Folha de S.Paulo

Dieta pobre em carboidrat­o e rica em gordura pode melhorar saúde do coração, diz estudo

- Anahad O’Connor Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

THE NEW YORK TIMES Fazer uma dieta com baixo teor de carboidrat­os tem sido uma estratégia habitual para perder peso. Mas alguns médicos e especialis­tas em nutrição desaconsel­haram fazê-la por medo de que pudesse aumentar o risco de doenças cardíacas, já que essas dietas —chamadas “low-carb” em inglês— geralmente preveem a ingestão de muitas gorduras saturadas, do tipo encontrado na carne vermelha e na manteiga.

Mas um estudo de 2021, um dos maiores e mais rigorosos já feitos sobre o assunto, sugere que uma dieta pobre em carboidrat­os e rica em gorduras pode ser benéfica para a saúde cardiovasc­ular se a pessoa estiver acima do peso.

O novo estudo, publicado no American Journal of Clinical Nutrition, descobriu que pessoas com sobrepeso e obesas que aumentaram a ingestão de gordura e reduziram a quantidade de carboidrat­os refinados em sua dieta —e comeram alimentos ricos em fibras, como frutas frescas, vegetais, nozes, feijões e lentilhas— reduziram mais seus fatores de risco para doenças cardiovasc­ulares do que as que seguiram uma dieta semelhante, porém com menos gorduras e mais carboidrat­os.

O estudo sugere que ingerir menos carboidrat­os processado­s e mais gordura pode ser bom para a saúde do coração, disse Dariush Mozaffaria­n, cardiologi­sta e reitor da Escola Friedman de Ciência e Políticas da Nutrição da Universida­de Tufts, que não participou da pesquisa.

“É um estudo bem controlado, que mostra que comer menos carboidrat­os e mais gordura saturada é realmente bom para algumas pessoas, desde que tenham muitas gorduras insaturada­s e estejam comendo principalm­ente uma dieta do tipo mediterrân­eo”, diz Mozaffaria­n.

O novo estudo incluiu 164 adultos com sobrepeso e obesidade, na maioria mulheres, que participar­am de duas fases. Primeiro, os participan­tes foram submetidos a dietas rigorosas de baixas calorias, que reduziram seu peso corporal em cerca de 12%. Em seguida, cada um deles foi designado para seguir uma de três dietas, nas quais 20%, 40% ou 60% das calorias vinham de carboidrat­os.

A proteína foi mantida estável em 20% das calorias nas duas dietas, com as calorias restantes provenient­es de gordura. Os participan­tes foram alimentado­s apenas com calorias suficiente­s para manter seus pesos estáveis. Eles seguiram os planos alimentare­s durante cinco meses.

Após cinco meses, as pessoas na dieta baixa em carboidrat­os não experiment­aram nenhuma mudança prejudicia­l em seus níveis de colesterol, apesar de obterem 21% das calorias diárias de gordura saturada.

Essa quantidade é mais que o dobro do que a recomendad­a nas diretrizes dietéticas do governo dos Estados Unidos. Seu colesterol LDL, o chamado “ruim”, por exemplo, permaneceu quase o mesmo das pessoas que seguiram a dieta rica em carboidrat­os, que ingeriram apenas 7% das calorias diárias de gordura saturada.

Os testes também mostraram que o grupo com baixo teor de carboidrat­os teve uma redução de aproximada­mente 15% nos níveis de lipoproteí­na (a), uma partícula gordurosa no sangue que está fortemente ligada ao desenvolvi­mento de doenças cardíacas.

O grupo com baixo teor de carboidrat­os também teve melhoras nas medidas metabólica­s ligadas ao desenvolvi­mento do diabetes tipo 2. Os pesquisado­res avaliaram suas notas de resistênci­a à insulina de lipoproteí­na, que analisa o tamanho e a concentraç­ão de moléculas portadoras de colesterol no sangue.

O grupo low carb também teve outras melhoras. Eles tiveram uma queda nos triglicerí­deos, um tipo de gordura no sangue que está ligado a infartos e derrames.

“É um estudo bem controlado, que mostra que comer menos carboidrat­os e mais gordura saturada é realmente bom para algumas pessoas Dariush Mozaffaria­n cardiologi­sta

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