Simone Tebet sai de campanha mais forte; desafio será manter relevância
Mandato no Senado acaba em fevereiro; com aceno em 2º turno, atuar em governo Lula é opção
A candidata à presidência da República Simone Tebet (MDB) termina a sua primeira eleição presidencial como uma personagem política mais forte do que a que entrou na corrida e com o desafio de se manter relevante para os próximos pleitos.
A senadora de 52 anos, que já foi professora e advogada, começou sua caminhada com 1% das intenções de voto e agora aparece numericamente à frente e tecnicamente empatada com Ciro Gomes (PDT) —ela com 6%, e ele com 5% no Datafolha deste sábado (1º).
Outro desafio será sobreviver a crises dentro do seu partido que foram aprofundadas durante o período eleitoral.
Quando o MDB realizou o evento para lançar sua précandidatura, no dia 8 de dezembro de 2021, Tebet talvez fosse uma das poucas pessoas presentes a acreditar que seu nome estaria nas urnas eletrônicas quase um ano depois.
A senadora por Mato Grosso do Sul tem enfrentado desde então uma ferrenha resistência da ala do partido que pressionava pelo abandono de uma candidatura pouco competitiva para apoiar um dos favoritos. O movimento mais forte, capitaneado por Renan Calheiros (MDB-AL) e outros caciques da região Nordeste, favorecia Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As iniciativas fizeram ressurgir “fantasmas” da relação de Tebet com o MDB, como quando ela terminou abandonada pelo partido na eleição para presidir o Senado em 2021 e concorreu como avulsa.
O MDB também se viu envolvido na inicialmente promissora articulação para lançar um candidato único e forte representando a terceira via. A novela se arrastou por meses, viu a defecção do União Brasil e a briga interna do do PSDB, que resultou na saída da corrida do ex-governador João Doria de São Paulo.
Oficializada candidata, Tebet demorou para avançar nas pesquisas eleitorais, aparecendo durante meses com apenas um traço, abaixo de 1%. Mas ela ganhou força durante o primeiro debate presidencial, quando teve um enfrentamento com Jair Bolsonaro (PL) e foi alvo de machismo.
A emedebista saiu de 2% para 5% na pesquisa Datafolha subsequente e alcançou 6% no último levantamento do primeiro turno. Em alguns estados-chave, como São Paulo, sua intenção de voto chegou perto dos dois dígitos nas intenções de voto.
Os debates se tornaram um trunfo, com a senadora apontada como dona do melhor desempenho em pesquisas qualitativas com eleitores indecisos. Aliados avaliam que os enfrentamentos ajudaram, por exemplo, na manutenção de seus índices nas pesquisas mesmo durante a pregação pelo voto útil em favor de Lula.
Apesar das frequentes declarações públicas de otimismo com o resultado, sua campanha sempre teve em mente que o objetivo inicial era fazer de Tebet a emedebista mais votada em uma eleição presidencial, superando os 4,7% de Ulysses Guimarães em 1989.
Superar Ciro Gomes se tornou uma obsessão nesta reta final. O terceiro lugar reforçaria a percepção de que Simone Tebet deixa essa eleição mais forte e como um ator importante para os próximos pleitos presidenciais.
“Não tenho dúvida que Simone será um personagem político relevante depois desta eleição”, afirma o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto (MDB), coordenador do seu programa de governo e um dos principais aliados.
Para tanto, porém, precisará de palco. O mandato de Tebet no Senado, de oito anos, termina em fevereiro de 2023.
Um aliado teme o efeito Marina Silva (Rede). Personagem importante da política após duas votações expressivas nas eleições de 2010 e 2014, a exministra, sem mandatos, terminou o pleito de 2018 com 1%.
A mesma pessoa acrescenta que, em parte, o destino de Tebet dependerá da atitude do presidente do MDB, Baleia Rossi. De acordo com esse aliado, seria necessário manter Tebet em evidência e seguir associando a imagem do partido à da senadora, com uma mensagem de renovação.
A posição da candidata em um eventual segundo turno presidencial neste ano também é considerada decisiva para o seu futuro. A parlamentar já declarou recentemente que não vai se omitir e que estará em um palanque “defendendo a democracia”.
Um apoio a Lula no segundo turno pode abrir as portas para que ela seja convidada a assumir algum ministério caso o petista, favorito nas pesquisas, seja eleito.
As pastas apontadas hoje como possíveis são as da Agricultura e da Justiça, mas sua campanha rechaça qualquer hipótese de negociação no momento.
Ficar atrás somente do expresidente Lula e do atual presidente, Bolsonaro, fortaleceria o poder de barganha não só dela como do MDB.
Esse mesmo aliado, no entanto, defende que convites petistas sejam avaliados com muito critério. Isso para que a imagem de independência construída durante a campanha não se desfaça com a aceitação do primeiro convite.
Tebet também vai precisar fazer as pazes —ou mesmo enfrentar— o “velho MDB”.
Durante a campanha, a senadora criticou diversas vezes a ala lulista do partido por ter tentado “puxar o seu tapete”. Também desagradou muitos ao criticar os membros de seu partido que estiveram envolvidos em casos de corrupção.
O cenário de provável fortalecimento de alguns caciques pesa como complicador.
Renan Calheiros, por exemplo, deve conseguir eleger o governador de Alagoas e seu filho, Renan Filho (MDB), para o Senado. Além disso, caso Lula seja eleito, aqueles que ela acusou de tentarem derrubá-la vão se fortalecer.