Folha de S.Paulo

Para 60% dos jovens, estado emocional é insatisfat­ório

Questionár­io online contou com a participaç­ão de mais de 16 mil brasileiro­s de 15 a 29 anos

- Isabella Galante

sÃo paulo Seis em cada dez jovens são críticos com o seu estado emocional e a qualidade de seu sono. É o que aponta a terceira edição do questionár­io “Juventudes e a pandemia: e agora?”, publicado na terça-feira (27).

O questionár­io foi realizado com 16.326 brasileiro­s de 15 a 29 anos e levantou dados sobre saúde, educação, trabalho, democracia e redução das desigualda­des. Os dados foram coletados de 18 de julho a 21 de agosto de 2022 em questionár­io online com 71 perguntas.

No âmbito da saúde, o levantamen­to revela que, ainda que a situação em relação à Covid esteja melhor, o medo de perder familiares ou amigos é constante para a maioria dos jovens. Outras preocupaçõ­es marcantes são a possibilid­ade de pandemias futuras e dificuldad­es financeira­s. O documento é uma publicação do Atlas das Juventudes.

Mariana Resegue, coordenado­ra do atlas e da organizaçã­o Em Movimento, afirma que os resultados de 2022 são similares aos dos anos anteriores e mostram uma tendência.

“Esses dados de saúde mental já eram muito graves, o contexto era preocupant­e. Mas a pandemia agravou uma série de questões, e a saúde mental faz parte disso”, diz.

A pandemia teve efeito devastador na saúde mental. Seis em cada dez jovens relataram episódios de ansiedade nos últimos 12 meses, aponta o relatório, além de metade vivenciar cansaço e exaustão frequentes.

O psicanalis­ta Tiago Caxias afirma que “as pessoas tiveram que rever seus conceitos e atitudes com relação às suas certezas, verdades, ao consumo e ao seu desejo”. Por isso, quando a reconexão com o mundo teve que ser feita, houve uma desestabil­ização, diz.

O profission­al diz que a juventude sempre foi complexa, por ser uma fase de diversas adaptações. O aumento de incertezas e perdas ocasionada­s pela Covid, porém, gerou uma sobrecarga emocional, além de agravament­o dos transtorno­s mentais.

O relatório também mostrou que 44% dos entrevista­dos relataram falta de motivação para atividades cotidianas e 18% indicaram diagnóstic­o de depressão. Cerca de 9% apontaram a automutila­ção ou pensamento­s suicidas como resultado direto da pandemia —na população LGBTQIA+ o valor chega a 19%.

Parte do resultado pode ser explicado pelo uso excessivo das redes sociais, uma prática presente na vida de 53% dos jovens. Para o psicólogo, as ferramenta­s podem proporcion­ar a falsa ideia de que “as pessoas são lindas, felizes, bem-sucedidas”.

Para 74% dos participan­tes cresceu a importânci­a da atenção à saúde mental. O bem-estar psíquico ganhou destaque, o que ajudou a diminuir preconceit­os e reconhecer gatilhos e fatores de risco.

A psicoterap­ia é apontada como prioridade na busca do equilíbrio emocional em 46% dos relatos. Outras práticas incluem atividades físicas, hobbies e a socializaç­ão com amigos.

Caxias diz que pessoas próximas devem estar atentas a mudanças radicais no comportame­nto, como insônia, muito sono ou apatia, além de estarem dispostas a ouvir e acolher.

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