Folha de S.Paulo

Nova presidente da Caixa é braço direito de Guedes

Daniella Marques atuou na negociação da reforma da Previdênci­a

- Idiana Tomazelli

BRASÍlIA Escolhida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para substituir Pedro Guimarães no comando da Caixa, Daniella Marques é a pessoa de maior confiança do ministro Paulo Guedes (Economia), com quem já trabalhava no mercado financeiro antes de integrar o atual governo.

Os dois embarcaram juntos no projeto de Bolsonaro ainda na campanha, em 2018, e assumiram cargos já no primeiro dia da atual administra­ção.

Como chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégic­os do Ministério da Economia, Marques teve uma atuação intensa nos bastidores das negociaçõe­s políticas, função que continuou exercendo, ainda que de maneira informal, após assumir em fevereiro deste ano a Secretaria Especial de Produtivid­ade, Emprego e Competitiv­idade —posto que ocupa até hoje.

Braço direito de Guedes, a secretária passou a representa­r o ministro em conversas com as cúpulas da Câmara e do Senado, desde quando as Casas eram presididas por Rodrigo Maia (PSDB-RJ) e Davi Alcolumbre (União BrasilAP),

respectiva­mente.

A proximidad­e com o círculo político se manteve na gestão de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no Senado.

Ela atuou na negociação de propostas cruciais para a Economia, como a reforma da Previdênci­a e a PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) dos Precatório­s, que adiou o pagamento de dívidas judiciais e abriu espaço no Orçamento para ampliação de políticas sociais em ano eleitoral. Por outro lado, a pasta não conseguiu emplacar outras pautas prioritári­as, como as reformas tributária e administra­tiva.

O envolvimen­to de Marques nas articulaçõ­es era direto e ativo. Muitas vezes ela era vista no centro do plenário da Câmara ou do Senado, ambiente geralmente restrito a parlamenta­res e seus assessores, dialogando sobre pontos polêmicos ou tentando desarmar alguma bomba em meio às votações de pautas econômicas.

Um integrante do governo afirma que a secretária “sempre foi a pessoa do ministro Paulo Guedes”.

Colegas a descrevem como uma profission­al dedicada, esforçada e que trabalha por horas a fio para assegurar o cumpriment­o das “missões” dadas pelo ministro e pelo presidente Bolsonaro, de quem também se tornou uma interlocut­ora direta, frequentan­do o Palácio do Planalto.

O desempenho no papel de articulado­ra política foi tão bem avaliado por Guedes que este chegou a trabalhar pela nomeação de sua auxiliar como ministra-chefe da Secretaria de Governo, segundo três fontes relataram à Folha.

A costura, porém, não foi bem-sucedida e enfrentou resistênci­as das alas política e militar do governo, que tiveram suas rusgas com a ala econômica em diferentes momentos. À época, a pasta era comandada por Luiz Eduardo Ramos, general da reserva do Exército.

Na Economia, o estilo direto e dinâmico de Marques por vezes causa nos técnicos certa contraried­ade pelo que eles descrevem como atropelo nas tratativas. Nem sempre os pontos estavam integralme­nte alinhados internamen­te quando a secretária fechava “como um trator” as negociaçõe­s em curso. Restava ao corpo técnico depois aparar as arestas.

Parlamenta­res, por sua vez, viam com reservas a atitude da aliada de Guedes de muitas vezes delegar ao Congresso certas orientaçõe­s que eram esperadas do governo.

Seu estilo aguerrido lhe rendeu um episódio polêmico em 2019, quando foi conduzida à sede da Polícia Legislativ­a após ser acusada de agressão pela deputada Maria do Rosário (PT-RS). A reforma da Previdênci­a havia acabado de começar a tramitar no Congresso.

A então assessora foi defender Guedes após o bate-boca do ministro com o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), que disse que o chefe da Economia era “tigrão” com aposentado­s e “tchutchuca” com banqueiros. Guedes reagiu dizendo “tchutchuca

é amã e, é a vó ”, e a con fusão se disseminou. O episódio foi encerrados em que houvesse registro de ocorrência.

Por outro lado, mesmo os críticos de Marques ressaltam como qualidade o comprometi­mento da secretária com as pautas prioritári­as do ministro Paulo Guedes.

Uma das fontes ouvidas pela reportagem diz que o estilo de gestão de Marques poderia ser comparado ao de Margaret Thatcher —política britânica que exerceu o cargo de primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990 e que é tida como um ícone para defensores da ideologia liberal, comoé ocaso da secretária.

A capacidade de formar bons times, com técnicos competente­s, t ambé mé elencada como uma de suas qualidades.

Apesar do status de articulado­ra dentro do governo e do bom trânsito com ministros e lideranças no Congresso, a presidênci­a da Caixa deve ser, formalment­e, o primeiro cargo de Marques no primeiro escalão do governo. Esse reconhecim­ento vinha sendo inclusive almejado pela secretária, segundo relatos de diferentes pessoas ouvidas pela Folha.

Marques também já se colocou à disposição para assumir o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) no lugar de Joaquim Levy, que pediu demissão em junho de 2019 após ser alvejado por críticas de Bolsonaro. A nomeação, porém, acabou indo para Gustavo Montezano.

Nos últimos meses, o nome da secretária também vinha sendo cotado para assumir o Ministério do Desenvolvi­mento, Indústria e Comércio Exterior, caso o presidente decidisse ir adiante na decisão de recriá-lo.

Em março, Marques passou a capitanear o programa Brasil Pra Elas, iniciativa voltada ao empreended­orismo feminino.

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? Daniella Marques
Formada em administra­ção pela PUC - RJ e com MBA em finanças pelo Ibmec/RJ, ela atuou por 20 anos no mercado financeiro, na área de gestão independen­te de fundos de investimen­tos. Foi também sócia-fundadora e diretora de fundos de investimen­to antes de ingressar no governo.
Pedro Ladeira/Folhapress Daniella Marques Formada em administra­ção pela PUC - RJ e com MBA em finanças pelo Ibmec/RJ, ela atuou por 20 anos no mercado financeiro, na área de gestão independen­te de fundos de investimen­tos. Foi também sócia-fundadora e diretora de fundos de investimen­to antes de ingressar no governo.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil