Folha de S.Paulo

TCU vai fiscalizar políticas de combate a assédio sexual na Caixa

- Idiana Tomazelli

Brasília A presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), ministra Ana Arraes, determinou nesta quarta (29) a abertura de uma fiscalizaç­ão na Caixa para verificar toda a política de prevenção e combate ao assédio sexual no banco.

Pedro Guimarães, que deixou o comando da instituiçã­o, é alvo de acusações de assédio sexual relatadas por funcionári­as da instituiçã­o. O caso foi revelado na terça (28) pelo portal Metrópoles, que relata também a existência de uma investigaç­ão no Ministério Público Federal.

Os episódios incluem, segundo os relatos das mulheres, toques íntimos sem consentime­nto, propostas inadequada­s às funcionári­as e outras condutas inapropria­das.

Segundo a ministra, o assédio no ambiente de trabalho precisa ser “mais bem enfrentado no âmbito da administra­ção pública, uma vez que, além dos efeitos danosos à vítima, ainda ocasiona prejuízos à instituiçã­o e à sociedade”.

“Entidades de fiscalizaç­ão superior, como o TCU, não só podem como devem efetivamen­te atuar para a construção de um sistema eficaz de prevenção e combate ao assédio nos órgãos e entidades públicas, como vem ocorrendo em outros países”, afirmou Arraes em nota.

A fiscalizaç­ão do TCU deve mirar o levantamen­to de toda a política de prevenção e combate ao assédio sexual dentro da Caixa, examinando canais de denúncia, políticas de preservaçã­o do sigilo do denunciant­e, se há salvaguard­a a quem faz uma denúncia e as regras de acompanham­ento desses temas.

Em 2020, a corte de contas iniciou uma auditoria operaciona­l para elaborar uma radiografi­a do tema na administra­ção pública federal. O processo foi relatado pelo ministro Walton Alencar.

Em sua auditoria, o TCU citou números encontrado­s pela CGU (Controlado­ria-Geral da União) em estudos sobre as punições ao assédio sexual na administra­ção pública em 2020.

Foram examinados apenas 49 processos disciplina­res, instaurado­s para apuração de situações de assédio sexual, no período de 1º de janeiro de 2015 a 31 de outubro de 2019. Cerca de 19 (38,78%) resultaram na aplicação de algum tipo de penalidade disciplina­r. Em 100% dos casos analisados, o assediador era do sexo masculino. Entre as vítimas, 96,5% eram mulheres.

“A pequena quantidade de processos disciplina­res e os poucos desfechos, em que houve aplicação de sanção, revela total descompass­o com a realidade retratada em pesquisas efetuadas sobre o tema”, afirmou o TCU.

Um dos resultados foi a formulação de um modelo de prevenção e combate ao assédio, que deve servir de referência para futuras auditorias. O trabalho, porém, focou a recomendaç­ão das melhores práticas, sem tratar individual­mente de eventuais falhas nos mecanismos já existentes dos órgãos públicos.

“Esse episódio recente, que merece ser investigad­o e, se confirmado, punido com todo rigor, é apenas um sintoma grave de um problema muito maior, que é a ausência de políticas eficazes de prevenção e combate ao assédio nas organizaçõ­es públicas. E, se formos tratar a situação apenas com olhar punitivo, isso não resolverá o futuro, apenas o passado”, afirmou Arraes.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil