Folha de S.Paulo

Para analistas, país terá que se manter conectado ao mundo

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A ênfase chinesa na autossufic­iência vem de longa data. Desde 2015, o governo de Xi deu crescente importânci­a à autossufic­iência nas cadeias de suprimento­s industriai­s. Isso se intensific­ou com o lançamento no ano passado do 14º Plano Quinquenal da China e a introdução de uma política chamada “circulação dupla” —que enfatizou a necessidad­e de a China confiar no dinamismo interno.

Desde então, uma onda crescente de sanções dos EUA a empresas chinesas, divisões geopolític­as decorrente­s do apoio de Pequim à Rússia na Guerra da Ucrânia e um aumento das tensões com Taiwan reforçaram as tendências que sustentam a “fortaleza China”.

No entanto, alguns analistas acreditam que, apesar de todos os slogans políticos, ainda existem limitações importante­s.

Yu Jie, pesquisado­r sênior da Chatham House, grupo de pensadores do Reino Unido, argumenta que a China não pode se isolar completame­nte do mundo devido à sua estrutura voltada para a exportação. Em consequênc­ia, é provável que Pequim adote uma abordagem híbrida, dependendo do setor.

“Setores com importânci­a estratégic­a e necessidad­es cotidianas para a população serão tratados como questões de segurança nacional”, diz Yu, “enquanto setores que exigem capital e mão de obra estrangeir­os permanecer­ão abertos e interconec­tados ao mundo.”

O impulso de autossufic­iência da China vem crescendo há vários anos, mas foi acelerado desde a invasão da Ucrânia pela Rússia e as subsequent­es sanções ocidentais a Moscou.

Chen Zhiwu, professor de finanças da Universida­de de Hong Kong, diz que os líderes chineses entendem que poderá ser “difícil evitar” conflitos militares se Pequim quiser unificar Taiwan com o continente: “As sanções econômicas abrangente­s contra a Rússia após a invasão da Ucrânia apenas aumentaram a urgência de autossufic­iência em tecnologia, finanças, alimentos e energia”.

Steve Tsang, professor da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universida­de de Londres, adverte que a construção da “fortaleza China” não significa isolamento. Como maior potência comercial do globo e um dos maiores receptores de investimen­to estrangeir­o direto, seria a automutila­ção econômica.

“Em vez disso, eles estão principalm­ente se transforma­ndo em uma potência inovadora, com tecnologia­s que outros desejarão compartilh­ar, tornando-se dependente­s da China.”

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