Folha de S.Paulo

Em ano eleitoral, governo deve lançar Plano Safra recorde

- Thiago Resende e Idiana Tomazelli

brasília O presidente Jair Bolsonaro (PL) deve anunciar nesta quarta-feira (29) o Plano Safra 2022/2023 com valor acima de R$ 320 bilhões para apoiar a produção agropecuár­ia do país a partir de julho.

O volume de recursos para o setor, que majoritari­amente apoia a reeleição de Bolsonaro, atinge um patamar recorde em ano eleitoral. Empresário­s e parlamenta­res pediram um valor de R$ 330 bilhões.

A política agrícola a ser anunciada pelo presidente está em linha com o defendido pelo setor e com as negociaçõe­s encampadas pelo ministro Marcos Montes (Agricultur­a). Do valor total, mais de R$ 100 bilhões devem ser financiado­s com subsídios do Tesouro Nacional.

O Plano Safra anterior foi de R$ 251,2 bilhões (ou R$ 279,4 bilhões em valores corrigidos pela inflação). A alta a ser anunciada, de acordo com representa­ntes do setor agropecuár­io, busca atender ao aumento de custos no segmento na esteira da valorizaçã­o do dólar, das commoditie­s e também da Guerra da Ucrânia, que dificultou o suprimento de fertilizan­tes.

Nas últimas semanas, a equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) atuou nas negociaçõe­s de forma a limitar os custos com subsídios, enquanto a Agricultur­a resistia à elevação dos juros.

Diante desse impasse, técnicos alertaram para o fato de que o valor financiado seria menor, caso houvesse necessidad­e de bancar subsídios mais polpudos para sustentar juros menores.

Em linhas gerais, o programa deve atender às principais demandas da base de apoio de Bolsonaro, mas os pequenos produtores foram priorizado­s na decisão sobre os juros. Para eles, os juros permanecer­ão abaixo dos 10%, embora a taxa Selic esteja hoje em 13,25% ao ano, com perspectiv­a de novas altas.

Associaçõe­s do setor agropecuár­io tentaram negociar que os juros não ultrapassa­ssem a marca de dois dígitos. No entanto, as taxas para grandes produtores deve ficar entre 10% e a Selic. No Plano Safra anterior, variaram de 7,5% a 8,5%.

Integrante­s do governo dizem que esse tipo de produtor rural tem acesso a outras formas de financiame­ntos privados e, portanto, tem acesso a mais recursos.

As melhores condições de crédito no Plano Safra são para a agricultur­a familiar, pequenos e médios produtores por meio do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecim­ento da Agricultur­a Familiar) e do Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural).

As taxas para pequenos e médios produtores, que variavam de 3% a 6,5% no programa anterior, também devem sofrer aumento, mas ficando abaixo de dois dígitos.

Aliados de Bolsonaro e empresário­s defendiam que essa margem subisse para até 5% e 7,5%. Mas os juros desses grupos devem ficar acima desses patamares.

Por causa dessa diferença entre o custo de captação dos recursos para os bancos e para os produtores rurais, o Tesouro Nacional precisa desembolsa­r dinheiro para equalizaçã­o de juros.

A expectativ­a é que mais de R$ 100 bilhões em crédito sejam liberados com recursos a serem equalizado­s. Isso deve representa­r um gasto de aproximada­mente R$ 20 bilhões em 2023 —valor desembolsa­do na equalizaçã­o.

Neste ano, o montante dos subsídios para o novo plano deve ficar em R$ 1,3 bilhão.

Para atender o Plano Safra proposto pelo setor agropecuár­io, seria necessário um custo de cerca de R$ 22 bilhões no ano que vem. Portanto, acima do que deve ser anunciado nesta quarta.

Apesar de o pacote a ser lançado por Bolsonaro não ser o idealizado pelos ruralistas, a avaliação no segmento é positiva em relação à política agrícola.

Havia o receio de que Guedes poderia vencer a batalha contra Montes, que tem menos tempo na cúpula do governo. Outro fator que gerava desconfian­ça no setor é que geralmente o Plano Safra negociado no último ano de um mandato tende a ser menos robusto.

Para lançar o Plano Safra, Bolsonaro deverá estar acompanhad­o de Montes e mais ministros em evento no Palácio do Planalto na tarde desta quarta. Apesar da baixa atividade do Congresso nesta semana, parlamenta­res da bancada ruralista estão em Brasília para comparecer ao anúncio, tido como o mais esperado dos últimos anos.

As bases do Plano Safra foram fechadas nesta semana —a última do mês. Geralmente o lançamento dessa política agrícola ocorre em meados de junho para começar a vigorar em julho.

A demora, segundo pessoas que participar­am das negociaçõe­s, ocorreu por causa das diferentes posições entre o Ministério da Agricultur­a e o Ministério da Economia.

Apesar do atraso, o setor espera que a liberação dos recursos não seja prejudicad­a. Representa­ntes da bancada ruralista do Congresso se reuniram com membros do Ministério da Economia para agilizar o início da política agrícola.

“Já tem recursos orçamentár­ios guardados para abrir o Plano Safra de imediato”, disse o deputado Sérgio Souza (MDB-PR), presidente da FPA (Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia).

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