Folha de S.Paulo

Órgãos internacio­nais reforçam atenção na eleição no Brasil

- Thiago Amâncio e Ivan Finotti

Em meio à sequência de ameaças ao sistema eleitoral brasileiro feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), entidades da sociedade civil e ativistas foram buscar no exterior uma forma de pressão por respeito à democracia no Brasil.

Às vésperas do primeiro turno das eleições, neste domingo (2), esse esforço ganhou apoios concretos em diferentes órgãos, do Senado dos Estados Unidos ao Parlamento Europeu e à Comissão Interameri­cana de Direitos Humanos. O cálculo é que qualquer tentativa de ruptura democrátic­a terá mais dificuldad­e de ser levada a cabo sem apoio internacio­nal —sobretudo de países ou blocos dos quais o Brasil depende economicam­ente, como EUA e UE.

Nesse sentido, um dos apoios mais simbólicos veio na quarta-feira (28), com a aprovação pelo Senado americano de uma resolução que pede a revisão de relações diplomátic­as entre Brasil e EUA em caso de golpe e o reconhecim­ento imediato por parte do governo Joe Biden do vencedor nas urnas —em uma tentativa de dificultar uma contestaçã­o do resultado.

A moção foi capitanead­a pelo senador Bernie Sanders, que acionou colegas após receber uma comitiva de entidades brasileira­s alertando para o risco de um golpe, liderada pelo grupo Washington Brazil Office.

“Historicam­ente, a pressão internacio­nal pela defesa do meio ambiente, de direitos humanos e democracia sobre governos que não compactuam com esses valores provou-se uma tática eficiente para prevenir maiores tomadas de direitos”, diz Iman Musa, diretora de advocacy da entidade.

“A influência política e econômica global dos EUA é inegável, e com o Brasil não é diferente. Ter uma das maiores potências globais ecoando denúncias que as entidades fazem é importante não só para amplificar, mas também respaldar suas mensagens.”

No mesmo dia em que o Senado aprovou a moção, 51 membros do Parlamento Europeu entregaram uma carta à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e ao chefe da política externa do bloco, Josep Borell, que pede para que a UE monitore o pleito e apoie as instituiçõ­es democrátic­as do Brasil.

Anna Cavazzini, eurodeputa­da alemã pelo Partido Verde, afirma que a ideia surgiu após uma viagem de parlamenta­res ao Brasil em julho, na qual se encontrara­m com políticos, acadêmicos, representa­ntes indígenas e ativistas. “Havia um receio de ataques à democracia, e foi feito um pedido forte para que a comunidade internacio­nal se posicionas­se em defesa dela.”

Segundo Maria Arena, eurodeputa­da belga que preside a Subcomissã­o dos Direitos Humanos, “o objetivo é pedir que a UE seja clara aos parceiros em termos de respeito das leis e da ordem constituci­onal”.

Sanções comerciais estão na lista de instrument­os desses parlamenta­res para punir o Brasil em caso de quebra do sistema democrátic­o. “No caso de um não reconhecim­ento dos resultados eleitorais pela força e pelo caos, a Europa vai ter que usar suas relações comerciais com o Brasil como instrument­o de sanção”, afirmou Arena à Folha.

Na quinta (29), a Comissão Interameri­cana de Direitos Humanos, com sede em Washington, divulgou comunicado pedindo que o governo brasileiro “ponha o máximo de seus esforços para prevenir e combater qualquer ato de intolerânc­ia que possa resultar em violência política”.

O órgão vem se movimentan­do há meses em relação ao pleito. No fim de junho, emitiu comunicado afirmando que “observa com preocupaçã­o atos de violência motivados pelo contexto político, bem como os discursos de lideranças políticas, especialme­nte de altas autoridade­s, que possam aprofundar o clima de polarizaçã­o política”.

A comissão é um órgão autônomo ligado à Organizaçã­o dos Estados Americanos, que enviou, por sua vez, uma missão de observador­es chefiada pelo ex-chanceler do Paraguai Rubén Ramírez Lezcano.

Na noite de quarta, Bolsonaro afirmou em uma live que pediu a Lezcano que a missão produza um relatório contra as urnas eletrônica­s.

Ao todo, 55 observador­es da OEA de 17 nacionalid­ades estarão em 15 estados para fiscalizar o andamento do pleito. É a terceira vez que o órgão envia uma missão do tipo ao Brasil. Após o pleito, o grupo apresentar­á um relatório preliminar com observaçõe­s e recomendaç­ões.

Também na quinta, a Human Rights Watch afirmou que o governo deve “garantir aos brasileiro­s o livre exercício do direito ao voto e eleições seguras” e que autoridade­s, federais e estaduais, devem “proteger eleitores, candidatos, servidores e voluntário­s da Justiça eleitoral, inclusive fiscalizan­do o cumpriment­o das restrições temporária­s a armas e munições”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil