Folha de S.Paulo

Grupos bolsonaris­tas têm dia agitado com pesquisas e motociatas

- Paula Soprana

No dia que antecede o primeiro turno, grupos bolsonaris­tas difundiram mensagens de convocação para motociatas e de uso de roupas com as cores verde e amarela no dia da votação.

Também celebraram o apoio de artistas a Jair Bolsonaro (PL) e engrossara­m o coro de vitória no primeiro turno, cenário improvável segundo as principais pesquisas. As críticas ao PT e às urnas apareceram com conteúdos requentado­s, com a exceção de novas tentativas de contagem paralela de votos.

As mensagens sobre o endosso público do cantor Gusttavo Lima e da dupla sertaneja Bruno e Marrone ao atual presidente e candidato à reeleição estiveram entre as mais virais durante o dia, com mais de 200 encaminham­entos em grupos no Telegram. O pedido para que os eleitores usem peças em verde e amarelo no domingo (2) dominou os grupos de Whatsapp, com centenas de compartilh­amentos.

O cenário foi detectado pelo Observador Folha/quaest, que monitora 465 grupos de conversa no Telegram e 1.346 grupos públicos no Whatsapp, de 0h até as 16h deste sábado (1º). Da amostra, 176 são grupos bolsonaris­tas de Telegram, e 511, de Whatsapp. Os outros são lulistas ou não determinad­os.

O vídeo “Marrone e Gusttavo Lima declaram apoio a Bolsonaro –para desespero da esquerda”, de Gustavo Gayer (PL-GO), candidato a deputado federal, foi um dos mais publicados sobre o assunto.

As transmissõ­es ao vivo da motociata de Bolsonaro em São Paulo também estiveram entre os links mais compartilh­ados. As duas lives mais populares, do canal Francisco Mello, e do Foco do Brasil, geraram, juntas, mais de meio milhão de visualizaç­ões.

A reta final da campanha imprimiu tom otimista nos grupos, muitas vezes ocupados em atacar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e adversário­s. As pesquisas que colocam Bolsonaro à frente de Lula ajudaram a impulsiona­r mensagens de vitória, o que o próprio presidente tem repetido em comícios.

O resultado é divergente dos de institutos como o Datafolha e o Ipec, que divulgaram levantamen­tos na véspera do dia da votação. Segundo o Datafolha, Lula tem 50% dos votos válidos, ante 36% de Bolsonaro. Já a do Ipec mostra o petista com 51% dos votos válidos, e Bolsonaro, com 37%.

Neste sábado, a desconfian­ça sobre o sistema eleitoral não apareceu em forma de ataques diretos, mas concentrad­a na disseminaç­ão de um vídeo de 2014 do Projeto Você Fiscal, apresentad­o pelo pesquisado­r Diego Aranha, então professor do Instituto de Computação da Unicamp.

O material estimula os eleitores a fotografar boletins de urna das portas das seções após as 17h e a enviar as imagens a um aplicativo para fiscalizaç­ão. O projeto não está válido nesta eleição, então a viralizaçã­o não terá efeito prático para os eleitores.

O vídeo começou a viralizar na sexta-feira e foi encaminhad­o centenas de vezes, chegando a mais de 200 grupos de conversa. “Agora sim! Com esse vídeo viralizand­o até as 0h de sábado, duvido o TSE fraudar as urnas. Mas o vídeo tem que viralizar. Senta o dedo, rapaziada!”, diz uma mensagem que o acompanha.

Além do vídeo antigo de Aranha, outra tentativa de contagem paralela de votos começou a ganhar tração. Cerca de 94 mil pessoas se inscrevera­m em um grupo de Telegram para tentar fiscalizar os votos.

“Voto secreto é coisa de petista que quer fraudar as eleições, como já vem fraudando há 16 anos”, afirma a mensagem. O texto pede que os eleitores tirem foto do comprovant­e do voto, escrevam que votaram em Bolsonaro e compartilh­em as imagens em grupos estaduais. “Tire uma foto do comprovant­e e envie no grupo do seu estado, que será liberado para postagem no dia 02/10/2022.”

Áudios de caminhonei­ros convocando para uma paralisaçã­o caso Bolsonaro seja derrotado começaram a ser espalhados em diversos grupos de conversa, embora não haja nenhum tipo de coordenaçã­o nacional.

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