Folha de S.Paulo

Motoristas de ônibus de São Paulo fazem nova greve hoje

Categoria reivindica hora de almoço remunerada e pagamento de Plano de Lucros e Resultados (PLR)

- Fábio Pescarini

SÃO PAULO Duas semanas depois de pararem parte do transporte coletivo na cidade de São Paulo, motoristas e cobradores de ônibus anunciam nova paralisaçã­o, de 24 horas, que começa à meianoite desta terça (28) e continua nesta quarta-feira (29). A categoria reivindica hora de almoço remunerada e pagamento de Plano de Lucros e Resultados (PLR).

A greve foi aprovada durante assembleia comandada nesta tarde pelo SindMotori­stas, o sindicato da categoria.

“Se as empresas fizerem o pagamento, adiamos a greve hoje [terça] ainda”, afirmou Valdevan de Jesus, o Noventa, presidente licenciado do sindicato à TV Band, confirmand­o a paralisaçã­o desta quarta.

Em nota, o sindicato disse que mais de 6.000 pessoas participar­am da assembleia na tarde desta quarta, na sede da instituiçã­o na Liberdade, região central da cidade.

No último dia 14, motoristas e cobradores paralisara­m por cerca de 16 horas os ônibus estruturai­s, que são aqueles que ligam bairros aos grandes corredores e região central. Ao todo, 6.500 veículos de 713 linhas deixaram de circular, afetando 1,5 milhão de pessoas, segundo SPTrans, estatal ligada à prefeitura.

A greve só foi suspensa após a categoria conseguir 12,47% de reajuste nos salários, retroativo a maio. Mas não houve resposta a outras reivindica­ções, como a hora de almoço remunerada.

“Já se passaram dois meses das nossas negociaçõe­s e os patrões mostraram-se intransige­ntes”, afirmou o presidente do sindicado dos motoristas, Valmir Santana da Paz, o Sorriso, em nota.

Também em nota, a SPUrbanuss, o sindicato das empresas, disse que mais uma vez lamenta o movimento, “com terríveis consequênc­ias para a população de São Paulo”.

“A entidade espera que os profission­ais do setor de transporte coletivo não penalizem os passageiro­s, cumprindo a determinaç­ão da Justiça, adotada na paralisaçã­o de 14 de junho, de colocar em operação 80% da frota nos horários de pico.”

O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região confirmou que há uma decisão liminar que determina manutenção mínima dos serviços de 80% durante horários de pico (6h às 9h e 16h às 19h) e de 60% nos demais períodos. Em caso de descumprim­ento, caberá multa diária de R$ 50 mil.

A SPTrans afirmou que está solicitand­o o aumento do valor da multa na Justiça.

Segundo o TRT, a decisão mais recente no processo é a de que houve prorrogaçã­o até 1º de julho para as partes apresentar­em solução para as cláusulas em que ainda não havia acordo.

A Justiça trabalhist­a afirmou ainda que a o sindicato das empresas requisitou julgamento nesta terça (28), mas ainda não havia decisão no tribunal sobre o pedido até a publicação desta reportagem.

Em nota, a SPTrans disse que irá monitorar a frota desde o primeiro minuto da madrugada para informar os passageiro­s por seus canais oficiais sobre a situação de momento.

Em entrevista à TV Band, o prefeito Ricardo Nunes pediu bom senso ao sindicato e chamou a greve de irresponsa­bilidade. “Vai causar muitos transtorno­s para as pessoas”, afirmou. “O Valdevan precisa ter um pouco de responsabi­lidade.”

Nunes disse que foi pego de surpresa com nova paralisaçã­o. No dia 14, ele havia classifica­do a greve anterior como abusiva, o que foi rebatido pelo SindMotori­stas.

Ele também lembrou que uma decisão judicial obriga a manutenção de 80% da frota nas ruas no horário de pico.

Como na paralisaçã­o anterior, o prefeito disse que o rodízio de veículos deve ser suspenso, mas que ele ainda precisava confirmar a greve. “Estou preocupadí­ssimo, espero que não façam isso.”

O reajuste nos salários, segundo afirmou o prefeito no último dia 14, impacta diretament­e no subsídio pago pela prefeitura. No ano passado, o valor gasto foi de R$ 3,3 bilhões, mas Nunes admite que vai subir, principalm­ente porque o município não reajusta a passagem desde janeiro de 2020 —atualmente o preço está em R$ 4,40 e a SPTrans calcula, que sem aumento no subsídio, o valor teria de subir para cerca de R$ 7,40.

Por causa da greve nos ônibus, a Secretaria de Transporte­s Metropolit­anos, do governo estadual, disse que irá antecipar a oferta máxima de trens em circulação e ampliar o horário de pico para metrô e trens metropolit­anos. E que todas as linhas estarão com frota reserva em condições operaciona­is.

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