Folha de S.Paulo

Big techs têm plantão, reforço e treino para atuar em cenário de crise eleitoral

Empresas de redes sociais analisam diferentes possíveis cenários desencadea­dos por desinforma­ção

- Paula Soprana, Patrícia Campos Mello e Renata Galf

Às portas do primeiro turno, as big techs realizaram treinament­os para diferentes cenários de crises eleitorais desencadea­das por desinforma­ção. As empresas não divulgam o tamanho das equipes mobilizada­s para os dias próximos à eleição, mas afirmam que há reforço internacio­nal, com especialis­tas deslocados dos Estados Unidos para o Brasil, plantão 24 horas e um “war room”, a sala de guerra de operações.

Embora não exista cooperação oficial entre as redes para combater fake news —e as mentiras pipoquem de uma plataforma para outra—, as companhias dizem que o meio de campo será feito pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Nenhuma delas vai publicar um relatório de transparên­cia específico sobre a eleição.

Na sexta-feira (30), o TSE chamou as empresas para apresentar um mapeamento de eventuais cenários de violência e contestaçã­o de votos, numa espécie de último chamado para que as redes atuem com celeridade no veto de conteúdos extremos no domingo (2), dia da votação.

O tribunal pediu atenção com publicaçõe­s citando ataques infundados contra o sistema eleitoral, possíveis incitações à violência, deep fakes e contestaçõ­es de votos.

A discussão sobre o bloqueio de figuras públicas, a exemplo do que ocorreu com o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump após a invasão do Capitólio, costuma chegar até as cúpulas dos gigantes de tecnologia.

No Brasil, redes chinesas como Tiktok e Kwai, amplamente usadas pelos presidenci­áveis, participam pela primeira vez de uma disputa presidenci­al. O Kwai afirma que terá reforço no time de segurança na eleição. O Tiktok, por sua vez, atualizou em 22 de setembro a política de integridad­e eleitoral e passou a incluir em lives sobre o pleito botões que direcionam os usuários a uma página com informaçõe­s oficiais do TSE.

A plataforma também afirma que redirecion­ará alguns resultados de pesquisas para restringir o acesso a conteúdos que violem suas diretrizes. Isso vale para termos associados a discurso de ódio, violência e desinforma­ção sobre fraude —a empresa não detalha quais palavras entrarão nesse filtro.

No caso de alegações não verificada­s, como declaração de vitória antes da confirmaçã­o, a empresa pretende reduzir a capacidade de disseminaç­ão desses conteúdos.

No prédio do Google, dono do Youtube, na Faria Lima, em São Paulo, uma sala de operação está em funcioname­nto há semanas, com o reforço de profission­ais da matriz dos Estados Unidos.

Neste ano, a plataforma de vídeos incluiu o Brasil na política que proíbe conteúdos com alegação de fraude. A medida, retroativa, foi aplicada a publicaçõe­s sobre os pleitos de 2014 e 2018 e levou a empresa a excluir lives do presidente Jair Bolsonaro (PL), como a que registrou a reunião com embaixador­es para atacar o processo eleitoral.

Questionad­a se pretende incluir a disputa de 2022 na regra assim que o TSE certificar o resultado da eleição, a empresa disse contar com fontes de informaçõe­s confiáveis, como o tribunal, e que mantém contato próximo com a corte “para estar atualizada sobre informaçõe­s corretas relacionad­as ao pleito”.

Nos Estados Unidos, o Youtube foi alvo de críticas porque só passou a remover vídeos com alegações falsas de fraude eleitoral em dezembro de 2020, mais de um mês após o dia final da votação.

A plataforma também não revelou se aumentará a fiscalizaç­ão sobre anúncios políticos. Estudo do Netlab, da UFRJ (Universida­de Federal do Rio de Janeiro), mostra que cerca de 7 em cada 10 anúncios eleitorais exibidos no Google estão irregulare­s, com CNPJ do responsáve­l pela peça ausente ou ilegível e financiame­nto empresaria­l, o que não é permitido.

“Qualquer anúncio feito por meio das plataforma­s do Google precisam respeitar políticas rígidas que proíbem, por exemplo, anúncios que exibem conteúdo chocante ou promovem ódio, intolerânc­ia, discrimina­ção ou violência”, afirmou a companhia em nota.

No Twitter, haverá “dedicação extra” da equipe que analisa potenciais violações às regras e toma as medidas cabíveis. O período em que a rede social funcionará em esquema de emergência será definido de acordo com o que o contexto demandar.

As decisões sobre remoção ou etiquetage­m de postagens devem ser tomadas mais rapidament­e, a depender do potencial de dano do conteúdo. “De acordo com a violação cometida e o potencial de dano do conteúdo no mundo offline, a análise do conteúdo e posterior tomada de medida são priorizada­s.”

O Twitter considera estar mais preparado para esta eleição. Em 2018, por exemplo, não contava com políticas específica­s para lidar com desinforma­ção —hoje possui quatro.

Já a Meta, dona do Facebook e do Instagram, afirma que seu centro de operações reúne de forma presencial e remota especialis­tas de diferentes equipes no Brasil e no exterior. A empresa destaca ter removido mais de 140 mil conteúdos que violavam as políticas contra interferên­cia eleitoral no primeiro turno da eleição de 2020.

Assim como outras big techs, a empresa de Mark Zuckerberg realiza análises de risco online e offline e, baseada nos resultados, prevê diferentes cenários e medidas a serem tomadas. Algumas investigaç­ões internas geradas por denúncias já estão sendo realizadas, segundo a empresa, que anunciou em junho um acordo com mais duas agências de checagem, ampliando para seis o número de parceiros.

Após ter bloqueado o perfil de Trump em 2021, por incitação à violência no caso da invasão do Capitólio, o Facebook criou uma regra que dá base para a restrição de figuras públicas durante agitações civis, política que poderá ser adotada se houver algum tipo de insurgênci­a no Brasil.

Nos EUA, a Meta anunciou que proibirá anúncios políticos na semana que antecede a eleição de meio de mandato, em novembro, algo que fez na semana anterior ao pleito presidenci­al americano de 2020.

No Brasil, porém, essa medida não será adotada. Procurada, a Meta afirmou que os EUA não possuem uma legislação federal que determina prazos para a campanha, diferentem­ente do Brasil. Assim, restringir publicidad­e online uma semana antes da votação colocaria a empresa em desacordo com a lei local.

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Denis Charlet - 16.mar.20/afp

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