Bolsonaro vai para o 1º turno pressionado pelas pesquisas
Chefe do Executivo fez campanha centrada na sua base de apoiadores e com discurso golpista intermitente
Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL), 67, chega ao primeiro turno pressionado por pesquisas que indicam favoritismo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas com expectativa de chegar ao segundo turno.
Apesar de ter feito uma campanha voltada à sua base de eleitores e com dificuldade de ampliar o espectro de apoios, aliados do chefe do Executivo dão como certo que a disputa não acabará em 2 de outubro.
O que eles devem observar atentamente na apuração é a diferença de votos entre Bolsonaro e o ex-presidente.
Reservadamente, veem dois cenários possíveis. Em um deles, o petista chega ao segundo turno com larga vantagem, próxima de dois dígitos ou mais, o que representaria apenas um adiamento da vitória de Lula. No outro, Bolsonaro termina o primeiro turno mais próximo do adversário e com chance de virar e se reeleger em 30 de outubro.
Eles torcem e mantêm esperança no segundo cenário. A avaliação é que, se for registrada uma diferença pequena de votos, seria uma derrota para institutos de pesquisas, Bolsonaro reforçaria o argumento de que é perseguido pela mídia e Lula não tem a força que tenta vender.
Aliados do chefe do Executivo têm pesquisas próprias, que não foram registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e não compartilharam com a imprensa, com metodologias diferentes dos levantamentos tradicionais e têm se baseado os cenários nelas.
Bolsonaro tem questionado as pesquisas, diz a seus eleitores que vai ganhar em primeiro turno e faz acenos à base com a tese do “Datapovo”, quando usa imagens de atos com apoiadores para tentar descredibilizar os levantamentos de intenção de votos.
Isso aconteceu, por exemplo, nas manifestações do 7 de Setembro. Na ocasião, como costuma fazer, tentou esvaziar o resultado das pesquisas devido ao fato de ter reunido milhares de pessoas nas ruas.
Em live neste sábado (1º), ele voltou a atacar as pesquisa. “Fala-se tanto em combate a fake news... Nunca ninguém desses que combate fake news, que desmonetiza páginas de certas pessoas, prende outras, se preocupa com Datafolha falando barbaridade por aí”, afirmou.
Mesmo sabendo da necessidade de buscar outros segmentos da sociedade, Bolsonaro priorizou na agenda de campanha comícios com apoiadores e motociatas.
Neste sábado (1º), ele fez passeios de moto com apoiadores em São Paulo e em Santa Catarina —comícios e discursos são proibidos por lei.
Na linha de frente do comboio na capital paulista estavam também os ex-ministros Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), o empresário Luciano Hang e a deputada federal Carla Zambelli (PL).
Depois, o candidato realizou o último ato de campanha em Joinville, maior cidade de Santa Catarina. Ele participou de uma motociata com candidatos locais e com o empresário bolsonarista Luciano Hang.
As viagens têm como objetivo, segundo aliados, dar força para candidatos majoritários do presidente nos estados.
Em São Paulo, ele busca eleger Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura, para o governo; e Marcos Pontes (PL), ex-titular de Ciência e Tecnologia, para o Senado. Ambos estão em segundo lugar nas pesquisas.
Em Santa Catarina, um dos estados que mais apoiam sua reeleição, ele busca eleger Jorginho Mello (PL) para o governo e Jorge Seif para o Senado.
O mandatário votará no Rio de Janeiro, acompanhado da primeira-dama, Michelle. A expectativa é a de que volte para Brasília para acompanhar a apuração dos votos do Palácio da Alvorada.
Michelle passou todo o governo com papel político secundário e evitando aparições públicas. Nunca, em todo esse período, concedeu entrevista à imprensa tradicional.
Neste ano, contudo, não apenas passou a acompanhar o marido em agendas públicas, como passou a discursar. A virada ocorreu porque a campanha diagnosticou que Michelle reduzia a rejeição de mulheres a Bolsonaro.
O chefe do Executivo enfrenta resistência entre as eleitoras devido a seu histórico de declarações machistas e de ataques às mulheres. O segmento é um dos principais obstáculos à sua reeleição.
Se há quatro anos, Bolsonaro conseguiu se eleger com uma campanha menos estruturada e com discurso radicalizado, nestas eleições o cenário foi diferente. O presidente modulou o discurso em pontos que sabia que poderiam custar votos.
Dois temas frequentemente abordados pelo chefe do Executivo abriram espaço para versões mais suaves: vacinas e urnas eletrônicas.
Bolsonaro fora aconselhado por aliados a se vacinar e a parar de criticar o imunizante contra a Covid-19, que a maior parte da população aderiu e controlou a pandemia no país. Apesar disso, não se vacinou. Mas o cálculo eleitoral funcionou, em parte.
O mandatário adotou discurso de que seu governo garantiu vacina a todos que quisessem, e que, por motivos pessoais, ele não quis se vacinar. Também continuou defendendo medicamentos sem eficácia do chamado kit Covid.
Quanto às urnas, Bolsonaro oscila o tom golpista. Há cerca de um ano, no momento de pior crise de sua administração, o presidente insistia no voto impresso e fez uma apresentação na internet, sem qualquer prova, de que houve irregularidade em 2018.
Levantamentos internos da campanha à reeleição do chefe do Executivo mostraram que, quando ele adota postura golpista e de que pode desrespeitar o resultado da eleição, aumenta a sua rejeição.
Assim, Bolsonaro evitou ser mais direto em suas declarações. Mas manteve o tom acusatório aos ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e agora condiciona o respeito ao resultado eleitoral a “eleições limpas”, sem nunca ter explicado o que significa.