Jeff Bridges reinventa a velhice em ‘The Old Man’
Ator diz estar à vontade na pele de um agente da CIA aposentado ao fazer seu primeiro protagonista numa série de TV
são Paulo Logo no começo de “The Old Man”, ou o homem velho, o personagem de Jeff Bridges fala ao telefone com a filha, que se mostra alarmada com o fato de o pai morar sozinho. Ele vai a uma consulta, é tratado com condescendência pelo filho da médica que sempre o atendeu e suscita ofertas aleatórias de ajuda de toda pessoa mais jovem que cruza seu caminho.
Aos 72 anos, Bridges se identifica um pouco com o personagem, porque nem estrelas de seu calibre passam imunes ao etarismo. As pessoas e a indústria o tratam de forma diferente conforme os anos passam, é verdade, mas ele se diz feliz por ter uma carreira sólida o suficiente para driblar alguns desses problemas.
“Tenho tido sorte com meus projetos, porque conheço muita gente na indústria, então não sinto que haja falta de papéis para mim”, diz o ator, ao ser questionado se homens também enfrentam uma escassez de bons personagens quando atingem certa idade, crítica frequente das atrizes.
“Acho que 72 anos de idade me qualificam como um cara velho, mas todo cachorro velho tem seus truques. Ainda há um cara jovem aqui dentro.”
Não é, no entanto, como se Bridges estivesse colecionando protagonistas no cinema nos anos recentes. A última década reservou a ele muitos coadjuvantes em escolhas duvidosas de carreira, como “O Sétimo Filho” e “O Doador de Memórias”. Nesses dez anos, houve só um papel mais conceituado, em “A Qualquer Custo”, que rendeu a ele uma indicação ao Oscar em 2017.
É uma exceção que comprova a regra, como foi o caso de Anthony Hopkins, que venceu o Oscar de melhor ator no ano passado e retomou as rédeas de sua filmografia depois de colecionar uma dezena de coadjuvantes de luxo em produções pouco expressivas.
Talvez por isso Bridges tenha escolhido fazer seu primeiro personagem fixo numa série de TV só agora. Ele resistiu por muito tempo, principalmente porque se lembra de o pai, o ator Lloyd Bridges, ter certa frustração em relação às várias séries em que trabalhou.
“Mas, nos últimos cinco ou dez anos, as produções para TV e streaming têm sido de altíssima qualidade, então fiquei com vontade de explorar esse terreno”, diz. “O roteiro chegou, vi que havia uma equipe de primeira envolvida e achei que a hora tinha enfim chegado. No fim, não vi diferença, foi como fazer um filme.”
Em “The Old Man”, que estreia atrasada no Brasil, com sua primeira temporada já toda exibida nos Estados Unidos e uma segunda encomendada, Bridges vive um agente da CIA, a agência de inteligência americana, aposentado.
Há três décadas ele vive fora do radar por causa de um incidente misterioso ocorrido durante a Guerra do Afeganistão nos anos 1980. Até que um antigo colega de agência, vivido por John Lithgow, o encontra e decide montar uma equipe para caçar o inimigo.
“The Old Man” subverte o lugar-comum do homem idoso e frágil ao mostrar que de indefeso o personagem Dan Chase não tem nada. Ele acerta um tiro num homem que invade sua casa já no primeiro episódio e treina seus cães para serem dóceis companheiros, mas também máquinas de matar.
Ele, na verdade, se aproveita do senso comum para enganar aqueles ao redor e o próprio espectador, alheio a suas habilidades até o ver empunhando um rifle. Não demora até perceber mosque a preocupação da filha do personagem, no início da série, não era coma idade.
Tão turbulenta quanto a trajetória de Bridges na trama foi a produção da série. As interrompidas pela Covid-19 e, quanto todos voltaram ao set, outro imprevisto paralisou “The Old Man”. Dessa vez, Bridges recebeu o diagnóstico de um linfoma e passou por um tratamento que pausou a produção por 16 meses.
Acerta altura, o astro de filmes como “O Grande Lebowski” e “Bravura Indômita” não sabia se conseguiria voltar, mas diz agora estar com a saúde de um garoto .“Voltara atu arfo icomo rever um velho amigo, muito natural.”