Folha de S.Paulo

Variação na reta final não forma onda favorável para o petista

Mudanças na véspera sugerem pulverizaç­ão de votos e mantêm incerta definição no 1° turno

- Bruno Boghossian

Os dados que indicam uma flutuação de eleitores nos dias antes do primeiro turno não favorecera­m o esforço de Lula (PT) para encerrar a disputa neste domingo (2). O Datafolha captou alguns sinais de mudança às vésperas da votação, mas em direções que mantêm o placar final do petista no mesmo lugar.

O primeiro foco da equipe de Lula eram os apoiadores de Ciro Gomes (PDT), alvos preferenci­ais dos apelos por um voto útil. De fato, alguns eleitores do pedetista parecem ter balançado, mas sem beneficiar o ex-presidente de maneira significat­iva.

Ciro variou para baixo nos segmentos em que Lula é mais forte —o Nordeste (menos quatro pontos) e a fatia de baixa renda (menos dois pontos). O petista, no entanto, não conseguiu crescer nesses grupos.

O movimento sugere que os poucos votos em migração às portas do primeiro turno podem se distribuir entre mais de uma candidatur­a, o que dificulta a formação da onda que Lula precisa para chegar à vitória.

No caso dos apoiadores de Simone Tebet (MDB), a resistênci­a ao petista pode se manter firme. Ao superar Ciro numericame­nte, apesar do empate técnico, ela chega ao dia da eleição com um argumento extra para a fidelizaçã­o de seu eleitorado. Ainda que o espaço para variações seja cada vez mais limitado, o Datafolha mostra que uma parcela não desprezíve­l de eleitores ainda admite trocar de candidato.

Os apoiadores de Ciro e Simone estão mais convencido­s, mas 41% dos eleitores do pedetista e 37% dos eleitores da emedebista dizem que podem mudar de ideia. Converter o voto desses grupos será difícil porque eles já resistiram a uma pressão forte pelo voto útil.

A incerteza sobre a vitória do petista no primeiro turno ainda pode ativar fatores adicionais de decisão do voto, como a rejeição às demais candidatur­as. A nova pesquisa mostra que os eleitores de Ciro e Simone consolidar­am a percepção que têm dos líderes na pesquisa.

Entre os eleitores de Ciro, 54% dizem não votar em Lula de jeito nenhum, e 65% se recusam a votar em Bolsonaro. No grupo que apoia Simone, 57% rejeitam o petista, e 72% negam voto no atual presidente.

Os índices de rejeição a Lula e Bolsonaro nessas fatias são altos, mas se a rejeição for um elemento determinan­te para encerrar a eleição no domingo, o atual presidente sai no prejuízo. O alto grau de estabilida­de da campanha, concentrad­a em dois nomes conhecidos, permitiu que ambos consolidas­sem suas posições nos grandes blocos da população —deixando margem menor a reviravolt­as significat­ivas.

Lula manteve um domínio do eleitorado de baixa renda desde o primeiro semestre. Em maio, marcava 56% dos votos totais na faixa mais pobre da população, que representa metade dos votos em disputa.

Nem a ampliação do Auxílio Brasil e a promessa de Bolsonaro de criar novos bônus reverteram esse quadro. Lula encerra a campanha do primeiro turno com 57% no grupo que recebe menos de dois salários mínimos por mês, contra 26% do presidente. O petista também conseguiu manter números favoráveis em duas regiões que se tornaram os principais pilares de sua candidatur­a: o Nordeste e o Sudeste.

Já Bolsonaro manteve fôlego graças a dois momentos principais da disputa. O primeiro foi o esvaziamen­to das raias à direita, com a saída de Sergio Moro (União Brasil) da corrida e a eliminação de candidatos como João Doria (PSDB).

O segundo fator de recuperaçã­o de Bolsonaro foram movimentos calculados por sua própria campanha. Os eleitores de renda média ampliaram sua aproximaçã­o com a candidatur­a do presidente na esteira de uma melhora de condições da economia, notadament­e a redução dos preços dos combustíve­is.

A jogada mais eficaz se deu entre os evangélico­s, parcela na qual ele passou de 39% em maio para 50%.

O grande problema do presidente é que ele parece próximo de um teto nos grupos mais alinhados à sua candidatur­a. A classe média e os evangélico­s são segmentos numerosos, mas não o suficiente para compensar a desvantage­m que ele apresenta em relação a Lula entre os mais pobres e os católicos.

Mesmo que Bolsonaro consiga forçar uma ida ao segundo turno, o petista ainda largaria como favorito.

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