São Paulo volta a se frustrar em decisão com Rogério Ceni no banco
Equipe tricolor é derrotada pelo Independiente Del Valle e fica com vice da Copa Sul-americana
O goleiro Rogério Ceni tem lugar de —enorme— destaque na história do São Paulo. O treinador Rogério Ceni, ainda não.
Dez anos depois de ter conquistado seu último título com a camisa 01 tricolor, o da Copa Sul-americana de 2012, ele tentou repetir o triunfo à beira do gramado. Dali viu seus jogadores perderem por 2 a 0 para o equatoriano Independiente del Valle, gols de Lautaro Díaz e Faravelli.
A derrota no estádio Mario Alberto Kempes, em Córdoba, na Argentina, palco da final continental em jogo único, foi o segundo fracasso do time do Morumbi em uma disputa de troféu neste ano. Em abril, na decisão do Campeonato Paulista, a equipe abriu três gols de vantagem no duelo de ida e o venceu por 3 a 1, mas perdeu por 4 a 0 para o Palmeiras a partida de volta, na casa do rival.
Ceni, assim, continua sem taças no currículo como treinador do São Paulo. Campeão de quase tudo como atleta do clube por mais de duas décadas —foram dez troféus apenas em disputas internacionais—, ele iniciou sua nova carreira no próprio Morumbi, em 2017, porém só experimentou a glória como comandante à frente do Fortaleza e do Flamengo.
Ainda falta vencer na direção do time em que cresceu, naquele em que construiu toda a sua prolífica carreira de goleiro. Falta também reconstruir completamente os laços com aqueles que o idolatraram por décadas, uma relação estremecida especialmente em sua passagem pelo Rio de Janeiro.
Contratado pelo Flamengo no fim de 2020, o paranaense elogiou os torcedores rubronegros, dizendo que eles estabelecem “uma atmosfera diferente”. Parte dos tricolores se ressentiu ainda do fato de Rogério ter aceitado a oferta em um momento no qual a queda de Fernando Diniz parecia questão de tempo no Morumbi. Para esses torcedores, o velho herói se viu diante duas opções e escolheu a agremiação carioca —que tinha um elenco bem mais qualificado.
Por isso, no ano passado, quando a diretoria são-paulina anunciou o retorno do exgoleiro, bastante gente torceu o nariz. Principal organizada do São Paulo, a Independente publicou manifesto fazendo uma distinção clara.
“Rogério Ceni como ex-jogador é um ídolo incontestável. Como técnico era a última opção!”, dizia o texto da uniformizada, que apontava :“Ídoloéo torcedor ”. E carregava um tom de ameaça: “Se não vencer os gambá segunda...”.
A equipe derrotou o arquirrival Corinthians naquela segunda-feira. O velho herói foi, pouco apouco, minando a resistência. E esteve per toda paz no Campeonato Paulista, expectativa frustrada em uma goleada do Palmeiras na final.
A sequência da temporada teve bons e maus momentos, com o clube em claras dificuldades financeiras. O aproveitamento no Campeonato Brasileiro não é considerado satisfatório —44%, suficiente apenas para a 12ª colocação ao fim de 28 rodadas–, e a trajetória até a decisão da Sul-americana foi acidentada.
Líder de um grupo frágil, o São Paulo teve facilidade também nas oitavas de final, marcando oito gols em dois jogos contra a chilena Universidad Católica. Daí em diante, foi necessário trilhar um caminho árduo diante de equipes menores do Brasil.
Nas quartas de final, após vitória por 1 a 0 no Morumbi, o tim elevou 2 a 1 do Ceará, em Fortaleza, e sobreviveu nos pênaltis. Também foi nos tiros da marca penal que se decidiu o confronto semifinal como atlético Goianiense, com triunfo dos donos da casa em Goiânia (3 a 1) e em São Paulo (2 a 0).
“É algo que não estava no nosso radar”, disse nesta semana à Folha o presidente tricolor, Julio Casares, referindo-se à possibilidade de brigar por um título em 2022. “Fazemos um trabalho de reconstrução. Queremos ter um time competitivo, mas não tínhamos uma visão de campeão.”
De acordo com o dirigente, a dívida da agremiação do Morumbi é atualmente de R$ 695 milhões e está “equilibrada”. Ele afirmou ter reduzido o número em 5% desde que assumiu a presidência, em janeiro de 2021, e acredita em “um 2023 melhor”.
Neste ano, foi como deu, e a equipe não encheu os olhos. A zona de rebaixamento esteve perto no Nacional por pontos corridos, a caminhada na Copa do Brasil se encerrou nas semifinais, e Ceni chegou a dizer que poderia sair em caso de derrota na decisão da Sulamericana, abrindo mão da multa rescisória de seu contrato, que vai até o fim de 2023.
Casares assegurou que essa possibilidade não existe, mesmo como fracas soem Córdoba. segundo o dirigente, o planejamento da próxima temporada está sendo realizado em parceria como técnico de 49 anos. Que ficou perto, mas ainda não pôde repetir sem luva soque fez tantas vezes com elas: levantar uma taça pelo São Paulo.
Na disputa decisiva, o time encarou o Del Valle, que levou a competição em 2019 e manteve um padrão de posse de bola mesmo após a saída do técnico espanhol Miguel Ángel Ramírez. A formação equatoriana hoje é dirigida pelo argentino Martín Anselmi e avançou à final derrubando rivais com autoridade.
Na Argentina, o time de Anselmi teve um começo de jogo muito superior ao do adversário e abriu o placar aos 13 minutos, após corte malfeito de Diego Costa. Lautaro Díaz recebeu o passe de Favarelli, chutou de pé direito e superou o goleiro Felipe Alves.
O São Paulo tentou reagir e teve chances com Calleri. Mas foram os equatorianos que conseguiram balançar a rede de novo, matando o jogo.
Aos 22 minutos da etapa final, o ex-corintiano Sornoza recebeu lançamento longo. Achou passe inteligente para Lautaro Díaz, também inteligente no toque para Faravelli, que tocou na saída de Felipe Alves. Ceni tentou alternativas, mas o triunfo do Del Valle não foi ameaçado.
Nervosos, Calleri e Diego Costa, em péssima jornada, ainda foram expulsos.