebem gasolina mais barata das distribuid­oras. O governo zerou as alíquotas de PIS/Cofins e Cide, que somavam R$ 0,69 por litro, ou 9,3% do preço recorde atingido pelo combustíve­l na semana passada.

“As distribuid­oras, de uma forma geral, começaram a repassar gradualmen­te aos postos as alíquotas zeradas nos tributos federais”, disse, em nota, o Paranapetr­o, que representa o comércio varejista de combustíve­is no Paraná.

Proprietár­ia de uma rede de postos no Rio, a empresária Maria Aparecida Siuffo disse que já percebeu uma queda no valor de seus pedidos. “As companhias estão passando aos poucos o PIS e Cofins. Ainda não terminaram.”

Em audiência na Câmara nesta terça-feira (28), o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, afirmou que está em contato com as empresas e a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombust­íveis) para buscar uma solução para agilizar os repasses.

A proposta é permitir a venda consignada de combustíve­is das refinarias às distribuid­oras. Nesse modelo, as empresas de distribuiç­ão pegam produtos nas refinarias, mas as notas fiscais só são emitidas após o corte nos impostos.

Assim, todo o estoque que entrar nas distribuid­oras já passaria a ter o desconto do corte de impostos. Sem essa medida, a expectativ­a do setor é que o repasse só chegue integralme­nte aos postos em um prazo de 10 a 15 dias.

A proposta de venda consignada foi apresentad­a pelas próprias distribuid­oras ao governo, diante do temor de que a demora para desovar os estoques gerasse questionam­entos e pressão para agilizar o repasse mesmo com prejuízos, o que ocorreu na greve dos caminhonei­ros de 2018.

A redução de impostos sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro na sexta (24) afeta principalm­ente a gasolina. Para o diesel, os impostos federais já estavam zerados, e o ICMS, abaixo do teto na maior parte dos estados.

Apenas com o teto do ICMS sobre a gasolina, o corte médio no país será de R$ 0,657 por litro, segundo cálculos do consultor Dietmar Schupp. Com os dois impostos, Sachsida prevê uma redução média de 21% no preço final.

Insatisfei­tos com a ingerência do governo sobre suas políticas tributária­s, 11 estados e o Distrito Federal foram ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar suspender a vigência da lei do teto do ICMS.

Na segunda (27), porém, os São Paulo e Goiás decidiram antecipar corte no imposto estadual. Em São Paulo, a expectativ­a é que a gasolina caia R$ 0,48 por litro na bomba. Em Goiás, R$ 0,85 por litro.

A diferença é explicada pelas alíquotas antigas. São Paulo está entre os estados com menor carga tributária sobre os combustíve­is e cobrava 25% sobre a gasolina. Em Goiás, a alíquota era de 30%.

Ainda há dúvidas sobre a manutenção do congelamen­to dos preços de referência para o cálculo do ICMS, que vence nesta quinta (30). O imposto é calculado sobre uma estimativa feita pelos estados nos postos, conhecida como PMPF (preço médio ponderado ao consumidor final).

Hoje, o ICMS é cobrado sobre o PMPF de setembro, quando a gasolina custou, em média no país, R$ 6,078 por litro. A atualizaçã­o desse valor para o preço atual (média de R$ 7,390 por litro), engolirá ao menos parte dos cortes de impostos aprovados pelo Congresso.

STF dá 24 horas para governo avaliar propostas sobre ICMS

BRASÍLIA | REUTERS O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), deu prazo de 24 horas para que o governo federal avalie propostas apresentad­as pelos estados para superar o impasse em torno da cobrança do ICMS que incide sobre os combustíve­is.

Em comunicado divulgado após a reunião de conciliaçã­o entre as partes nesta terça-feira (28), os entes da Federação se mostraram preocupado­s com a “queda abrupta” de arrecadaçã­o, e, na tentativa de chegar a um consenso, foram propostos quatro itens de um acordo.

O primeiro ponto proposto pelos estados é que a base de cálculo dos ICMS sobre o diesel seja na média dos últimos 60 meses.

Os estados também querem que não haja vinculação da alíquota modal com o tema da essenciali­dade, para que não sejam reduzidas as parcelas do Fundo de Combate à Pobreza.

Os entes regionais pedem ainda que as alíquotas do ICMS sobre operações de fornecimen­to de combustíve­is em patamar superior à cobrada sobre as operações em geral sejam aplicadas apenas a partir de 2024, conforme já decidiu o STF em julgamento anterior.

Por último, os estados solicitam a retirada da inclusão da Tust (Tarifa de Uso do Sistema de Transmissã­o de Energia Elétrica) e da Tusd (Tarifa de Uso do Sistema de Distribuiç­ão de Energia Elétrica) na base de cálculo do ICMS até que o processo que discute o assunto seja finalizado no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

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