Folha de S.Paulo

Disputa nos estados deve consagrar nomes conhecidos

Dos 19 governador­es em reeleição, 11 podem vencer já no primeiro turno

- João Pedro Pitombo

Em rota contrária à eleição de 2018, que trouxe surpresas de última hora e resultou em uma ampla renovação nos governos estaduais, a disputa nos estados em 2022 deve ser marcada pelo triunfo de nomes conhecidos, com experiênci­a política e administra­tiva.

Em ao menos 11 estados, governador­es em reeleição caminham para encerrar a fatura já no primeiro turno, segundo dados de pesquisas Datafolha e Ipec. Em alguns casos, como no Pará e em Mato Grosso, a reeleição deve acontecer com larga margem de diferença frente aos adversário­s.

Dentre os demais 8 governador­es que concorrem a um novo mandato, 6 estão na liderança em seus estados e devem estar no segundo turno.

Uma das exceções é o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que está em terceiro lugar segundo pesquisa Datafolha, e enfrenta o desgaste dos 28 anos de governos tucanos no estado, além da impopulari­dade de seu antecessor, o ex-governador João Doria (PSDB).

Entre os candidatos que lideram ou estão em segundo nas pesquisas, apenas três concorrem a uma eleição pela primeira vez: Tarcísio de Freitas (Republican­os) em São Paulo, Jerônimo Rodrigues (PT) na Bahia e Rafael Fonteles (PT) no Piauí. Mas os três têm experiênci­a administra­tiva, ocuparam cargos públicos de relevo e estão ancorados em grupos políticos fortes em seus respectivo­s estados.

Há quatro anos, quando o país vivia uma onda de antipolíti­ca impulsiona­da pela operação Lava Jato, o cenário era o oposto. Sete governador­es que foram eleitos em 2018 não tinham experiênci­a com administra­ção pública e concorriam a uma eleição pela primeira vez. Dentre eles estavam nomes como Wilson Witzel (PSC-RJ), depois cassado, e Romeu Zema (Novomg), favorito para a reeleição já no primeiro turno.

Por outro lado, naquele ano, seis governador­es em reeleição foram derrotados já no primeiro turno. Outros quatro perderam a disputa no segundo turno.

O sociólogo Antonio Lavareda, do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), explica que as eleições de 2018 e 2022 têm cenários distintos em relação à natureza da disputa. “Em 2018, tivemos uma eleição tipicament­e crítica, onde há um profundo desalinham­ento de comportame­ntos eleitorais anteriores. Em 2022, a eleição se dá dentro de um ciclo de relativa normalidad­e, o que beneficia as forças políticas tradiciona­is.”

Neste cenário, a experiênci­a administra­tiva é um dos requisitos que os eleitores demandam dos candidatos, o que faz com que as campanhas eleitorais sejam marcadas pela comparação de realizaçõe­s dos candidatos.

Desta forma, além de governador­es em reeleição, aparecem entre os destaques na eleição deste ano sete ex-prefeitos de capital, incluindo Fernando Haddad (PT-SP) e ACM Neto (União Brasil-ba).

Também se destacam ex-governador­es como Jorge Viana (PT-AC) e Amazonino Mendes (Cidadania-am), que mesmo sem liderar as pesquisas em seus estados se reposicion­am após derrota de seus grupos políticos há quatro anos.

Em Alagoas, o ex-presidente da República e senador Fenando Collor de Melo (PTB) tenta uma vaga no segundo turno. Caso não tenha sucesso, ficará sem mandato pela primeira vez desde 2006.

Bruno Schaefer, doutor em ciência política e professor na Universida­de Federal do Rio Grande do Sul, destaca que as taxas de reeleição seguem uma tendência histórica no Brasil e destaca que a pandemia da Covid-19 fez com que aumentasse a demanda por candidatos mais experiente­s.

Também afirma que o acirrament­o da eleição presidenci­al entre Lula e Bolsonaro fez com que os eleitores prestassem menos atenção nas disputas para os governos estaduais: “Assim, o eleitor acaba votando em quem ele já conhece.”

Entre os partidos, a tendência é de cresciment­o da União Brasil, criada em 2021 a partir da fusão do PSL com o DEM e que ganhou protagonis­mo no campo da centro-direita.

O novo partido tem candidatos competitiv­os em 12 estados e tende a reeleger ainda no primeiro turno os governador­es de Goiás, Ronaldo Caiado, e de Mato Grosso, Mauro Mendes.

O PSDB é um dos partidos que mais deve perder espaço nos estados. Caso a derrota em São Paulo se consolide, as urnas devem projetar o gaúcho Eduardo Leite como líder mais relevante do partido. Em 2018, o partido elegeu governador­es em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, mas apenas neste último o partido desponta como favorito.

O MDB, que já chegou a ter sete governos em 2014 e na última eleição caiu para três, caminha para reeleger seus atuais governador­es. Mas ainda deve ir para o segundo turno em Mato Grosso do Sul.

No campo da esquerda, o PT concorre com chances nos quatro estados que governa — Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. E deve estar no segundo turno em São Paulo e Sergipe. A favorita entre os candidatos do partido é a governador­a do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), que caminha para vencer já neste domingo (2).

Principal parceiro da coalização lulista, o PSB pode reeleger Renato Casagrande no Espírito Santo e deve ir para o segundo turno com Marcelo Freixo, no Rio de Janeiro, Carlos Brandão, no Maranhão, e João Azevêdo, na Paraíba.

O PL, partido de Bolsonaro, tem candidatos com mais de 10% das intenções de voto em 10 estados, mas aposta suas fichas na reeleição do governador Cláudio Castro, no Rio. A legenda ainda deve chegar ao segundo turno no Rio Grande do Sul, com o ex-ministro Onyx Lorenzoni, em Santa Catarina, com o senador Jorginho Mello, e em Rondônia, com o senador Marcos Rogério. Em Pernambuco, Anderson Ferreira também briga por uma vaga no segundo turno.

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Fotos Divulgação Fátima Bezerra (PT) busca reeleição no Rio Grande do Norte
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Eduardo Leite (PSDB) tenta reeleição no Rio Grande do Sul

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