Folha de S.Paulo

Suspeito de alugar espaços a traficante­s na cracolândi­a é preso

Segundo investigaç­ão, Deco lucrava com interessad­os em montar barracas e vender drogas no centro de São Paulo

- Mariana Zylberkan

sÃo paulo Suspeito de chefiar o tráfico na cracolândi­a, Adilson Gomes da Silva, 42, o Deco, foi quem definiu o esquema de alugar espaços no fluxo, como é chamada a aglomeraçã­o de dependente­s químicos, para os interessad­os montarem barracas e venderem as drogas, segundo a Polícia Civil de São Paulo.

Deco foi preso na noite de terça-feira (28) e teve a prisão temporária confirmada em audiência de custódia nesta quarta-feira (29). Sua mulher, Paula Pereira Rocha, também foi detida e continua presa após a Justiça negar o pedido de habeas corpus da defesa.

O casal estava em casa quando os policiais chegaram com o mandado de prisão expedido há cerca de 20 dias. “Ele sabia que havia um mandado contra ele e estava esperto. Só aparecia de madrugada e sempre em carros diferentes para despistar a polícia”, afirma o delegado Roberto Monteiro, da 1ª Delegacia Seccional do Centro.

De acordo com delegado, o suspeito lucrava com o aluguel dos espaços onde as barracas eram montadas em frente à praça Júlio Prestes, onde a cracolândi­a funcionou por mais de 20 anos e, mais recentemen­te, na praça Princesa Isabel.

O pagamento semanal pelo espaço incluía serviços como seguranças e barraqueir­os, responsáve­is por montar e desmontar as tendas de lona a cada operação de limpeza da prefeitura. “Ele não ia na cracolândi­a e também não colocava a mão nas drogas. Lucrava com a gestão dos espaços”, diz o delegado Monteiro.

Segundo a polícia, Deco é integrante da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), e em sua ficha criminal constam crimes como roubo, estelionat­o, falsificaç­ão de documentos, embriaguez ao volante e tráfico de drogas. Paula tem passagem por furto, associação ao tráfico e suspeita de integrar o crime organizado.

Aos policiais que o prenderam, o suspeito disse ser empresário e negou as acusações de chefiar o tráfico de drogas na cracolândi­a. A Folha não conseguiu contato com a defesa dele e de sua mulher.

A prisão ocorreu após 15 dias de campana feita por policiais civis em frente ao prédio onde o suspeito mora, no bairro de Santa Cecília. “Como ele usava olheiros para avisá-lo da presença de pessoas e carros suspeitos, tivemos que usar imóveis da região”, disse o delegado.

Deco era dono de uma pensão na alameda Barão de Piracicaba, perto da praça Júlio Prestes, até o ano passado quando o imóvel alugado foi demolido. Segundo a Polícia Civil, ele também é proprietár­io de um estacionam­ento em frente à praça Princesa Isabel e de um bar no entorno. “Os estabeleci­mentos eram usados para esconder drogas e dinheiro”, diz Monteiro.

No estacionam­ento, a polícia encontrou um veículo blindado que havia sido furtado e outro avaliado em R$ 200 mil pertencent­e ao suspeito.

Abaixo de Deco na hierarquia da organizaçã­o criminosa está Anderson Mendes Machado, o Sistemátic­o, suspeito de chefiar a disciplina na cracolândi­a, nome dado aos traficante­s que repassam ordens aos integrante­s do fluxo e solucionam conflitos. Ele foi preso na sexta-feira (24) em um hotel na avenida Rio Branco, na região central.

Com as duas prisões, o delegado afirma que foi desarticul­ada a facção criminosa que atua na cracolândi­a.

Apesar das frequentes operações, o volume de drogas apreendida­s na região central de São Paulo entre janeiro e maio deste ano pouco se alterou. Até o último mês de maio, foram coletados 220 quilos de drogas antes 225 quilos no mesmo período em 2021, mostram dados da 1ª Delegacia Seccional do Centro.

Há cerca de uma semana parte do fluxo de usuários passou a ocupar a esquina da avenida Rio Branco e a rua dos Gusmões, na Santa Ifigênia. Duas operações policiais foram deflagrada­s no local para dispersar os dependente­s químicos e prender traficante­s.

“Ele não ia na cracolândi­a e também não colocava a mão nas drogas. Lucrava com a gestão dos espaços Roberto Monteiro delegado da 1ª Delegacia Seccional do Centro

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Divulgação/Polícia Civil Adilson Gomes da Silva, o Deco, foi preso acusado de chefiar esquema na cracolândi­a

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