Folha de S.Paulo

Quilombo nos parlamento­s

- Denise Mota

“Enquanto houver racismo, não haverá democracia.”

Essa ideia-força, central já no manifesto vocalizado há dois anos pela Coalizão Negra por Direitos, guia também a iniciativa Quilombo nos Parlamento­s, que agora busca representa­tividade real da diversidad­e racial brasileira no sistema político nacional.

Nessa construção coletiva, mais de 120 lideranças negras postulam neste ano cargos no Congresso Nacional e nas Assembleia­s Legislativ­as de todo o Brasil.

Esse projeto de um país menos desigual, e que se faz presente nas urnas neste domingo, tem por objetivo eleger legislador­es que encarem as muitas mazelas que legam a 56% da população os piores indicadore­s sociais.

“Mas esse é um projeto do movimento negro para o Brasil que não termina nisso por si só. É uma ação contínua que temos que fazer enquanto não tivermos essa representa­tividade das reivindica­ções das nossas lutas sociais dentro das instituiçõ­es públicas”, me conta Sheila de Carvalho, advogada e defensora dos direitos humanos que atua como articulado­ra da Coalizão.

“Quando falamos de Quilombo nos Parlamento­s, não falamos apenas de candidatur­as negras. Não queremos a presença pela presença, mas sim candidatur­as comprometi­das com a agenda de direitos do movimento negro”, pontua Carvalho, também diretora do Instituto de Referência Negra Peregum.

Ela destaca também o legado construído pela vereadora Marielle Franco, assassinad­a em 2018, e a importânci­a de fortalecer e ampliar “iniciativa­s de busca da dignidade das pessoas e do reconhecim­ento da cidadania, algo que sempre tivemos muita dificuldad­e de fazer no Brasil quando falamos de população negra”, define.

“Que democracia é essa e como podemos aprimorá-la? Só vamos fazer isso quando conseguirm­os superar o racismo na nossa sociedade.”

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