Lula abarca ex-algozes em busca de força e mira mais apoios
Ex-presidente teve tropeços e gafes e manterá um movimento de ampliação de apoios qualquer que seja o resultado
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega ao fim do primeiro turno convencido de que a “batalha está longe de terminar” neste 2 de outubro. À frente de uma aliança composta de dez partidos, Lula, 76, manterá um movimento de ampliação qualquer que seja o resultado das urnas.
É cogitada a abertura de pontes com integrantes do chamado centrão e do próprio governo Bolsonaro, além de articulação com MDB, PSDB, PDT e União Brasil —o candidato terá que alargar seu arco de alianças caso enfrente o presidente Jair Bolsonaro (PL) em eventual segundo turno.
Se eleito já no dia 2, terá que garantir condições para sua posse em meio a ameaças de golpes incentivadas por bolsonaristas. Além disso, precisa assegurar o reconhecimento de sua eleição. Em um movimento nesse sentido, Lula encontrou-se com representantes do governo americano e obteve o compromisso de reconhecimento do resultado.
Neste sábado (1º), Lula fez caminhada na rua Augusta, na capital paulista, e afirmou não temer eventual tentativa de Bolsonaro de impedir sua posse caso ele seja eleito. “Eu não temo nada. Se o povo me eleger, haverá posse e tudo o mais que tenho prometido.”
O petista disse ainda que, em um eventual segundo turno, estará disposto a conversar com todas as forças políticas e seus eleitores. “Nosso barco é que nem a Arca de Noé. Basta querer viver para entrar lá dentro que nós iremos salvar todo o mundo.”
O comando da campanha driblou percalços até chegar neste domingo à frente da disputa pelo Palácio do Planalto.
Escassez de material, disputa por espaço, queda do marqueteiro e resistência inicial ao vice, Geraldo Alckmin (PSB), foram tropeços na pavimentação de uma ampla aliança, encorpada por adesões de artistas, intelectuais e lideranças de outros partidos.
Na pesquisa Datafolha divulgada neste sábado, ele tinha 50% dos votos válidos, contra 36% de Bolsonaro, 6% de Simone Tebet (MDB) e 5% de Ciro Gomes (PDT).
Na tentativa de liquidar a fatura neste domingo, a equipe petista buscou a adesão de nomes que já rechaçaram o ex-presidente e passaram a pedir voto nele em defesa da democracia. Lançou ainda um movimento contra a abstenção, fator considerado determinante para definir se Lula vencerá em primeiro turno.
Evento importante, o debate da TV Globo, na quinta-feira (29), ocorreu sem ter impacto na disputa. Aliados elogiaram o desempenho de Lula, mas admitem que não foi o suficiente para conquistar indecisos a ponto de garantir vantagem expressiva. Entre petistas, há o temor de que Tebet tenha atraído esses eleitores, o que ajudaria a levar a disputa para o segundo turno.
Embora não tenha sido decisivo em favor do petista, seus aliados avaliam que a marola favorável não se desfez. A expectativa é que uma onda Lula se forme no minuto final, com o eleitor diante da urna. A torcida é para que simpatizantes de Ciro e da própria Tebet antecipem o voto em Lula por temer uma vitória de Bolsonaro no segundo turno.
A estratégia do petista foi criar um clima de campanha “plebiscitária”, assentada na rejeição a Bolsonaro.
Um dos primeiros movimentos para criação do que Lula chama de pacto democrático foi a escolha de Alckmin para seu vice. Superada a resistência ele, o ex-presidente buscou aliados com a promessa de que o ex-governador pudesse se filiar à sigla.
Lula investiu, sem sucesso, no PSD. Alckmin filiou-se ao PSB, dando início à construção de uma aliança que já contava com o PSOL-REDE e PC do B-PV. A perspectiva de chegada ao poder atraiu novos agregados.
Em outra frente, a campanha trabalhou para ampliar seus apoios, sobretudo em setores que já rechaçaram o PT anteriormente. A campanha foi marcada, por exemplo, pela reaproximação com a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
Dias depois, um ato contou com a presença do ex-ministro Henrique Meirelles (União Brasil) e outros ex-presidenciáveis. A campanha conseguiu declarações de respaldo de nomes do meio jurídico como Joaquim Barbosa, ministro aposentado do STF, e econômico, caso do economista André Lara Resende, um dos formuladores do Plano Real.
Na última semana do primeiro turno, cinco ministros do governo Fernando Henrique Cardoso, além de fundadores do PSDB e intelectuais, formalizaram apoio.
O ex-presidente focou e disputou ferrenhamente alguns espaços com Bolsonaro. Um deles foi o Sudeste. Já no início da corrida, tanto Lula como o adversário decidiram priorizar a região, que concentra 42% do eleitorado. Outro setor alvo de investidas de ambos os candidatos foram os evangélicos.
A campanha também buscou ampliar a rejeição a Bolsonaro. O petista passou a rebater de forma mais incisiva as acusações do presidente e passou a atacá-lo, chamando-o de mentiroso, e lembrando de suspeitas de corrupção que pairam sobre seu governo e sua família. Os ataques chegaram nas propagandas de televisão.
O tema escolhido desde o início do ano para nortear a campanha, “a vida do povo”, foi a tônica do início ao fim da campanha. Uma das principais promessas de Lula, repetidas em praticamente todos os comícios, é que ele deseja garantir ao povo a oportunidade de voltar a “comer picanha e tomar uma cervejinha”.
O ex-presidente também repisou constantemente a ideia de dar aumento real do salário mínimo, garantir a manutenção dos R$ 600 pagos hoje pelo Auxílio Brasil, ampliar o acesso a escolas, e a renegociação de dívidas, entre outros.
Assim como fez promessas sem detalhar as propostas, Lula cometeu gafes em alguns discursos, que foram exploradas por seus adversários. “Quer bater em mulher, vá bater em outro lugar mas não dentro de sua casa ou no Brasil’, afirmou o petista, durante comício no Anhangabaú.