Folha de S.Paulo

Vereadores aprovam salário a quem abrigar moradores de rua em SP

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sÃo paulo A Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta quarta-feira (29) o projeto de lei que prevê repasse de auxílio a quem abrigar moradores de rua na capital paulista. Foram 37 votos a favor, 8 contra e 6 abstenções.

Proposto pela bancada governista da Câmara, o projeto será regulament­ado por um decreto ainda a ser aprovado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB).

A proposta é estimular o retorno familiar de quem foi parar nas ruas, segundo o secretário-executivo de Projetos Estratégic­os, Alexis Vargas. “A ideia é oferecer o suporte socioemoci­onal ao refazer o vínculo familiar e uma ajuda financeira também”, diz. “A possibilid­ade não será dada somente à família de origem ou ao cônjuge. Poderá ser irmão, primo, avós e até um amigo de infância que queira ajudar.”

Para acelerar a tramitação, o texto foi incluído como substituti­vo de um projeto que regulament­a a instalação de restaurant­es populares, uma espécie de Bom Prato Paulistano, entre outras políticas públicas voltadas à segurança alimentar.

Como o projeto de lei já havia sido aprovado em primeira votação, agora com o substituti­vo relacionad­o à população de rua, segue direto para a sanção do prefeito.

Segundo o secretário Alexis, estão previstas parcerias com universida­des para avaliar a efetividad­e do projeto, que tem previsão de ter início ainda neste ano.

Questionad­o, o secretário não disse o valor do auxílio nem o orçamento previsto, o que depende ainda de conversas com o prefeito, segundo ele.

Outra parte do projeto será a formação de repúblicas autônomas em que os moradores de rua dividem imóveis alugados. Há previsão de auxílio aos donos desses endereços. “Pensamos nisso a partir de uma observação do que acontece na prática. Há vagas ociosas em abrigos, mas as pessoas preferem ficar na rua porque podem gerir seu espaço”, diz Vargas.

O projeto foi alvo de críticas por parte dos vereadores de oposição, que reclamaram de os conselhos municipais não terem sido ouvidos sobre o auxílio a quem abrigar moradores de rua e também sobre as medidas de combate à fome.

Os vereadores Toninho Véspoli (PSOL) e Erika Hilton (PSOL) discursara­m contra a aprovação. Fora da Câmara Municipal também houve reação contrária.

Para a defensora pública Fernanda Penteado Balera, a aprovação do projeto é preocupant­e porque não trabalha a autonomia habitacion­al nem a geração de renda da população em situação de rua.

“Há grandes chances de apenas trocar o lugar de vulnerabil­idade social ou de serem criados bolsões de depósitos de pessoas em situação de rua”, afirmou ela. “Se for para ter algum auxílio, ele deveria ser pago diretament­e a pessoa.”

O presidente do Movimento Nacional da População em Estado de Rua, Robson Mendonça, diz que ligou para vereadores após tomar conhecimen­to do projeto e pediu que votassem contra. “Não tem o menor cabimento”.

Com 31,8 mil sem-teto, segundo censo divulgado neste ano, a cidade de São Paulo teve aumento de 31% do número de pessoas que vivem nas ruas em relação a 2019, quando foi feito o último levantamen­to.

Para fazer frente à tragédia social, a prefeitura chegou a anunciar um programa de disponibil­izar casas pré-fabricadas a famílias de sem-teto, mas a ideia ainda não saiu do papel.

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