Bolsa de SP encerra o 2º trimestre em queda de 18%; dólar sobe 10% em junho
Mercado é afetado por preocupações com o fiscal no Brasil e pela alta de juros nos EUA; índice S&P tem maior queda para 1º semestre em 52 anos
O mercado de ações do Brasil fechou o trimestre em queda de 17,88%, pior resultado desde o mergulho de 36,86% apurado no encerramento do primeiro trimestre de 2020, no início da pandemia de Covid-19.
O tombo acompanhou a baixa no exterior, mas também foi agravado pelo cenário político doméstico, com o presidente Jair Bolsonaro (PL) buscando melhorar suas chances de reeleição por meio da ampliação de gastos públicos.
No encerramento deste mês, os olhos do mercado se voltaram para a discussão no Congresso sobre a PEC (proposta de emenda à Constituição) 1, que prevê a liberação de gastos do governo federal e a criação de novos benefícios sociais.
Esse tipo de medida preocupa investidores, pois aumenta o endividamento e traz ameaças à execução futura do Orçamento. É o que analistas costumam chamar de risco fiscal.
Nesta quinta-feira (30), o indicador de referência da Bolsa de Valores brasileira caiu 1,08%, a 98.541 pontos. Com queda mensal de 11,5%, o Ibovespa também teve em junho o seu pior mês desde o tombo de 29,9% em março de 2020, quando a confirmação de que a Covid tinha se espalhado pelo globo gerou pânico entre investidores.
“O mercado fechou em queda muito por causa da PEC dos Combustíveis”, comentou Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos “Vai aumentar o endividamento, e isso tem causado desconfiança entre investidores, que estão tirando dinheiro do país.”
Meira reforça, porém, o peso considerável do exterior no resultado negativo do Ibovespa. “Expectativas ruins sobre núcleos de inflação nos EUA fizeram o mercado lá fora desabar, e, consequentemente, isso trouxe mais pressão.”
O dólar comercial à vista fechou a quinta com valorização de 0,80%, cotado a R$ 5,2320. A moeda americana obteve o maior ganho mensal desde março de 2020.
O salto em junho foi de 10%, enquanto a alta no mês marcado pelo início da pandemia chegou perto dos 16%.
“O dólar se valoriza ante o real com os investidores reticentes à tomada de risco e apoiados em moeda forte”, comentou Leandro De Checchi , analisa da Clear Corretora.
Apesar do prejuízo causado pela disputa eleitoral brasileira aos investimentos na Bolsa, é o contexto internacional o principal responsável pela queda generalizada do mercado de ações e do fortalecimento do dólar.
Nos Estados Unidos, o S&P 500 terminou o trimestre com um tombo perto dos 18%. No semestre, a queda foi de 21%, a maior para os primeiros seis meses de um ano desde 1970.
Desde o começo do ano, o Dow Jones perdeu 15,31%, e o Nasdaq 29,51%.
Para enfrentar a maior inflação em quatro décadas, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) vem acelerando a escalada dos juros no país, ampliando temores de que esse aperto ao crédito poderá provocar recessão no país, prejudicando toda a economia mundial.