Refúgios de animais oferecem nova visão de Foz do Iguaçu
Passeios perto dos bichos surpreendem e ressignificam destino tradicional
Quando a filhote de veado-campeiro Noela nasceu, no dia 24 de dezembro de 2021, a bióloga responsável pelo refúgio de animais do resort Bourbon Cataratas, em Foz do Iguaçu (PR), não imaginava que se tornaria “mãe” da bichinha. É que dois dias depois a genitora do animal —espécie em extinção— morreu por causa de uma pneumonia.
“A Pati [veterinária] cuidou dela por um mês e depois eu assumi. Era muito filhote, mamava a cada duas horas”, conta Anna Cecília Leite, 32. “Depois eu comecei a colocar hortaliças penduradas pela casa, fazia enriquecimento ambiental. Quando Noela cresceu e pudemos trazer para o refúgio, ela acabou adotada por outra fêmea que temos aqui.”
Histórias como a da veadinha órfã nem sempre são o mote de Foz do Iguaçu, destino famoso por suas deslumbrantes cataratas. Mas elas estão espalhadas por toda a cidade que, com seus mais de 255 mil habitantes, abriga 185 mil hectares de Mata Atlântica no Parque Nacional do Iguaçu —e muitos animais resgatados do tráfico, dada a proximidade com as fronteiras da Argentina e do Paraguai.
Quem viaja para Foz com olhar voltado aos animais pode ressignificar passeios tradicionais.
O Parque das Aves é um exemplo. O que para alguns pode parecer um “zoológico de passarinhos” é, na verdade, o maior parque dedicado à preservação de aves da América Latina —são mais de 1.300 animais, de cerca de 130 espécies, que foram resgatados e vivem ali.
Há aves raras, como a harpia, a maior águia das Américas, com envergadura de quase dois metros e quase extinta, e viveiros repletos de araras.
O que quase não se verá, entretanto, são os flamingos. Se antes o parque contava com mais de 170 exemplares, hoje restam apenas quatro. O motivo? Uma onça que adentrou o espaço para ensinar seu filhote a caçar, no fim do ano passado, e fez o ataque.
Parte dos flamingos pode ter virado janta, mas a outra morreu de estresse com a situação. No recinto das aves resta apenas um memorial.
Outro espaço que também conta com um refúgio de animais é a usina hidrelétrica binacional de Itaipu.
Próximo dos 20 geradores (que transformam a água represada em oito quilômetros de barragem em energia) há onça, jaguatirica, macaco e jacaré. A unidade de proteção foi criada durante a formação do reservatório da usina, para preservar fauna e flora do local, e pode ser visitada.
Testemunha da construção da barragem, onde trabalhou por 14 anos na década de 1970, Antonio Silveira da Silva, 73, é hoje monitor em Itaipu. Ele se orgulha de poder tirar as dúvidas dos turistas novatos.
“O que mais me perguntam é como era a convivência com os [trabalhadores] paraguaios na época. E te digo: nas minhas folgas, eu vivia mais do lado de lá do que de cá”, conta.
E o que falar da trilha em direção às Cataratas do Iguaçu? A vida animal dá as caras bem antes de se chegar à queda d’água. É que os quatis, graciosos mamíferos parentes dos guaxinins, adoram acompanhar (e encarar) os turistas.
Só não vale dar mole com a bolsa —os peludos são abusados e, se tiver comida, é lá que eles vão fuçar.
Em um futuro próximo, o resort Bourbon Cataratas irá avançar um degrau em seu refúgio de animais. Trata-se do projeto Passarinhos do Bourbon, que vai abrigar aves vítimas de maus-tratos ou contrabando e que ainda podem ser reintegradas à natureza.
“Em parceria com órgãos ambientais, vamos receber essas aves e fazer o trabalho de reabilitação até a soltura”, relata a bióloga Anna Cecília.
Depois de se molhar com os respingos das cataratas —ou num verdadeiro banho de água doce do Macuco Safari, que leva os visitantes de barco bimotor até o pé da cachoeira—, a dica é trocar de roupa e ir ao Marco das Três Fronteiras.
O local, que fica às margens dos rios Iguaçu e Paraná, é um mirante de onde se pode ver, literalmente, as fronteiras do Paraguai e da Argentina.
O espaço conta hoje com restaurantes e shows de dança que ressaltam as culturas brasileira, argentina e paraguaia, e que ocorrem todas as noites após o pôr do sol.
Outra boa pedida é reservar uma manhã para visitar o templo budista Chen Tien, com seu Buda de sete metros de altura, e a mesquita Omar Ibn Al-Khattab —Foz abriga a segunda maior comunidade árabe do país, atrás apenas de São Paulo.
Por fim, todo turista por lá adiciona duas paradas: Ciudad del Este (Paraguai), para o famoso tour de compras, e Puerto Iguazu (Argentina), para jantar ou comprar vinhos.
Afinal, faz parte da graça de ir a Foz sair de Foz —e do Brasil, indo e voltando em poucos minutos.
Parque das Aves
De ter. a dom., das 8h30 às 16h30. Av. das Cataratas, 12.450. Ingresso R$ 70 (integral).
Refúgio de Itaipu
De qua. a seg., das 8h30h às 15h30. Av. Tancredo Neves, 6.702. Ingresso R$ 35 (integral).
Cataratas do Iguaçu
Diariamente, das 9h às 16h. Parque Nacional do Iguaçu, BR 469, Km 18. Ingresso a partir de R$ 63 (integral).
Macuco Safari (barco)
Diariamente, das 9h às 16h40. Parque Nacional do Iguaçu, BR 469, Km 25. Ingresso R$ 362 (integral).
Marco das Três Fronteiras
De ter. a dom., das 14h às 21h. Ac. Três Fronteiras, s/n°. Ingressos: R$ 48 (integral).
Bourbon Cataratas do Iguaçu
Av. das Cataratas, 2.345. Diárias a partir de R$ 710. A jornalista viajou a convite do Bourbon Cataratas do Iguaçu Thermas Eco Resort