Pontas soltas em SP mudam palanques de presidenciáveis
Além de haddad e Tarcísio, Rodrigo Garcia almeja reforço com a União Brasil
SÃO PAULO Semanas antes das convenções eleitorais, o expresidente Lula (PT) e o atual chefe do Executivo Jair Bolsonaro (PL) podem ter seus palanques fortalecidos em São Paulo por negociações em andamento entre as principais siglas da disputa.
Fernando Haddad (PT) deve ter o apoio de Márcio França (PSB), enquanto Tarcísio de Freitas (Republicanos) deve fechar com o PSD.
A União Brasil, partido com maior fundo eleitoral do país, está dividida entre apoiadores do governador Rodrigo Garcia (PSDB) e aqueles que defendem uma candidatura própria ou até uma aliança com o petista Haddad.
Dirigentes dos partidos envolvidos na corrida paulista evitam antecipar decisões e ressaltam que os partidos ainda estão em conversas, mas a aproximação do prazo eleitoral final eleva a pressão pelo desfecho dos movimentos em curso. As convenções vão de 20 de julho a 5 de agosto.
A principal novela, que envolve os dois pré-candidatos mais bem colocados na última pesquisa Datafolha e afeta o palanque de Lula em São Paulo, é a da candidatura de França. Ele admitiu, em reunião na segunda-feira (27) com a cúpula do seu partido, que pode desistir de disputar o Governo de São Paulo.
Pelo menos desde o fim do ano passado, petistas esperam que o acerto entre PT e PSB no nível nacional, com a chapa Lula e Geraldo Alckmin (PSB), seja replicado no estado, com França concorrendo ao Senado e apoiando Haddad para o governo paulista.
Questionado pela reportagem, França confirmou que a coligação nacional entre PT e PSB para eleger Lula é a prioridade. “Combinamos com Lula e outros partidos que as decisões sobre as eleições estaduais não devem prejudicar a vitória do campo democrático, que entendemos representar”, afirmou ele.
Na reunião, França disse que esperaria até quinta (30) por uma resposta de Gilberto Kassab, presidente do PSD, que avalia apoiar o PSB ou Tarcísio. A segunda hipótese, no entanto, é a mais provável.
Sem o apoio do PSD, França disse aos colegas de partido, de acordo com políticos presentes no encontro, que seria difícil levar sua candidatura adiante.
A expectativa de pessebistas e petistas de que o ex-governador desista nos próximos dias também é alimentada pela decisão do PSB de negociar em bloco com o PT as alianças estaduais —sem destacar SP separadamente.
O partido ainda espera apoio do PT em estados como Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Nesse sentido, uma saída honrosa para França estaria em abrir mão da candidatura em troca do apoio do PT ao PSB em outro estado.
A próxima rodada de conversas entre PT e PSB está marcada para quinta, ocasião em que, havendo a resposta de Kassab, a retirada da candidatura de França já poderia entrar na mesa de negociação.
Petistas intensificaram a pressão sobre o ex-governador na última semana, mas, na sexta-feira (24), em conversa com Lula, França reafirmou sua candidatura em vez de retirá-la.
A resistência de França ao Senado envolve o favoritismo do apresentador José Luiz Datena (PSC), apoiador de Tarcísio, para o posto. A lei eleitoral exige que, para concorrer, Datena deixe seu programa na TV Bandeirantes até quinta.
Por isso, a TV Bandeirantes anunciou, em comunicado, que Datena estará de férias a partir desta quinta (30) e será substituído por Joel Datena, seu filho. À Folha Datena afirmou que mantém a disposição de concorrer ao Senado, mas ponderou que muda de ideia com frequência.
Petistas e pessebistas, no entanto, afirmam que pesquisas indicam a competitividade de França mesmo considerando Datena como adversário. Aliados de França acreditam ser possível bater o apresentador usando como trunfos os apoios de Lula, Haddad e Alckmin, além da experiência do ex-governador.
Na outra ponta da polarização, Tarcísio, o candidato de Bolsonaro no estado, deve consolidar o apoio do PSD.
Por enquanto, o PSD mantém a pré-candidatura de Felício Ramuth ao Palácio dos Bandeirantes, mas a expectativa é a de anunciar aliança.
Além de Tarcísio e França, o PSD também vinha conversando com o pré-candidato do PDT, Elvis Cezar. A avaliação de Kassab, no entanto, é de que a disputa deve se concentrar em Tarcísio e Haddad.
O presidente do PSD afirma ser natural que a polarização se replique nos estados. Embora admita exceções pelo Brasil, Kassab diz que, em São Paulo, a tendência é que a rivalidade se repita, já que os candidatos de Lula e Bolsonaro têm apoio de suas respectivas bases eleitorais no estado.
“Está claro que Haddad é candidato de Lula e Tarcísio é o candidato de Bolsonaro. Os dois estão conversando ao centro. Haddad está começando a falar bem com o centro com a ajuda de Geraldo [Alckmin]. Tarcísio tem a ajuda de Guilheme Afif (PSD). Geraldo ajuda Haddad e o PSD pode ajudar Tarcísio [se compuserem a aliança]”, diz.
A estratégia de buscar o centro pode pautar a definição da chapa de Haddad, que vem guardando a vaga do Senado para França. Já a vaga de vice na chapa pode ser usada, em vez disso, para ampliar o alcance do petista. Aliados citam o nome da ex-primeiradama Lu Alckmin (PSB).
“Temos que escolher um vice que dialogue com centro, com o eleitorado do interior, com o eleitorado mais conservador. E assim repetir em São Paulo o que é a chapa Lula-Alckmin”, afirma o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto.
Fora da polarização, o governador Rodrigo Garcia trabalha para amarrar o apoio da União Brasil, partido que dispõe do maior fundo eleitoral.
Junto do MDB, a União Brasil seria a principal aliada dos tucanos. A ala do partido oriunda do DEM afirma que a legenda vai, sim, formalizar a coligação com Rodrigo.
Existe, contudo, uma divisão interna. Deputados mais próximos ao presidente da sigla, Luciano Bivar, como Júnior Bozzella (União-SP), afirmam que não há nenhuma disposição do dirigente em caminhar com os tucanos e que há um caminho aberto para diálogo com Haddad, com Tarcísio ou até a possibilidade de uma candidatura própria.